segunda-feira, novembro 20, 2017

Católicos protestam contra ‘arte obscena’ em exposição no DF; mostra não faz referência à religião

Grupo de católicos reunidos no Museu Nacional da República em Brasília em prostesto contra expo~sição de arte (Foto: Luiza Garonce/G1)Um grupo de católicos protestou neste sábado (18) em frente Museu Nacional da República em Brasília contra a “o escárnio e os ultrajes contra Jesus e Maria” na arte contemporânea brasileira. Por volta das 19h30, cerca de 200 pessoas, segundo os organizadores, rezavam "Ave Marias".
Na internet, o movimento criou uma petição para pedir o fechamento da exposição “Contraponto”, que fica em cartaz até dia 25 de fevereiro. O pedido de interdição teve 9.492 assinaturas até a publicação desta reportagem.
Do lado de dentro do museu, no entanto, nenhuma das obras em exibição tem apelo sexual, erótico, religioso ou aborda questões de gênero, segundo a curadoria.

Petição online criada por grupo católico de Brasília pede fechamento de exposição por 'vilipendiar publicamente ato ou objeto religioso' (Foto: CitizenGo/Reprodução)
Petição online criada por grupo católico de Brasília pede fechamento de exposição por 'vilipendiar publicamente ato ou objeto religioso' (Foto: CitizenGo/Reprodução)

Um dos organizadores do protesto, Flávio Souza explicou ao G1 que este foi um “ato de desagravo” contra movimentos artísticos que ofendem a religião católica em todo o país. “Nos últimos dois, três meses temos observado várias obras de arte e exposições que afetam diretamente a fé católica.”
"O público católico esta cansado de ser ofendido."

Flávio Souza foi um dos organizadores do ato de protesto contra exposição de arte em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Flávio Souza foi um dos organizadores do ato de protesto contra exposição de arte em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)

O argumento do grupo para pedir o fechamento da exposição é de que a “Contraponto” expõe obras do artista Antônio Obá, “que realizou uma performance com a imagem de Nossa Senhora Aparecida com um ralador no seu órgão sexual.”
A performance à qual se referem os religiosos chama-se “Atos de transfiguração”, em que o artista está nu e usa um ralador para desfazer uma pequena escultura de Nossa Senhora em gesso. Depois que o objeto vira pó, Obá despeja substância branca sobre si mesmo.

Fotos da performance 'Atos da transfiguração', do artista brasiliense Antônio Obá (Foto: Antônio Obá/Reprodução)
Fotos da performance 'Atos da transfiguração', do artista brasiliense Antônio Obá (Foto: Antônio Obá/Reprodução)

Nascido e criado em Ceilândia, Obá descreve o próprio trabalho em sua página profissional na internet como a reconfiguração da “tradição interiorana que permeia o universo religioso brasileiro, que reflete criticamente sobre a ideia de um dito sincretismo e situações históricas ligadas ao preconceito étnico.”
“Antônio Obá é o artista que tem como prática recorrente ofender e vilipendiar símbolos sagrados”, disse Souza. “Na série ‘Verônica’, que são quadros de nu, em um deles Santa Verônica está nua e, em outra, a chaga na mão de Jesus tem o formato de uma vagina.”
“Esses quadros não estão expostos, mas são do artista.” Diante da afirmativa, Souza disse ao G1 que o ato, além de pedir o fechamento da exposição, manifesta repúdio ao artista.

Católicos rezam Ave Marias no Museu Nacional da República em Brasília em prostesto contra exposição de arte (Foto: Luiza Garonce/G1)
Católicos rezam Ave Marias no Museu Nacional da República em Brasília em prostesto contra exposição de arte (Foto: Luiza Garonce/G1)

Tanto a performance, quanto a série “Verônica” não fazem parte da exposição “Contraponto”. Segundo a produtora da mostra, Diana Castilho Dias, o objetivo da mostra é apresentar “uma das maiores coleções de arte contemporânea do Brasil”.
A curadora, Tereza de Arruda, disse ao G1 que passou cerca de um ano analisando o acervo pessoal de um dos maiores colecionadores de arte do país, Sérgio Carvalho, que tem 1.900 trabalhos de 164 artistas de todo o país.
“São contraposições das visões de vários artistas”, explicou. “Selecionamos 34 artistas de 10 estados brasileiros e de 3 gerações.”
Desinformação

Exposição 'Contraponto', do colecionador Sérgio Carvalho, no Museu Nacional da República em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)
Exposição 'Contraponto', do colecionador Sérgio Carvalho, no Museu Nacional da República em Brasília (Foto: Luiza Garonce/G1)

Segundo a produtora da mostra, Diana Castilho Dias, o grupo esteve na abertura da “Contraponto” na manhã da última sexta-feira (17), participou de um bate-papo com os artistas e conversou tanto com ela, quanto com a curadora, Tereza de Arruda. “Nós vimos claramente que eles vieram com motivação e com um desconforto muito grande em relação ao Obá.”
“Mas eles vieram achando que uma obra do Nelson Leirner, que nem está na exposição, era do Obá.”
A obra é “Bala perdida”, criada nos anos 2000, que reúne pequenas esculturas de santos e monumentos, como Santo Antônio e o Cristo Redentor, cravejados com balas reais de revólver. “Não tem nenhum relação com fé, com religiosidade. É uma contestação à violência no Rio de Janeiro, que está tão grande que até Jesus poderia ser alvo de uma bala perdida”, explicou Diana.
Segundo a produtora, antes de inaugurar a “Contraponto”, a série de obras de Leirner foi exibida em uma mostra paralela exclusivamente para especialistas em arte e artistas. “Em momento algum essa mostra esteve prevista para abrir ao público, porque entendemos o momento e suscetibilidade do momento.
“O objetivo era muito claro de mostrar a trajetória artística de Leirner para um público fechado e seleto.”
“Não houve da nossa parte qualquer censura aos artistas. Isso foi pensado dessa forma, mas não havia sequer espaço para colocar todas as obras dos artistas. Não foi censura prévia.”
Contraponto

Obra 'Effugium', de José Rufino, na exposição 'Contraponto', no Museu Nacional da República em Brasília (Foto: José Rufino/Arquivo pessoal)
Obra 'Effugium', de José Rufino, na exposição 'Contraponto', no Museu Nacional da República em Brasília (Foto: José Rufino/Arquivo pessoal)

O nome da mostra faz referência ao equilíbrio que a escolha e distribuição das obras confere à pluralidade de técnicas e de linguagens, colocando em um mesmo ambiente pinturas, fotografias, esculturas, vídeos, instalações, desenhos e performances.
Organizada de forma espaçada, a mostra reserva espaços privados para cada artista a fim de “respeitar a individualidade”. Mesmo assim, a ausência de portas na galeria principal do museu permite construir um paralelo entre as narrativas das obras que ficam próximas.

Fotografia Cobogó faz parte da exposição 'Contraponto'  (Foto: Hildebrando de Castro/Crédito)
Fotografia Cobogó faz parte da exposição 'Contraponto' (Foto: Hildebrando de Castro/Crédito)

“Alguns artistas o Sérgio acompanha há mais de década, então você consegue ver as fases da pintura, como é o caso do Hildebrando de Castro. Ali, você vê como se fossem três artistas diferentes.”
Segundo a curadora da mostra, Tereza de Arruda, houve uma conversa com os artistas no auditório do museu na sexta a fim de dar visibilidade à produção nacional. “Estamos estimulando, incentivando e divulgando a arte contemporânea.”

Fonte: G1

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