quarta-feira, junho 19, 2013

Felipão age como gerente, controla crises e protege equipe de ataques

Felipão orienta jogadores em treino da seleção em Fortaleza; técnico tem dominado o cenário da seleçãoPrincipal figura da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari tem usado todo seu traquejo para gerenciar o ambiente do time durante a Copa das Confederações. Como um mestre de cerimônias, o treinador se mostra à vontade em entrevistas coletivas, discursa com precisão e aparece com destaque no noticiário da TV Globo. Com tudo isso ele consegue, ao menos por enquanto, manter a seleção afastada de possíveis ataques.

O processo se arrasta desde o início da preparação para a Copa das Confederações e tem muito a ver com a ausência de um diretor na CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Com o presidente José Maria Marin às voltas com problemas políticos e a proximidade da eleição, quem chega mais perto da função é Carlos Alberto Parreira, coordenador-técnico da seleção e parceiro do treinador principal na comissão técnica.

Passou pelos dois a discussão sobre a liberação de Luiz Gustavo e Dante por parte do Bayern de Munique. Foram eles também que fizeram questão de manter a seleção sem oba-oba na passagem por Goiânia, quando havia uma pressão popular para que o time treinasse de portões abertos.

A questão voltou à tona nesta semana, quando uma multidão cercou o estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, para tentar assistir ao treino da seleção. A polícia diz que teve de convencer a comissão a liberar a entrada de 5 mil fanáticos, enquanto a CBF alega que a decisão de abrir os portões foi de Felipão e sua comissão. Independentemente de quem tem a razão, o fato é que, mais uma vez, o técnico está no centro de um acontecimento relevante para a seleção, com o poder de decisão nas mãos. 

Felipão, especificamente, tomou cuidado ao tratar da transferência de Neymar e cobriu seu melhor jogador de elogios em um momento delicado de sua carreira. Além disso, teve o cuidado de liberá-lo para uma apresentação festiva no Barcelona por entender que isso faria bem ao jogador.

"Quando tomou essa decisão, definiu a vida dele. Agora vai lá, faz o que tiver de fazer e volta para a seleção, para só pensar na seleção. A gente precisa dar a ele a oportunidade para que ele se libere de tudo. Acho que ele pensa dessa forma, pelo menos vem agindo assim", disse Felipão, em tom bastante compreensivo, ao liberar o jogador.

A postura protetora se estendeu aos demais atletas. Quando precisou, o técnico também defendeu sua equipe de críticas e vaias, sem entrar em confronto com a torcida. Antes da estreia, por exemplo, ele chegou a interromper a pergunta de um jornalista em uma entrevista coletiva para dizer que a seleção é respeitada, apesar dos resultados medianos.

"Não temos respeito aqui dentro do Brasil. Todos que vêm respeitam a seleção. Não temos respeito aqui dentro do Brasil. Passamos a ideia de que é um timezinho ruim", disse o treinador, subindo o tom em defesa de seus pupilos.

O comportamento de Felipão com a imprensa, aliás, é um caso à parte. O técnico tem evitado a imagem de mal-humorado que por vezes o acompanhou. Em treinos e entrevistas é comum vê-lo fazendo piadas com os repórteres. Broncas só em momentos de aperto, como quando um radialista perguntou se ele teria tido medo de ganhar da Inglaterra, em partida disputada no Maracanã a duas semanas da estreia.

"Esqueci o direito de tentar a virada. Eu jogo para não perder", disse o técnico, irônico.

Seu controle dos momentos com a mídia foi tão grande que na última terça, por exemplo, ele aproveitou uma brecha no fim da coletiva para saudar os jornalistas mexicanos. "É uma alegria para mim voltar a conviver com vocês do México, porque o jogo entre Portugal e México, em Gelsenkirchen, foi um jogo espetacular, com um ambiente maravilhoso entre as duas torcidas", disse o treinador, relembrando uma partida da Copa do Mundo de 2006.

O passo adiante nesse processo foi começar a dar entrevistas exclusivas. Até agora, o treinador só falou com programas da Globo ou do Sportv, e com isso conseguiu reforçar uma imagem positiva. Foram uma entrevista ao Esporte Espetacular no dia do amistoso contra a França, uma participação ao vivo do Jornal Nacional após a vitória contra o Japão e uma ida ao Bem, Amigos na última segunda.

Em todas essas aparições, Felipão pôde mostrar sua ascendência sobre o grupo e passar confiança quanto ao desempenho da seleção. Por vezes, foi até agraciado com um ou outro elogio da emissora que detém os direitos de transmissão. Cenário bem distinto daquele vivido pela Globo em 2010, quando Dunga vivia às turras com o canal e era bastante criticado por isso.

Agora, a grande questão para Felipão parece ser o impacto dos movimentos espalhados pelo país sobre a seleção. O técnico não quer que a equipe seja envolvida na discussão política, e tem se esforçado para atingir seu objetivo. No último sábado, ele se calou depois das vaias à presidente Dilma Rousseff no estádio Mané Garrincha.

Os dias se passaram, o movimento atingiu seu ápice na última segunda e os jogadores se posicionaram favoráveis ao levante. Felipão teve de quebrar o silêncio também, mas o fez ressaltando a postura imparcial da seleção brasileira na questão.

"Meus jogadores têm total liberdade para que possam opinar sobre qualquer assunto, desde que cada um assuma a responsabilidade. Nós não proibimos nada, mas tem algumas situações que são do interesse do selecionador e param por aí", disse Felipão, que reforçou a ideia de que a equipe nada tem a ver com as discussões que fizeram o povo ir às ruas.

"A seleção é do povo. Nós somos o povo. Acho que nós estamos dando ao povo aquilo que eles mais querem da seleção, que a seleção vá crescendo, possa empolgar e realmente representar o Brasil na área futebolística. Esse é o nosso trabalho e é isso que estamos fazendo. Em outras áreas não temos interferência nenhuma", disse ele.

Reprodução Cidade News Itaú

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