terça-feira, novembro 14, 2017

Frei preso durante missão no Zimbábue volta ao Brasil e diz: 'Solidariedade exige resistência e tranquilidade'

"Solidariedade exige resistência e tranquilidade", disse frei Rodrigo Peret, ao G1 após chegar em Uberlândia nesta segunda-feira (13). O membro da comissão da Pastoral da Terra integrava um grupo de ativistas que foi preso na última sexta-feira (10) na região de Marange, no Zimbábue. Acusadas de invasão de propriedade particular, 24 pessoas de oito países foram liberadas no sábado (11) mediante pagamento de uma fiança individual no valor de 100 dólares.
A prisão dos ativistas mobilizou entidades internacionais e a embaixada brasileira no fim de semana. O grupo fazia parte uma missão do movimento internacional de direitos humanos People's Dialogue (Diálogo dos Povos) e, segundo frei Rodrigo, só soube o que motivou as detenções quando chegou de camburão na delegacia de Mutare, a 270 km da capital Harare.
"Foi uma surpresa porque tínhamos autorização para estar naquela área, que é uma área de mineração onde vivem mais de 6 mil famílias", explica o frei. "A polícia de imigração pediu para ver nossos documentos e nos levou para a delegacia. Percebemos que estavam procurando fazer as coisas de uma forma legal. Uma situação como essa é claro que nos causa medo, mas a busca pela legalidade era um sinal de que as pressões [externas] estavam surtindo efeito."

Frei Rodrigo Peret, membro da Pastoral da Terra de Uberlândia  (Foto: Pastoral da Terra/Divulgação)
Frei Rodrigo Peret, membro da Pastoral da Terra de Uberlândia (Foto: Pastoral da Terra/Divulgação)

Fim de semana de tensão
Do Brasil, além do frei, também foram detidos a filha do deputado estadual de Minas Gerais Durval Ângelo (PT) e os membros do Movimento de Atingidos pela Mineração, Maria Júlia Gomes de Andrade e Jarbas Vieira. Frei Rodrigo relata que a missão estava há dois dias no Zimbábue quando o incidente aconteceu. Depois de passarem a noite de sexta para sábado em celas, houve uma audiência no tribunal local.

Quatro advogados representaram o grupo, que foi orientado a se declarar culpado de invadir uma propriedade particular. "A estratégia era nos tirar dali o mais rápido possível. Se fôssemos contestar a aplicação do crime, poderia gerar um processo mais longo. Nós todos assumimos a culpa, mas o juiz acolheu o argumento da defesa que a área possui uma situação ambígua- não tinha placa que a identificasse como propriedade particular e há moradores no local. Como pena, poderíamos ficar cinco dias presos ou pagar 100 dólares por pessoa."
De Mutare, o grupo seguiu para a capital do Zimbábue, Harare, e, de lá, foi levado para a capital da África do Sul, Johanesburgo. Frei Rodrigo embarcou ainda no domingo para São Paulo. Ele chegou em Uberlândia por volta de 0h30 desta segunda-feira.

O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, com a esposa, Grace, em um comício: país enfrenta conflitos em áreas de mineração de diamantes (Foto: Reuters/Philimon Bulawayo)
O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, com a esposa, Grace, em um comício: país enfrenta conflitos em áreas de mineração de diamantes (Foto: Reuters/Philimon Bulawayo)

Preocupação
Na noite do último sábado (11), o frei de Uberlândia fez um comunicado à imprensa por e-mail relatando a situação vivida no país africano.
"Enquanto participávamos de um encontro com 2.000 pessoas na região de Marange, cuja pauta era a discussão sobre os impactos da atividade mineraria de diamante na área e a criação de um fundo comunitário para a melhoria das condições de vida das comunidades atingidas. Todos os estrangeiros foram presos logo no início do encontro, no começo da tarde do dia 10. Fomos conduzidos para o posto policial de Marange. De lá, levados para a Delegacia Central de Polícia de Mutare, onde fomos fichados e encarcerados", escreveu o frei.

No texto, o religioso ainda relatou o receio dos ativistas em deixarem o Zimbábue. "Nos preocupam a segurança e integridade físicas das mesmas [...]. A conjuntura é delicada e exige que se mantenha a mobilização e solidariedade internacional até a finalização total da situação”, diz em outro trecho do texto.
Em entrevista nesta segunda-feira, frei Rodrigo explicou que a preocupação dele e dos demais ativistas é com a situação de colegas de missão que moram no Zimbábue. Segundo ele, o país africano vive uma grave crise política e econômica.
Mais de 30 anos de missão
Frei Rodrigo Peret atua em missões ligadas a questões da terra desde 1984 e há cerca de cinco anos passou a fazer parte de movimentos que tentam ajudar pessoas que vivem em áreas de mineração.
"Eu já havia sido detido no Brasil, durante uma questão envolvendo reforma agrária no Triângulo Mineiro. Talvez isso tenha dado um pouco de tranquilidade na hora de enfrentar essa situação. A gente que manter o foco. Ser preso nessas circunstâncias é estar no cotidiano de um povo muito sofrido", disse.

Fonte: G1

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