segunda-feira, abril 07, 2014

‘Eu vi o metrô passando por cima de mim’, diz mulher empurrada na Sé

 Blog Cidade News ItaúA auxiliar administrativa Maria da Conceição Oliveira, de 27 anos, deu a primeira entrevista com exclusividade ao Fantástico depois
de ter sido empurrada por um homem nos trilhos na Estação Sé do Metrô, no dia 25 de fevereiro. Ela perdeu o braço direito após ser atingida por uma composição. “Eu vi o metrô passando por cima de mim”, relatou ao Fantástico.
Alessandro Souza Xavier, de 33 anos, o suspeito de empurrar Maria da Conceição, foi preso no dia 28 de fevereiro e indiciado por tentativa de homicídio. O homem confessou o crime, alegando que não conhecia a vítima e que teve um acesso de raiva no momento, informou a assessoria da Secretaria da Segurança Pública, na ocasião.
Ele foi preso em Extrema, no sul de Minas Gerais. A Justiça decretou a prisão temporária dele depois de ele ter sido flagrado por câmeras de segurança empurrando a mulher nos trilhos da Estação da Sé. Ele aparece correndo nas imagens, saindo do local.
A agressão revoltou a família da auxiliar administrativa. "Só Deus sabe o tamanho da minha dor e da minha revolta", afirmou a autônoma Ana Lívia de Souza, de 28 anos, irmã de Maria da Conceição. Os familiares a visitaram na Santa Casa de Misericórdia, no Centro, onde estava internada, na manhã do dia 27 de fevereiro.
Depois de 37 dias, na última quinta-feira (3), Maria da Conceição pode comemorar com amigos e familiares o aniversário. Ele completou 27 anos justamente no dia em que foi empurrada. “Ia ser o meu dia. Eu ia estar com as pessoas que eu gosto. Naquele dia, eu acordei com a vontade de festejar mesmo”, contou, ao Fantástico.
No dia 25 de fevereiro, Maria despertou às 6h, meia hora mais tarde do que estava acostumada. Como ela estava atrasada, decidiu mudar o trajeto para ir ao trabalho. Maria achou que ir até a Estação Sé seria a melhor opção. Ela esperava o trem às 7h15 quando tudo aconteceu.
“Eu vejo o metrô se aproximando de mim. Em questão de segundos, eu sinto duas mãos nas minhas costas”, relatou. Em seguida, Alessandro Xavier teria empurrado Maria. “Eu me vi no ar, me debatendo, na minha cabeça tentando me agarrar em alguma coisa, mas não tinha o quê. Eu bato minha cabeça no vidro do maquinista. Eu caio e fico alinhada no metrô. Eu vi o metrô passando por cima de mim”, contou.
Clarão
Maria disse que caiu de lado, com o braço direito para cima. O trem, então, acertou o braço dela. “Começo a gritar ‘Socorro, eu tô (sic) aqui debaixo. Me ajuda, me salva pelo amor de Deus. Não deixa eu morrer’", afirmou.
Ela relatou que a respiração ficou ofegante e que, de repente, viu um clarão, como se fosse uma lanterna. “Aí eu escuto ‘Ali, o corpo dela está ali’. Alguém fala ‘Consegui pegar nas pernas. Calma, eu estou aqui. Calma, fica calma’. Aí eu não lembro de mais nada.”

Maria foi levada ao hospital. Os médicos amputaram o braço direito dela. “É como se o braço estivesse aqui. Eu sinto ele assim, como se ele estivesse nessa posição”, diz, apontando a posição.
A jovem também teve ferimentos na testa, no pescoço e na cabeça. Precisou tirar tecido do joelho para colocar no braço e passou por uma cirurgia na coluna. Enquanto Maria se recuperava, a polícia tentava descobrir quem era o homem que tinha provocado esse acidente.
No dia, ele vestia calça preta e blusa branca. As câmeras do Metrô registraram a fuga. Ele passou pelas catracas e apareceu correndo do lado de fora da estação.
Nervoso
Alessandro foi preso em um sítio da família em Extrema. “Fui eu mesmo. Fizeram mal pra mim, eu descontei em alguém também”, afirmara, por ocasião de sua prisão. Ao ser questionado por que havia empurrado Maria, ele disse: “Porque eu estava nervoso”.
Alessandro está preso em um Centro de Detenção Provisória de São Paulo. A família dele disse que já encaminhou ao  defensor público que está cuidando desse caso os laudos que mostram que Alessandro é esquizofrênico. Os parentes querem que ele seja transferido para um hospital de custódia, onde ficam os presos com doenças mentais.
Ele se envolveu em outros cinco casos de agressão e ofensa. Desde 2009, a polícia tem registros de mulheres que foram assediadas por ele. Cinco horas antes de provocar o acidente de Maria, Alessandro desacatou dois policiais militares na rua. E não parou por aí.
“Ele tentou puxar a bolsa de uma mulher, antes de chegar até a Maria. Tentou passar a mão em uma outra. E depois ele foi empurrar a Maria”, disse o delegado Osvaldo Nico Gonçalves.

'Pedi a Deus para ficar'
Maria está em casa desde o último dia 29 de março, depois de 32 dias de internação. Barras de apoio não existiam antes na casa dela. Enquanto ela ficou no hospital, o marido fez adaptações na residência para poder recebê-la. “Para eu conseguir subir, porque sem um braço fica meio difícil o equilíbrio”, explicou Maria.
Realizar pequenas tarefas são comemoradas. “Eu consigo pegar uma garrafa, por uma água. Agora vai ser assim, vai ter que lavar a louça, não tem jeito”, diz, brincando, ao apontar para o marido.
Maria lamenta a sua atual condição. “É difícil de aceitar, de me olhar nas fotos. Eu era vaidosa demais, não saía da porta para fora sem uma maquiagem”, afirmou. “As pessoas vão ter que olhar para mim do jeito que eu sou por dentro”, completa, tentando se conformar.
Mas ela garante que vai voltar a trabalhar e a estudar. “Eu pedi muito para Deus para ficar viva. Se eu pedi e ele me ouviu é porque alguma coisa boa eu tenho para realizar aqui. Vamos seguir em frente”, afirmou, sorridente.




Reprodução Cidade News Itaú via G1

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