quarta-feira, dezembro 10, 2014

Após limpeza, familiares de vítimas voltam a fixar cartazes na Kiss

Familiares de vítimas penduram cartazes de protesto na fachada da Kiss (Foto: Bruna Taschetto/RBS TV)O cenário na Rua dos Andradas onde fica o prédio da boate Kiss, onde um incêndio causou 242 mortes de 2013, foi novamente modificado na tarde desta terça-
feira (9) em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. Após os tapumes que cercavam a construção serem retirados, e a fachada ter sido reparada e pintada de branco, familiares de vítimas voltaram a fixar faixas de protesto no local. Antes preso aos tapumes, o material foi colocado diretamente na parede do prédio.
A área teve a passagem de pedestres e o tráfego de veículos liberados após a conclusão da limpeza do local, realizada por técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). O toldo que havia sido montado em frente ao local foi retirado.
Após o término dos trabalhos, representantes do Poder Judiciário fizeram uma recontagem dos pertences, documentos e chaves de vítimas, achados durante os sete dias. Os objetos pessoais, conforme a Justiça, ficarão lacrados dentro do prédio e devem permanecer no local nos próximos dias. No total, cinco contêineres foram lotados com entulhos e levados para descarte no município de Capela de Santana, na Região do Vale do Caí.

Mais cedo, frases de protesto haviam sido pintadas no asfalto em frente à boate, onde um incêndio  matou 242 pessoas em janeiro de 2013. No local, em roxo e branco, foram escritos os dizeres: "Já pagamos com nossas vidas. Precisa pagar mais?" e "negociata suja com agentes públicos corruptos e empresários sem escrúpulos mataram 242 jovens".
O protesto diz respeito à cobrança para que familiares paguem pela limpeza dos pertences encontrados no interior do local, além de pedir que funcionários da prefeitura municipal e do Ministério Público (MP) sejam investigados. Familiares das vítimas que fazem parte do Movimento Santa Maria do Luto à Luta assumiram a autoria das frases.
A Justiça ainda não confirmou se haverá uma reconstituição da noite da tragédia após a limpeza. Sobre o futuro do prédio, o juiz Ulisses Louzada informou que a decisão só deverá ser tomada quando o processo criminal for finalizado.
O trabalho começou quase dois anos depois do incêndio. Um equipamento foi instalado para puxar o ar de dentro do prédio porque faz muito calor no interior do local. Ainda há fios de energia pendurados e restos de espuma pelo local. A queima da espuma do teto da boate, que liberou uma substância tóxica, foi apontada como uma das principais causas para o elevado número de mortes. A fachada da casa noturna foi pintada de branco para evitar que haja contaminação através da parede. A calçada também foi reformada.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.

O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio do ano passado.
Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
No dia 5 de dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas  denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à prefeitura.

Fonte: G1

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