quarta-feira, fevereiro 06, 2013

Por segurança, investigados por incêndio em Santa Maria (RS) recebem comida diferente em presídio


Os quatro presos pelo incêndio deixou 238 mortos e mais de cem feridos na boate Kiss, em Santa Maria (301 km de Porto Alegre), no último dia 27, estão recebendo alimentação diferenciada no presídio estadual localizado na cidade. O motivo, segundo a Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários), é o suposto risco de retaliações que eles correriam se alimentando da merenda produzida pelos próprios presos do local.

Destinada a presos provisórios e condenados, a unidade prisional abriga os quatro personagens centrais do caso que repercutiu em todo o Brasil e no exterior. Além do empresário Mauro Hoffmann, sócio da boate, do produtor musical Luciano Bonilha Leitão e do músico Marcelo dos Santos --ambos, da banda Gurizada Fandangueira--, o presídio recebeu ontem à noite também o empresário Elissandro Spohr, até então internado em um hospital de Cruz Alta.

Em entrevista ao UOL nesta terça-feira (6), o advogado do músico, Omar Obregon, relatou ter encaminhado à Corregedoria da Susepe o suposto beneficiamento de Hoffmann quanto à alimentação. Segundo o advogado, "há informações dentro do presídio" de que os investigados pelo incêndio estariam sendo ameaçados.

Procurada, a Susepe ofereceu duas versões: a primeira, que confirmava que o empresário está se alimentando da mesma refeição servida aos funcionários da unidade, por "correr risco de homicídio", e a segunda, que justificou a diferença de tratamento também aos demais presos "por questão preventiva de segurança" e extensiva ao vocalista e ao produtor da banda.

De acordo com a assessoria da Susepe, os presos estão em celas separadas e em uma ala de isolamento do presídio, cuja capacidade é para até 766 detentos, mas que opera hoje com 531. É uma das mais novas do Estado --que conta com 98 unidades prisionais; a maioria, cerca de 60%, presos com separação entre condenados e provisórios.

"Tínhamos a informação de que o Mauro estava recebendo um tratamento privilegiado, com comida servida apenas aos agentes, ao passo que o Luciano e o Marcelo sofriam ameaças de envenenamento. Levei isso ao corregedor da Susepe, e, se alguma coisa mudou desde o dia 28 [quando os presos foram levados à unidade], foi dessa segunda [4] para cá", declarou o advogado do vocalista.

Nem a Susepe, em sua primeira versão sobre a comida servida, nem o advogado do vocalista, uma vez indagados a respeito, responderam se as supostas ameaças contra a vida dos presos havia partido de funcionários do presídio ou de outros detentos.

Advogados de empresários dizem desconhecer medida
O advogado de Spohr, Jader Marques, disse ao UOL nesta quarta-feira (6) que desconhece qualquer diferença de tratamento ao cliente em função de segurança. Ele pediu ao juízo da 1ª Vara Criminal de Santa Maria que Spohr fosse transferido do hospital a uma unidade prisional de Ijuí ou de Cruz Alta, mas não foi atendido --segundo a justiça, isso poderia configurar "inegável privilégio" em relação aos outros presos.

"O Elissandro ficará de acordo com o que for determinado pela justiça; se determinarem que ele ficará sozinho na cela, ficará", afirmou Marques. Ele conseguiu da 1ª Vara, no entanto, que o cliente tenha mantido o tratamento com a equipe médica e psiquiátrica de Cruz Alta.

O advogado de Hoffmann, Mário Cipriani, também afirmou que não sabia de alimentação diferenciada dos demais presos da unidade concedida ao empresário.

"Sei apenas que ele está em cela separada, mas desconheço esse critério da alimentação, ele não comentou nada também comigo", resumiu.

Liberdade negada
Os quatro investigados tiveram negada a revogação da prisão temporária hoje. Na última sexta, a Justiça estendeu por mais 30 dias a prisão, a pedido da Polícia Civil e com parecer favorável do Ministério Público, sob alegação de que as diligências do inquérito ainda não se encerraram.

Na decisão de hoje, por exemplo, o juiz da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, Ulysses Fonseca Louzada, citou que ainda podem ser feitas reconvocações para depoimentos e até mesmo novas testemunhas serem ouvidas, além de acareações.

"A concessão de liberdade aos representados, no presente momento, poderia comprometer o êxito das investigações, em razão da influência destes junto a demais testemunhas", aponta trecho da decisão.

Reprodução Cidade News Itaú

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