quarta-feira, março 16, 2016

Após sobreviver a atentado com bomba, sírio 'se refugia' em time do Paulistão

Feras Al Naief sobreviveu a um ataque terroristaUm atentado com bomba no início do ano passado matou cerca de 50 pessoas e deixou mais de uma centena de feridos em Damasco, na
Síria. Anos de experiências assim, a perda do pai naquela tragédia e o medo do que poderia acontecer no futuro bastaram para que Firas Alnaif deixasse a terra natal com a mãe, mulher e os dois filhos e viesse para o Brasil em busca de refúgio. E ele encontrou paz onde menos poderia esperar: no Penapolense, de Penápolis (a 426 km de São Paulo), clube da segunda divisão paulista.

Há cerca de nove meses no país, Firas ajuda o clube como massagista, fruto de uma experiência que trouxe da terra natal, onde formou como fisioterapeuta e especializou-se em massoterapia. Chegou a trabalhar em clube local, mas o abandonou ao deixar o país.

Firas não é vinculado oficialmente ao Penapolense, segundo explicou Paulo Rogério de Carvalho, gerente de futebol da equipe, mas ajuda o clube como um colaborador fixo.

"Ele não é funcionário. Vem esporadicamente ao Penapolense para nos ajudar. Aplica massagem nos jogadores após os treinos. Todo mundo o adora e ele adotou o time. É muito comum vê-lo nos jogos, com os filhos, torcendo", disse Carvalho.

Rosto conhecido entre os membros do Penapolense, Firas chegou a Penápolis por acaso e depois para o clube por outra obra do acaso.

ARQUIVO PESSOAL
Damasco passou ataques terroristas
Damasco passou ataques terroristas
Ao chegar ao Brasil, fixou-se em São Paulo. Conseguiu hospedar-se em um simples com a família, na expectativa de iniciar uma nova vida. Sem falar o idioma, no entanto, passou dificuldades. Aproximou-se do dono do hotel, que era natural de Penápolis.

Foi em uma conversa em que abordou as dificuldades de tentar a vida em São Paulo que houve a sugestão do dono do hotel para mudar-se para o interior paulista. "Esse empresário disse ao Firas que Penápolis é uma cidade muito tranquila, boa para morar e trabalhar e que por aqui ele poderia criar a família com tranquilidade", disse Carvalho.

Menos de um ano após deixar a Síria, Firas topou uma nova mudança. Foi com a família para o interior paulista. Não tinha muita ideia de como recomeçar até que o destino sorriu novamente e ajudou o massagista sírio a exercer a profissão que aprendeu.

"Ele é um especialista em lutas e conseguiu o contato de uma academia. Passou a ajudar nas aulas, com Jiu-Jitsu e tal. Foi quando ele conheceu Clodoaldo Aguiar, dono de uma imobiliária na cidade. O empresário tinha um problema nas costas e o Firas conseguiu resolver esse problema aplicando as massagens que aprendeu. Clodoaldo ficou admirado e, como é muito próximo do Penapolense, nos apresentou ao Firas", relembrou Carvalho.

MÍMICAS E PAUSA PARA REZAR 

Firas Alnaif não sabe falar português. Fala árabe, russo e um pouco de inglês. Ou seja, a comunicação em Penápolis não é nada fácil para ele.

"A gente usa muita mímica para conseguir se entender. É a linguagem universal (risos). Temos ajudado ele no que ele precisa na cidade. Também está aprendendo nossa cultura. Os trâmites no Brasil, as coisas do futebol. Algo incomum para nós, no clube, são os momentos em que ele para para rezar. Ele é mulçumano e faz as cinco orações dele por dia", disse Carvalho.

REPRODUÇÃO FACEBOOK
Firas (ao centro) trabalha com lutadores também
Firas (ao centro) trabalha com lutadores também
O dirigente do Penapolense contou também que Firas chegou ao Brasil sem qualquer vínculo com o passado na Síria.

Somente as lembranças do que viveu.

"Ele perdeu quase tudo que tinha nas explosões. Ficou desabrigado. As poucas coisas que resistiram ao atentado foram roubadas. Nem mesmo fotos ele tem do antepassados dele. É uma história muito triste e também interessante porque ele está recomeçando. Ele tem dois filhos na faixa de 2 a 6 anos. Quer criar bem a família dele no Brasil e, diante de todo o terror que ele já vivenciou, sinto que finalmente ele está achando a paz que queria", relatou o dirigente.

"Estou ainda me adaptando, ainda conhecendo e aprendendo sobre o Brasil", disse Firas, com dificuldade para se comunicar, ao conversar com a reportagem por telefone.

SITUAÇÃO È COMPLICADA NA SÉRIE A2

O Penapolense vive dias complicados. Depois de permanecer na elite do Paulista, quando chegou até as semifinais em 2014. O time caiu para a Série A2 no ano passado.

ARQUIVO PESSOAL
Firas trabalhava com futebol na Síria
Firas trabalhava com futebol na Síria
Na atual temporada briga contra a degola para a terceira divisão. O clube está na 17ª posição, com 11 pontos e enfrentará o Guarani nesta quarta-feira, às 19h30. 

Carvalho, que tem 35 anos, está no clube desde setembro de 2012 e comando um projeto de gestão profissional no clube, cuja ambição é retornar para a elite estadual.

"Nós chegamos até a semfinal da Copa Paulista do ano passado e mantivemos a base para esse ano. Temos um projeto para deixar o clube autosustentável nas categorias de base e já protocilamos três projetos de lei de incentivo", disse Carvalho.

Fonte: ESPN

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