quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Com medo, gregos escondem dinheiro atrás de azulejos e dentro de ar-condicionado

Georgios Karavelas dirige um táxi em Atenas e, nos últimos 30 dias, tem sido testemunha silenciosa do que os gregos comuns estão
fazendo com o dinheiro.

Um passageiro, segundo ele, disse a alguém pelo celular que havia sacado 25 mil euros (cerca de R$ 78 mil) do banco, levou tudo para casa, soltou um azulejo no banheiro e escondeu o dinheiro lá. Outro levou as notas para seu povoado e as enterrou no jardim. Um terceiro adaptou uma pequena caixa forte no aparelho de ar-condicionado, na varanda da casa.

"Eu não posso culpar essas pessoas", disse Karavelas, 37. "Obviamente, tratava-se de gente que havia trabalhado duro para ganhar esse dinheiro, que tem família e emprego. Não são oligarcas".

Os saques de dinheiro nos bancos gregos podem ter superado 15 bilhões de euros (R$ 47 bilhões) nas vésperas das eleições que catapultaram Alexis Tsipras e seu partido antiausteridade Syriza para o poder, incluindo pelo menos 11 bilhões de euros em janeiro, segundo quatro banqueiros, que citaram dados preliminares.

Dúvidas em relação ao pagamento da dívida pública 
As tensões entre o novo governo, que ganhou com base em uma plataforma de alívio da dívida, e os credores da Grécia, incluindo a Alemanha, podem manter a pressão.

"As negociações com os credores serão um processo prolongado, por isso não se pode descartar uma maior pressão sobre os depósitos", disse Wolfango Piccoli, diretor-gerente da Teneo Intelligence, em Londres. "Há muitas incertezas e isso pode deixar os depositantes nervosos novamente".

O programa de resgate da Grécia termina no dia 28 de fevereiro e o fracasso para chegar a um acordo com o grupo de credores, formado pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE), pode deixar o país sem fundos para pagar bilhões de euros em dívidas com vencimento nos próximos meses.

A Alemanha está preparada para esperar até abril ou maio, quando a Grécia atingirá uma crise de liquidez, para reforçar seu poder de barganha, disse uma fonte com conhecimento do assunto.

A incerteza está causando efeitos nos bancos do país. A promessa de Tsipras de renegociar a dívida da Grécia provocou uma corrida para venda de mais de 37% no FTSE/Athex Banks Index (índice da Bolsa da Grécia) em sua primeira semana no cargo. 

Embora as ações, desde então, tenham se recuperado depois que Tsipras e seu governo atenuaram suas declarações anteriores, o temor em relação aos bancos gregos permanece.

A saída de depósitos implica que os bancos precisam confiar mais nos fundos do BCE ou nos chamados fundos ELA (assistência de liquidez de emergência) por meio do banco central grego, que precisam de aprovação do BCE. O BCE analisará a linha de emergência do banco central grego hoje e poderá ordenar que os fundos sejam fechados caso considere que são inadequados. O processo de análise é realizado a cada duas semanas.

Gregos fazem 'maratona' aos bancos para sacar economias
"A história dos depósitos gregos não é uma corrida bancária, é uma maratona", disse Andreas Koutras, sócio da In Touch Capital Markets em Londres.

"O dinheiro inteligente foi embora há muito tempo e há poucas contas com mais de 100 mil euros. O verdadeiro termômetro do medo é a quantidade de dinheiro vivo que é sacada e não quanto é transferido para fora da Grécia. Essa quantidade subiu nos últimos dois meses".

Em dezembro de 2009, o saldo dos depósitos bancários era de 237,5 bilhões de euros, contra 160,3 bilhões de euros no fim de 2014, número mais recente do banco central.

No dia 30 de janeiro, cinco dias após a eleição de Tsipras, os bancos nacionais se viram ocupados novamente. Desta vez, por um motivo diferente: era dia de pagamento, quando aposentados e assalariados recebem seu salário mensal e pagam suas contas.

Banco chegou a ficar sem dinheiro
O caixa do National Bank of Greece se inclinou para frente para dizer a um cliente algo que tem notado nos últimos dias.

"Se você tivesse vindo na semana passada sem aviso, eu não poderia te entregar tanto dinheiro", disse ele em voz baixa para o cliente que estava sacando 20 mil euros. "Nós não tínhamos o dinheiro".

Ele disse que os clientes que vinham sacar fundos antes da eleição eram, em grande parte, gregos mais velhos preocupados com suas economias, que retiram dinheiro para guardá-lo em cofres. Outra das opções favoritas das gerações mais antigas é comprar moedas de ouro do banco central.

Karavelas, o taxista, disse ser solidário com os seus clientes, embora tenha pouco com que se preocupar.

"Eu não tenho depósitos", disse ele, pai de dois filhos, que ainda mantém suas economias no banco. "Eu tenho cerca de 1.000, 2.000 euros no banco e isso é para os meus filhos".

Fonte: Uol

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