Gravação indica que fraude na fila do SUS tenha ocorrido em mais cidades

Um "representante" do deputado federal Giovani Cherini (PR-RS) afirma que o esquema montado para furar a fila no SUS pode estar acontecendo em várias cidades do

Rio Grande do Sul. Sem saber que a conversa com o repórter estava sendo gravada, Sidenei Gehling admite participação no esquema e cogita que a mesma prática aconteça em outros lugares, como mostra o RBS Notícias. 

No Rio Grande do Sul, a fraude foi descoberta em São Lourenço do Sul, na Região Sul do estado, onde um frentista de um posto de gasolina foi flagrado negociando exames de imagem pelo SUS em troca de R$ 50, sem passar pela fila do sistema. Ele é Altair Fonseca, candidato não eleito a vereador na cidade e conhecido por Caco do Posto (PDT).

Nas redes sociais, Gehling se diz representante de Cherini e aparece numa foto ao lado do frentista no escritório do deputado em Porto Alegre. No esquema, ele atuava como intermediário entre o frentista e o assessor do político, Martinho Brum – que levava os pacientes para os exames.

Na gravação, ele observa que tinha outras pessoas para levar até os exames. "Não é só nós de São Lourenço, é de todos os municípios que chegam ali."  

Gehling ainda detalha como funciona o transporte do paciente até a clínica. "A gente vai entrar em contato com você, vai entrar em contato com o Martinho." Ele demonstra cautela ao tratar do assunto por telefone. Diz que os R$ 50 pagos ao frentista seriam entregues a um médico. "É os R$ 50 que o médico... nem posso falar muito por telefone."

Já o frentista revela que participa do esquema há três anos. "A gente tem um acesso às pessoas que marcam pra nós. Lá de Porto Alegre, na clínica, tem gente que marca isso para nós. O deputado tem uma pessoa que busca na rodoviária, que leva na clínica, que traz."

O responsável por buscar os pacientes era Martinho Brum. Como assessor de Cherini, ele ganha R$ 3,7 mil de salário e mais R$ 900 de auxílios. Em maio de 2007, ele foi demitido da Casa Civil do governo do estado, onde era cargo de confiança, porque não aparecia ao trabalho. Era conhecido por conseguir exames pelo SUS na capital em tempo recorde, para pacientes vindos do interior, e foi contratado por Cherini.

Nesta terça-feira, a RBS TV procurou Gehling em São Lourenço do Sul. Ele negou envolvimento, mas não quis gravar entrevista. Cherini negou participação no esquema. "E vou dizer mais: se comprovar isso aqui eu peço renúncia aqui da Câmara, se comprovar qualquer tipo de participação minha nisso aqui."

Deputado exonera servidor

Em nota, o deputado anunciou que vai processar quem vinculou seu nome ao grave escândalo revelado pelo Fantástico, no caso, o frentista do posto. Em nota, a assessoria da direção nacional do PR informou que o deputado vai ingressar na justiça contra "os responsáveis pela vinculação de seu nome ao grave escândalo". Além disso, observa que a "ligação entre o deputado e o caso está restrita a má conduta de um auxiliar e um candidato a vereador, que agiam sem o conhecimento do parlamentar".

Segundo a nota, o auxiliar de Cherini foi exonerado do cargo. "O frentista candidato a vereador não é do mesmo partido que o deputado e jamais prestou serviços ao respectivo escritório político." A assessoria da direção nacional do partido observa ainda que o deputado defende a apuração das responsabilidades e que está colaborando nas investigações.

Ministério da Saúde vai apurar irregularidades

Nesta segunda-feira (10), o Ministério da Saúde anunciou que vai investigar as irregularidades na marcação de exames realizados pelo SUS. Em nota, o Ministério da Saúde informou que fiscalizará as irregularidades por meio do Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) e reforçou que a organização das filas é de responsabilidade dos estados e municípios. Além disso, o órgão considera "inaceitável" qualquer irregularidade no SUS com objetivo de obter vantagens pessoais.

"As irregularidades apresentadas reforçam que é acertada a prioridade dada pela atual gestão do Ministério da Saúde à informatização da rede pública para dar transparência ao uso dos recursos públicos", salienta o órgão.

O sistema está em implantação no país para todos os serviços. Segundo o Ministério da Saúde, em um prazo de 60 dias os postos de saúde de todo o país devem adotar prontuário eletrônico e envio digital de todas as informações.

A Secretaria da Saúde de Porto Alegre, que gerencia os atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), também anunciou nesta segunda-feira a abertura de auditoria para apurar as denúncias.

O secretário de saúde de Porto Alegre confirmou que os exames mostrados na reportagem foram pagos pelo SUS.

"Nós vamos pegar a prestação de contas que foi feita pelo prestador do serviço junto com o atendimento feito pelas pessoas. O que percebe-se é o seguinte: houve algumas desistências e essa quadrilha, essas pessoas aproveitam para trocar essas pessoas e colocarem outras. Então, nós precisamos fazer uma averiguação", afirma Fernando Ritter, titular da pasta de Saúde da capital gaúcha.

Fonte: G1