terça-feira, julho 09, 2013

Discussão entre acusação e defesa marca audiência do incêndio da Kiss

Audiência com sobrevivente da Kiss é marcada por discussão no RS (Foto: Felipe Truda/G1)Com a retomada das audiências com as vítimas do incêndio na boate Kiss, ocorrido na madrugada do dia 27 de janeiro, que causou a morte de 242 jovens, o primeiro depoimento desta terça-feira (9) foi marcado por discussão no Fórum de Santa Maria, na Região Central do RS. A oitiva de Guilherme Patatt foi interrompida por alguns minutos pelo defensor de Elissandro Spohr, Jader Marques, e pelo advogado da Associação de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Jonas Stecca, que atua no processo como assistente de acusação. Até as 17h30, estão previstos outros nove depoimentos.

Marques perguntou se Pattat fazia parte da AVTSM e o jovem respondeu positivamente. Stecca reagiu. “Esta pergunta não é relevante no caso”, disse. O defensor de Kiko ainda questionou o sobrevivente se havia conversado com Stecca antes da audiência. “Sim, conversamos na passada”, confirmou o jovem, que teve a fala interrompida por Marques. “No mínimo, o depoimento perde espontaneidade”, disse o defensor.
Stecca rebateu afirmando que Marques colocava em dúvida a idoneidade do depoente. O depoimento prosseguiu até que, em outro momento, o promotor Joel Dutra voltou ao assunto questionando o conteúdo da conversa de Patatt com o advogado da AVTSM. “Ele me perguntou o que aconteceu lá, como eu saí, e me disse para falar só a verdade. É o que estou fazendo”, respondeu o jovem.
Marques questionou se ele havia lido a transcrição do depoimento que concedeu à Polícia Civil e, diante de uma resposta positiva, esbravejou. “Perdeu completamente a espontaneidade”, afirmou.

Audiência da boate Kiss em Santa Maria (Foto: Felipe Truda/G1)Audiência da boate Kiss em Santa Maria
(Foto: Felipe Truda/G1)
No depoimento, Guilherme Patatt, um dos sobreviventes da tragédia, afirmou que muitos dos jovens que estavam na boate Kiss não foram alertados do incêndio. “Um segurança avisou que estava pegando fogo e empurrou a mim e a meus amigos. Quem estava atrás não foi avisado”, afirmou. 
Pattat estava na área VIP ao fundo da casa noturna, mas no lado oposto ao palco. Conforme o depoimento, ele imaginou que a movimentação no início do incêndio era uma briga. Após ter sido avisado por um funcionário, tentou sair do estabelecimento, se movimentou para deixar o local. Segundo ele, a saída da boate Kiss chegou a ficar fechada após o início do incêndio.  “A porta de saída estava fechada, e todos batiam e pediam socorro”, disse o jovem.
O jovem estima que havia cerca de 1 mil pessoas na casa noturna. Segundo ele, a locomoção no estabelecimento era difícil durante a festa. Após ter sido alertado sobre o incêndio, ele se locomoveu até a porta de saída. Ao chegar perto do bar, uma parte do teto desabou e ele usou o braço para se defender, o que ocasionou um ferimento.
“Vi o teto caindo em frente ao bar quando escureceu”, disse o jovem, que afirmou que percebeu que havia espuma queimada no material que o atingiu. “O teto era branco, e havia algo derretido pingando preto. Possivelmente era espuma”, afirmou.
Como nos depoimentos anteriores, estavam presentes no Salão do Júri o vocalista e o produtor da Gurizada Fandangueira, com os respectivos advogados. O defensor de Mauro Hoffmann pediu dispensa do cliente em todas as oitivas de sobreviventes.
Audiência
Inicialmente, eram previstos cinco dias de depoimentos, entre 26 e 28 deste mês, nesta terça-feira e na quarta-feira (9), nos quais seriam ouvidas 60 pessoas. No entanto, o tempo gasto para ouvir cada depoimento excedeu os 30 minutos estimados, o que causou um atraso. Por isso, foram marcadas novas audiências para os dias 16, 17 e 23 deste mês, nas quais 36 pessoas devem ser ouvidas no total.
Após as 10 primeiras oitivas, serão ouvidas mais oito pessoas, entre as 9h30min e 17h de quarta-feira (10). A previsão é que outras 18 pessoas falem nos três últimos dias. Cada testemunha relata o fato ao juiz Ulysses Fonseca Louzada, responsável pelo processo. Depois, responde a questionamentos dos promotores e dos advogados de acusação e defesa nos quatro réus no processo criminal sobre a tragédia na boate.
São acusados por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual, os dois sócios da casa noturna, Elissandro Spohr e Mauro Hoffman, e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o produtor Luciano Augusto Bonilha Leão. Os músicos assistiram às primeiras audiências, realizadas no final do mês passado, enquanto que os empresários justificaram as ausências.
Por enquanto, o conteúdo das audiências não tem peso de testemunho na fase de instrução do processo, mas servem para validar o conteúdo colhido nos depoimentos à Polícia Civil e produzir provas. Ao todo, foram arroladas 60 vítimas do incêndio pelo Ministério Público (MP), pela assistência de acusação, representada pelo advogado da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), e pelos defensores dos réus.
Nas primeiras audiências, 23 sobreviventes da tragédia, entre frequentadores e ex-funcionários da boate, foram ouvidos pela Justiça. Todos estavam na boate na madrugada do incêndio. As audiências são abertas ao público, que para entrar no Salão do Tribunal do Júri precisa apresentar documento de identificação e passar por uma revista. É vedado, no entanto, o ingresso de pessoas que possam ser futuramente arroladas para depor no processo.

Reprodução Cidade News Itaú

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!