sexta-feira, junho 14, 2013

Sucessor de Ahmadinejad não irá suspender programa nuclear

Os rumos do programa nuclear iraniano não devem mudar com a eleição presidencial desta sexta-feira (14/06). Longe de ser uma iniciativa do governo de Mahmoud Ahmadinejad, o direito de produzir energia nuclear e enriquecer urânio se tornou uma política de Estado e nem mesmo opositores do regime questionam sua continuidade. São essas as análises de diferentes especialistas consultados por Opera Mundi que indicam que a única mudança provável com o novo presidente será no tom das negociações com os Estados Unidos e seus aliados.

“Todo o sistema iraniano concorda que o Irã tem o direito fundamental de gerar combustível nuclear”, afirma o professor de química da USC (Universidade da Califórnia do Sul na sigla em inglês) e especialista em questões nucleares, Muhamed Sahimi. “É uma questão nacionalista muito importante para o país e nenhum político quer ir contra isso, nem mesmo os mais críticos”, acrescenta o analista Hooman Madj.

O programa nuclear iraniano teve início na década de 1970 durante o governo do Shah Mohammad Reza Pahlavi e contou com o apoio da Casa Branca. Na ocasião, os EUA emitiram um documento reiterando a importância da produção de energia nuclear no país. As autoridades iranianas fecharam contratos milionários com empresas europeias e norte-americanas que foram cancelados com a Revolução Iraniana de 1979. Foi a partir desse momento que EUA e seus aliados começaram a tentar impedir o desenvolvimento do programa nuclear do país.

Os governos que se seguiram, incluindo o de Ali Akbar Hashemi Rafsanjani (1989 – 1997) e Mohamed Khatami (1997 – 2005), considerados os principais líderes da oposição atual, mantiveram a construção de usinas nucleares como um dos principais alicerces da política externa. Com Mahmoud Ahmadinejad, o programa avançou radicalmente na medida em que aumentava a pressão internacional, liderada pela Casa Branca.

"Pensar que podemos persuadir Teerã a não obter uma arma nuclear enquanto apontamos uma arma para a sua cabeça, não é nada realista”, afirma o professor de Relações Internacionais e colunista da revista Foreign Policy, Stephen Walt. O renomado analista explica que quanto mais ameaçado estiver, mais o governo iraniano irá apostar em seu programa nuclear como um instrumento de negociação política no sistema internacional.

Diferentemente do que muitos imaginam, a ação das autoridades iranianas em relação ao programa nuclear nada tem de irracional. “Os líderes iranianos já demonstraram que quando se trata de política externa, cálculo frio e análise de custo-benefício são o que eles usam para decidir o que devem fazer”, conclui Sahimi. O professor de Relações Internacionais Mohsen Milani lembra que o Irã não vacilou ao apoiar a intervenção norte-americana no Afeganistão contra seus inimigos do Talebã.

De acordo com Walt, o estado iraniano possui a percepção de que está extremamente ameaçado por diversas razões: em primeiro lugar, existem três potências nucleares em sua região (Paquistão, índia e Israel); em segundo lugar, existem tropas norte-americanas em duas fronteiras (Afeganistão e Iraque); em terceiro lugar, os EUA posicionaram tropas da marinha no mar iraniano e no Golfo Pérsico; e, finalmente, a administração de Bush declarou que um dos principais objetivos de sua política externa é a mudança de regime no Irã. 

Apesar do consenso existente acerca da continuidade do programa nuclear, os seis candidatos que disputam a vaga da presidência nesta sexta (14/06) possuem diferentes visões de como negociar com a Casa Branca e seus aliados. “Existem pequenas diferenças políticas entre eles que podem ser ampliadas durante a administração, sobretudo, no que diz respeitos às negociações nucleares”, afirma Madj.

“As diferenças estão na aproximação com o Ocidente e em como lidar com suas preocupações sobre a natureza do programa. Enquanto os radicais preferem uma abordagem de confrontação, conservadores moderados favorecem um posicionamento mais flexível”, explica Sahimi.

Política externa

Os candidatos à presidência já deixaram claro suas divergências quanto à política externa. No terceiro debate eleitoral realizado pela emissora estatal do país, os políticos debateram estratégias e fizeram acusações uns contra os outros. Além da questão de segurança nacional, o sucessor de Ahmadinejad terá de lidar com duras sanções internacionais que alimentaram uma crise econômica no país.

Considerado o candidato principal da oposição, Hasan Rowhani propôs um tom mais conciliatório nas mesas de negociação e criticou a política desenvolvida durante o governo de Ahmadinejad. “Devemos olhar de forma ampla. Uma vez que as pessoas vivem em dificuldades econômicas, sua dignidade é solapada. É muito bom ver as centrífugas funcionando, mas apenas quando as pessoas conseguem pagar suas contas”, afirmou ele.

Rowhani sugeriu que o governo iraniano deveria ter aceitado a suspensão do programa nuclear nas recentes negociações com o P5 + 1 (grupo formado por membros do Conselho de Segurança mais a Alemanha para discutir a questão). Para Milani, ele é o único candidato que pode trazer mudanças significativas na política exterior com a Casa Branca e seus aliados.

Saeed Jalili, secretário do Conselho Nacional de Segurança e diretor do time negociador do Irã, se defendeu das críticas e assegurou a importância de uma posição firme nas conversas com EUA e aliados. O candidato lembrou que durante a liderança de Rowhani nas negociações, o país encerrou, temporariamente, suas atividades nucleares, mas os membros do P5+1 não cumpriram com suas promessas. Analistas, como Madj e Sahimi, apontam que Jalili é o candidato mais próximo da abordagem de Ahmadinejad.

O candidato independente Mohsen Rezaer criticou ambos os oponentes por possuírem posições muito extremas. Segundo o ex-comandante da Guarda Revolucionária, corpo militar mais importante do país, o governo deve se concentrar em melhorar a economia do país para se sentar à mesa com os EUA com mais poder de negociação. “O Ocidente está comprando mais tempo para as sanções atingirem ainda mais nossa economia. Nós temos que provar que nossa economia é forte e que as sanções são ineficientes”, afirmou ele durante o debate.

Na visão dos analistas, no entanto, a política implementada por Ahmadinejad e Jalili não teve frutos positivos. “Ahmadinejad mudou os rumos do programa nuclear, implementando o que chamamos de ‘ideologia de resistência’. Ele me disse, uma vez, nas Nações Unidas em Nova York, que a era de concessões havia acabado... Ele virou o mundo contra o Irã com suas declarações polêmicas, negando o Holocausto, por exemplo”, conta Madj. “O próximo presidente deve ser mais diplomático e muito menos bombástico do que Ahmadinejad, porque sua retórica atrapalhou a nação”, afirma Sahimi a Opera Mundi. “O único candidato que pode seguir os passos de Ahmadinejad é Jalili”.

Reprodução Cidade News Itaú

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