Na continuidade da Operação Game Over, que investiga a manipulação de resultados em campeonatos de futebol no Brasil para beneficiar
Jawahir Saliman, 40, conhecido como "Mister Sam" ou "Sammy", seria o principal articulador do esquema no Brasil, e seu assistente é Zulfika Bin Mohd Sultan, 38.
Segundo investigação da Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), departamento encarregado do caso, eles estiveram no Brasil em fevereiro e se hospedaram em um hotel em Nova Iguaçu (RJ) para se encontrar com o principal operador brasileiro do esquema, Anderson Rodrigues, 41, e com um dirigente de equipe da primeira divisão do Estadual do Rio.
A identificação dos suspeitos aconteceu mediante a aceitação de oferta de delação premiada por parte do ex-jogador Márcio Souza, 36, braço direito de Rodrigues até julho deste ano, quando ele foi preso junto com outras oito pessoas na Operação Game Over. No total, foram emitidos onze mandados de prisão provisória, mas dois deles não foram cumpridos.
Saliman é conhecido na Ásia por seu envolvimento em atividades ilícitas. Em 2015, o técnico Gunawan, da equipe indonésia Persipur Purwodaddi, classificou-o como um "profissional" da manipulação de resultados ao site "Antara News".
"Ele é muito bom em manipular jogos. Ele sempre está presente nos jogos", disse, acrescentando que o pagamento é sempre feito em dinheiro, o que confere com o "modus operandi" que foi colocado em prática no Brasil. Segundo Gunawan, Saliman já teria negociado com quase metade dos clubes da primeira divisão indonésia.
Saliman e Sultan são os dois primeiros investigados estrangeiros. Após manipular os resultados, eles apostavam nas partidas acertadas e multiplicavam seus investimentos. Os policiais ainda apuram se há mais envolvidos fora do Brasil.
A Polícia Civil já enviou pedido de colaboração à Interpol. A ideia é aprofundar a investigação sobre Saliman e Sultan em outros países e incluí-los na lista de procurados. Inicialmente, o indiciamento de ambos no Brasil não é tratado como prioridade, dada a dificuldade de encontrá-los fora do país, conseguir a extradição e fazê-los responder pelos seus crimes.
Foto do passaporte de Jawahir Saliman, o Mr. Sam
DELATOR
Entre os presos pela operação, Márcio Souza é o único que tinha contato direto com Saliman e Sultan. Carioca, ele teve passagem de oito anos por clubes da Indonésia e da Malásia, quando se aproximou dos malaios.
Desconhecido no Brasil, Souza é popular na Indonésia. Depois de três anos e 57 jogos pelo Persela Lamongan (2006-2008), se tornou ídolo ao fazer 42 gols na liga local. Mas caiu de rendimento nos anos seguintes e teve problemas de comportamento.
Contudo, ele não era o cabeça do esquema no Brasil. Souza era assistente de Anderson Rodrigues, ex-zagueiro que jogou na Indonésia entre 2002 e 2010, quando se aproximou dos asiáticos.
Alvo de mandado de prisão desde julho, Rodrigues é considerado foragido pela Polícia Civil, que tem indicativos de que ele tem viajado pelo interior de São Paulo e pelo Paraná e que continua tentando manter o esquema de manipulação de resultados.
Quase todos os presos disseram em depoimento que foram trapaceados pelo líder do grupo. Segundo eles, Rodrigues pedia para ser apresentado a técnicos e atletas que aceitariam valores para combinar resultados. Com o contato estabelecido, cortava relações com o intermediário, sem pagar o valor prometido.
Souza, que tinha papel fundamental por saber falar indonésio, disse ter sido vítima desse procedimento.
Segundo Paulo Castilho, promotor do Ministério Público, as penas por manipulação de resultados e formação de quadrilha podem ultrapassar de dez anos.
A Folha não conseguiu contato com os malaios.
Fonte: Folha de São Paulo
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