quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Vida noturna em Santa Maria vira válvula de escape; jovem define tragédia como 'tatuagem'


A noite agradável, com temperatura média de 25ºC, e as partidas do campeonato gaúcho de futebol, nesta quarta-feira (6), marcaram a volta de muitos jovens à vida noturna de Santa Maria (301 km de Porto Alegre), talvez pela primeira vez após o incêndio na boate Kiss, que deixou 238 mortos até agora.

O silêncio causado pela ausência de música ao vivo foi preenchido, porém, com relatos sobre a tragédia que marcou a cidade. "Agora é uma tatuagem nossa", resume o publicitário Julian Medeiros, 26, referindo-se a como o município ficará gravado na memória de muitas pessoas.

Medeiros se encontrou com amigos na calçada de uma rua da região central, onde dois bares estavam fechados. As bebidas eram retiradas em uma distribuidora que fica na mesma rua. Os jovens conversavam em pé.

Bares e casas noturnas com portas fechadas se tornaram comuns desde 1º de fevereiro, quando representantes da prefeitura passaram a visitar os estabelecimentos para avisar que estavam suspensos por 30 dias os alvarás de locais com música ao vivo.

Após apresentarem a documentação vigente e serem feitas vistorias por agentes da prefeitura, os locais podem voltar a funcionar. Até a última terça-feira (5), os donos de 51 casas haviam sido informados do novo decreto, mas apenas três haviam apresentado toda a documentação necessária, conforme divulgado no site da prefeitura.

"Na semana após a tragédia as pessoas ficaram no automático. Agora é que estão retomando a rotina. Nós estamos tentando abstrair, mas não tem como ser diferente", explica Renan Falcão, 28, publicitário. A recepcionista Evelyn Juliana da Silva Rodrigues, 23, diz que é impossível encontrar com amigos e não falar sobre o assunto. "A gente gosta de balada e agora acabou. A cidade acabou", diz o estofador Élio Roberto Júnior, 26.

A visita de uma ex-moradora que hoje vive no exterior e que chegou nesta semana a Santa Maria para passar uns dias na cidade fez com que um grupo de amigos quebrasse o luto e voltasse a frequentar bares. A bailarina Elle Bernardini, 24, que integrava a turma, diz que o incêndio despertou nas pessoas mais atenção sobre as saídas de emergência e equipamentos de segurança.   

No bar Zeppelin, um dos que já apresentou a documentação para a prefeitura e pôde voltar a funcionar, a proprietária Mila Rios conta que, na noite de terça-feira, a primeira em que o local abriu após a tragédia, o bar lotou. "As pessoas procuram até como refúgio, como válvula de escape", reflete e diz que não há mesa onde não se fale sobre a tragédia.

O dono da panquecaria Galgus, Ricardo Venino Tourrucoo, que não fechou as portas nenhum dia, diz que logo após a tragédia a venda se resumiu a refeições, grande parte pedida por telefone. Ele acredita que a tragédia tenha afetado tanto as pessoas que não havia ânimo nem para cozinhar.

O sentimento de retomada da rotina é resumido pelo funcionário público Marcos Vinícius Santos, 41: "A vida continua, mas não tem clima para festa".

"Temos que virar a página sem deixar de lado a questão criminal", diz, se referindo às investigações, enquanto assistia a um jogo de futebol e conversava com um amigo em bar a apenas uma quadra da boate Kiss.

REprodução Cidade News Itaú

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