quarta-feira, março 22, 2017

Presidente da ADPF vê 'erro de comunicação' da PF na Carne Fraca


O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, afirmou que a Polícia Federal pode ter cometido um "erro de comunicação" na divulgação da Operação Carne Fraca, deflagrada na sexta-feira (17) e que gerou repercussão nos mercados internacionais.
Em conversa com jornalistas durante abertura do VII Congresso Nacional dos Delegados de Polícia Federal, que vai até quinta-feira (23) no Costão do Santinho, em Florianópolis, Sobral afirmou que a forma como a operação foi divulgada pode ter dado a entender que ela foi maior do que pode ter sido.
"Acho que houve um equívoco de comunicação, lá da comunicação, quando afirma que foi a maior operação da Polícia Federal sem explicar que é a maior quantidade de mandados, mas não valores investigados, importância, relevância social, talvez dando a entender que ela foi maior do que realmente pode ter sido", afirmou o presidente da ADPF.
Na sexta, a PF informou que a Carne Fraca é a maior operação já realizada pela corporação. Foram 1,1 mil policiais cumprindo 309 mandados – 27 de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão. As ordens judiciais foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e cumpridas em São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Dimensão
Para Sobral, não é possível afirmar que o problema é "sistêmico", ou seja, generalizado pelo país. "Evidentemente, havia corrupção praticada por fiscais? Havia. (...) Pode ter problemas em alguns frigoríficos? Pode. Mas isso foi um problema sistêmico? Não vi os colegas da operação dizendo isso. Mas quando se coloca que foi a maior em operação da história da polícia leva ao entendimento de que é algo muito maior do que pode ser na prática", disse.
"Então acho que nesse ponto em particular pode ter sido um erro de comunicação. Não que a operação não devesse ocorrer. Devia e ocorreu. Fiscais foram investigados, frigoríficos investigados? Estão. Há uma crise sistêmica? Pelo menos do que foi divulgado na operação, ninguém afirmou nesse sentido", continuou Sobral.
Para o presidente da ADPF, é difícil o equilíbrio entre direitos. "Temos sempre os dois direitos, o direito de a sociedade ter informação e o direito do sigilo das investigações. Direitos que a gente tem que compatibilizar. (...) É complicado levar uma investigação em ofender os direitos dos investigados. É o fio da navalha. O que vemos foi a divulgação da operação informando que houve prisões e que alguns frigoríficos estavam sendo realmente objetos da operação. Ao ser divulgado, quando a mídia repercutiu, aliado ao fato de que a comunicação informou que era a maior operação da história, gerou entender que, se é maior operação da história, há uma crise sistêmica e isso foi o estopim que, enfim, passou a mensagem, pra quem acompanhou à distância, de que havia uma crise sistêmica".
Repercussão negativa
Sobre a possibilidade de reverter a repercussão negativa que a notícia trouxe ao setor, Sobral acredita que isso é possível. "Sempre é possível recuperar e explicar. Se for uma crise sistêmica, vamos divulgar como crise sistêmica. Pra mim houve o erro de colocar que foi a maior da história".
"Você dizer que a maior operação da história da Polícia Federal envolve uma série de variáveis como importância, repercussão econômica, social. Então, ao dizer que é a maior operação da história, dá uma dimensão grande para aquela operação, que talvez tenha gerado essa interpretação de que aqueles fatos eram um problema sistêmico, de todo o mercado produtivo brasileiro e levado a essa discussão toda", disse Sobral.
Disputa institucional
O delegado foi um dos que discursou na abertura do evento em Florianópolis. Ele falou sobre a autonomia da Polícia Federal, um dos temas do congresso. Sobral também comentou o assunto durante a coletiva de imprensa.
"Há um cabo de guerra institucional no país que é ruim para todo mundo. Porque no momento em que nós buscamos integração, ou seja, todo mundo trabalhar junto, quando há competição ninguém trabalha junto. Você não confia. Como é que eu vou trabalhar junto com essa instituição se ela quer ocupar o meu espaço institucional? Então há esse ambiente no país como um todo".

Fonte: G1

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