terça-feira, julho 08, 2014

Familiares de mortos em BH lamentam tragédia abafada por lesão de Neymar

Viaduto que desabou na capital mineira deixou dois mortosA Copa do Mundo já acabou em Belo Horizonte. E não há nada que mude essa ideia na cabeça de pelo menos duas famílias na capital
mineira. Ainda que estejam diante da semifinal histórica entre Brasil e Alemanha nesta terça-feira, no Mineirão, os parentes de Hanna Cristina dos Santos e Charlys do Nascimento não têm motivos para qualquer festejo.

A mulher de 25 anos e o homem de 24 foram as duas vítimas fatais do desabamento de um viaduto em construção na última quinta-feira, na região de Venda Nova.

E não é apenas a morte que incomoda aqueles que ficaram órfãos da tragédia. O esquecimento do poder público e até de parte da mídia menos de uma semana após o desastre tira o sono das famílias de ambos.

"Não quero dinheiro, sei que ela não volta mais, mas queria um apoio. Não queria que ignorassem isso. A família não merece isso", disse Enderson Eliziano, o ex-marido da motorista do ônibus que passava embaixo do viaduto na hora do desabamento.

Ele ainda lamentou que a lesão sofrida por Neymar na partida contra a Colômbia, um dia após a tragédia, tenha abafado a repercussão do caso.

"Só se fala de Neymar, Neymar, Neymar. É complicado que lembrem da nossa dor. E estamos falando de algo muito sério. Sei que a seleção e os jogadores não têm qualquer culpa, mas isso não pode ser esquecido. Ocorreu uma tragédia e praticamente não falam. Infelizmente, a Copa ofusca. Antes [da lesão do Neymar], só falavam disso. Agora simplesmente ignoram. Nada contra os jogadores e o evento em si, mas não pode cair no esquecimento. Só a Copa dá ibope, isso me chateia muito".

Em uma semana onde até a presidente Dilma Rouseff e o mandatário de Fifa, Joseph Blatter, se pronunciaram sobre a lesão de Neymar, as mortes no viaduto pareceram secundárias.

"Estamos falando de duas vidas. Nenhuma autoridade me ligou ou se posicionou sobre isso. Queríamos um apoio moral e não tivemos. E nem sei se teremos. Se tivesse a mesma atenção com o viaduto que tiveram com o Neymar, nada disso aconteceria. Hoje, o problema do Brasil é o Neymar. Não pode ser apenas isso", encerrou o marido da motorista que deixou uma filha pequena, de apenas 5 anos.

Mesmo com toda a paixão de ambos pelo futebol, a tragédia da última semana fez a Copa do Mundo perder o significado para os familiares e passar a ser vista apenas como sinônimo de tristeza.

"Não temos o que comemorar ou criar qualquer expectativa pelo jogo. A Copa agora nos lembra a tragédia. Não tem como não associar uma coisa à outra. Se não tivesse Copa, essa tragédia não teria ocorrido. Esse é o meu sentimento. A correria ocorreu por conta disso, queriam o viaduto pronto o quanto antes. Uma obra desse tamanho cair é inaceitável, algo primário", desabafou ele, relembrando que a obra era parte da matriz de responsabilidade para o Mundial. E atrasada, só ficaria pronta em 2015.

O mesmo sentimento de desolação se faz presente nas palavras de Juarez Moreira de Melo, pai de Charlys do Nascimento, outra vítima fatal na tragédia. Ee estava no Fiat Uno que ficou totalmente destruído debaixo dos escombros.

"A Copa para mim acabou. E olha que representava muito. Mas agora não é mais nada. Não tem o que comemorar. Enquanto a seleção jogava [contra a Colômbia], eu enterrava meu filho. E vocêquer dor maior que essa?".

Torcedor do Atlético-MG, Charlys era fã de futebol e estava empolgado com a campanha da seleção brasileira na Copa do Mundo. Tanto que no dia da tragédia ia ao Centro da cidade para comprar adereços para comemorar a vitória da seleção contra a Colômbia.

O Brasil venceu e se classificou para a final, mas Charlys morreu um dia antes. "Ele queria curtir o jogo, mas não deu tempo", contou o pai, emocionado.

De casa, Enderson, Juarez e tantos outros parentes não querem saber como ficará o time de Felipão sem Neymar. E nem se eles conseguirão fazer história em Belo Horizonte. Ambos só pedem que a trajetória interrompida de Hanna e Charlys não vire apenas um detalhe no futuro, quando todos contarem como foi a Copa do Mundo de 2014 – um torneio que, mesmo sem títulos, já estará marcado para eles. E da pior maneira possível.

Reprodução Cidade News Itaú via Uol

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