domingo, março 25, 2012

Prédios terão selo de eficiência energética

 
Sabe aquelas etiquetas coloridas existentes em toda geladeira ou aparelho condicionador de ar? Elas atestam o nível de eficiência energética dos equipamentos eletrônicos e, consequentemente, uma redução do impacto ambiental. Afinal, só compra aparelhos "ineficientes" o consumidor que queira pagar mais cara a conta de luz. Esses equipamentos considerados eficientes são "sustentáveis", digamos assim, para se usar uma palavra da moda. Em breve, os edifícios é que serão etiquetados, sejam eles verticais ou horizontais, altos ou baixos, residenciais, comerciais, públicos ou de serviços. A pessoa que comprar um apartamento, por exemplo, saberá se o edifício tem eficiência energética ou não. A legislação em vigor determina que a mudança levará pelo menos mais três anos, tempo necessário para adaptação das pesquisas e regulação do mercado, mas as pesquisas já estão em pleno vapor.

Significativa colaboração para a concretização dessa nova realidade está sendo dada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). É no laboratório de Conforto Ambiental (Labcon), que trabalham os 12 consultores e pesquisadores e 60 bolsistas responsáveis pela contribuição ao projeto de consolidação da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE), nome oficial do instrumento que dirá os índices de eficiência energética dos edifícios. No caso da UFRN o Labcon conta com assistência administrativa da Fundação Norte-rio-grandense de Pesquisa e Cultura (Funpec). Os recursos para a pesquisa giram em torno de R$ 5 milhões. Tudo isso só é possível graças à Rede de Eficiência Energética em Edificações (R3E), criada pela Eletrobras e que conta com doze laboratórios parceiros em várias universidades brasileiras - incluindo a UFRN e entidades importantes como UnB, UFMS, UFAL, UFSC, UFF, Unicamp e UFPA, entre outras.

A rede nacional, por sinal, é coordenada pelo professor da UFRN Aldomar Pedrini, do Departamento de Arquitetura. Ele é quem organiza a implantação de um laboratório para certificação das edificações previsto para ser instalado em Natal, o único do Nordeste. Além disso, sua equipe também prepara um site, o Portal da R3E, destinado a difundir a novidade e as boas práticas de arquitetura. "Estamos preparando essas pessoas para montar um laboratório de etiquetagem de edifícios fora da universidade. Será um organismo de inspeção, fiscalizado pelo Inmetro. A etiqueta de eficiência vai reduzir o impacto ambiental do edifício e beneficiar iniciativas como reuso de água, uso de energia renovável e aquecimento de ar", explica Pedrini.

Já são dois anos de pesquisas na UFRN, mas toda a demanda pela eficiência energética surgiu a partir do apagão no sistema elétrico que ocorreu no Brasil em julho de 2001. O governo federal começou a estabelecer diretrizes para evitar panes semelhantes. Economizar energia foi uma delas. "Antigamente, como não haviam sistemas elétricos nos edifícios e características arquitetônicas que influenciam na eficiência energética dos prédios, sistemas condicionadores de ar e iluminação, os próprios edifícios aproveitavam ao máximo do clima da região onde eram construídos, da iluminação à ventilação natural. Isso dava conforto ao projeto. Só que isso foi perdido com o avanço tecnológico", relata Natália Queiroz, uma das pesquisadoras envolvidas no projeto. "Hoje em dia existe até a síndrome do edifício doente. Em prédios muito fechados, todo mundo adoece junto por causa do ar-condicionado. Nesses lugares, a qualidade de vida não é boa", aponta.

Obviamente, os pesquisadores sabem que cada prédio tem suas características que lhe são próprias, e servem a destinos diversos. O prédio da Escola de Ciência e Tecnologia da UFRN, inaugurado em abril de 2011, por exemplo, tem grandes auditórios que são salas de aula, e que utilizam condicionadores de ar, independentemente dos grandes corredores e espaços abertos, uma das principais características do edifício de quatro andares. "Nesse caso, se pensa por exemplo, na ventilação dos corredores", destacou Aldomar Pedrini. O prédio daETC, idealizado pelo arquiteto e urbanista Sileno Andrade e que ilustra essa página de O Poti/Diário de Natal, é considerado modelo e serviu como uma espécie de projeto-piloto da equipe coordenada por Pedrini. Outro exemplo na capital é a sede administrativa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), dos arquitetos Alexandre Gomes de Oliveira e Haroldo Maranhão.

Mas esses dois prédios, por sinal instalados dentro do Campus Universitário, são talvez os únicos que, hoje avaliados, seriam etiquetados como eficientes e possivelmente ganhariam conceito "A", como se fossem geladeiras que consomem pouca energia. No caso dos prédios construídos em Natal a equipe de pesquisadores afirma que a maior parte tem problemas por não possuírem características adaptadas ao clima e variações de temperatura da Zona Bioclimática da capital. "O ideal seria que todos os prédios tivessem grandes coberturas para poder sombrear, e muito contato com o exterior para haver ventilação. Ventilação cruzada, ventilação natural e sombreamento são as características mais importantes do nosso clima. Esses são os critérios mais importantes que um projetista ou arquiteto deveria utilizar num clima quente e úmido como o de Natal para poder ter uma edificação confortável e eficiente", relata a arquiteta Alice Ruck Drumond Dias, que também colabora com o projeto de etiquetagem eficiente.

Fonte: DN

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