O Ministério da Saúde vai investigar as denúncias de irregularidades na marcação de exames realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No domingo (9), uma
Em nota, o Ministério da Saúde informou que fiscalizará as irregularidades por meio do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) e reforçou que a organização das filas é de responsabilidade dos estados e municípios. Além disso, o órgão considera "inaceitável" qualquer irregularidade no SUS com objetivo de obter vantagens pessoais.
"As irregularidades apresentadas reforçam que é acertada a prioridade dada pela atual gestão do Ministério da Saúde à informatização da rede pública para dar transparência ao uso dos recursos públicos", salienta o órgão.
O sistema está em implantação no país para todos os serviços. Segundo o Ministério da Saúde, em um prazo de 60 dias os postos de saúde de todo o país devem adotar prontuário eletrônico e envio digital de todas as informações.
Nesta segunda-feira (10), a Secretaria da Saúde de Porto Alegre, que gerencia os atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), também anunciou a abertura de auditoria para apurar as denúncias.
No Rio Grande do Sul, um assessor do deputado federal Giovani Cherini (PR) apareceu como suspeito de participar de uma fraude que oferece exames pelo SUS, em tempo recorde, em troca de R$ 50. O secretário de saúde de Porto Alegre confirmou que os exames mostrados na reportagem foram pagos pelo SUS.
"Nós vamos pegar a prestação de contas que foi feita pelo prestador do serviço junto com o atendimento feito pelas pessoas. O que percebe-se é o seguinte: houve algumas desistências e essa quadrilha, essas pessoas aproveitam para trocar essas pessoas e colocarem outras. Então, nós precisamos fazer uma averiguação", afirma Fernando Ritter, titular da pasta de Saúde da capital gaúcha.
O esquema
A fraude foi descoberta em São Lourenço do Sul, na Região Sul do estado, onde um frentista de um posto de gasolina foi flagrado negociando exames de imagem pelo SUS em troca de R$ 50, sem passar pela fila do sistema. Candidato não eleito a vereador na cidade, Caco do Posto (PDT), disse que a fraude é operada pelo deputado federal Giovani Cherini (PR) e por um auxiliar dele.
"Faz três anos que eu venho fazendo isso para o deputado Cherini. Se amanhã ou depois der uma zebra, ele pode ser até cassado por causa disso daí", admitiu, sem saber que estava sendo gravado.
A reportagem acompanhou o passo a passo da fraude. O dinheiro pago pelo exame dá direito a um serviço completo: quando chegam em Porto Alegre, os pacientes são recebidos pelo assessor do deputado Cherini, Martinho de Brum. Ele é responsável por levá-los até a clínica Radicom, credenciada pela Secretaria Municipal da Saúde, gestora do SUS na capital.
Enquanto aguardava pelo atendimento, Martinho deu mais detalhes do esquema. Disse que era o responsável por "controlar" o comércio de exames e que os R$ 50 seriam destinados a um certo "doutor". Ele ainda tentou recrutar para o esquema um integrante da equipe de reportagem, pensando que conversava com um morador do interior.
"Tu vai ser o nosso representante lá daí. Vou botar lá. Aí ele (Cherini) vai te ligar no dia do teu aniversário. Qualquer coisa a gente faz contigo. Indicar os paciente. Pode ser até um cabo eleitoral", disse Martinho.
Pacientes prejudicados
A fraude prejudica pacientes como o aposentado Sílvio Gusmão, que está há um ano na fila para realizar uma ressonância pelo SUS, a mesma que o frentista e o assessor do deputado Cherini conseguem em dois dias. Ele vive em uma cadeira de rodas e vê sua saúde piorar a cada dia.
"Ultimamente, piorou a situação das pernas, ficou com muita rigidez. A dor aumentou também nas costas", lamenta Silvio.
Já os beneficiados pelo esquema ilegal chegam a receber o resultado dos exames em casa, com o santinho de Caco do Posto anexado ao laudo. Ele deixou claro benefício eleitoral que pretendia obter com a fraude para furar a fila do SUS. "É o que eu digo sempre, se eu achar que eu mereço, me ajude no voto. E ele (deputado) também", afirmou.
Deputado nega participação e diz assessor será demitido
Mais tarde, confrontado pela equipe de reportagem, o frentista negou participação no esquema. Assim como o deputado federal Giovani Cherini, que anunciou que irá demitir o assessor Martinho de Brum.
"Jamais autorizei, jamais comunguei com coisa ilegal e irregular. E vou dizer mais: se comprovar isso aqui, eu peço renúncia aqui da Câmara, se comprovar qualquer tipo de participação", afirmou Cherini.
Em nota, a assessoria da direção nacional do PR informou que o deputado vai ingressar na justiça contra "os responsáveis pela vinculação de seu nome ao grave escândalo". Além disso, observa que a "ligação entre o deputado e o caso está restrita a má conduta de um auxiliar e um candidato a vereador, que agiam sem o conhecimento do parlamentar".
Segundo a nota, o auxiliar de Cherini foi exonerado do cargo. "O frentista candidato a vereador não é do mesmo partido que o deputado e jamais prestou serviços ao respectivo escritório político." A assessoria da direção nacional do partido observa ainda que o deputado defende a apuração das responsabilidades e que está colaborando nas investigações.
Depois de checar os dados de uma das pacientes, a Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre confirmou que o exame foi pago pelo SUS, sem passar por qualquer regulação, ou seja, sem fazer parte da fila. O órgão anunciou abertura de auditoria. Já a direção da clínica Radicom garantiu que desconhecia o esquema e que abriu uma investigação interna.
A reportagem tenta entrar em contato com Martinho de Brum mas ainda não obteve retorno.
Fonte: G1
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