terça-feira, janeiro 13, 2015

Suspensão de atendimentos pelo SUS mobiliza famílias de doentes mentais

http://cidadenewsitau.blogspot.com.br/Familiares de pacientes com transtornos mentais e dependentes químicos que recebem tratamento psiquiátrico no Hospital Severino
Lopes, antiga Casa de Saúde de Natal, estão desesperados com a suspensão dos atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS) na unidade, ocorrida desde o dia 26 de dezembro passado. Eles realizaram ato público na manhã desta terça-feira (13) em frente ao prédio da Prefeitura Municipal, na Cidade Alta, em protesto contra a situação e recolheram assinaturas para o abaixo-assinado que será entregue ao prefeito da capital nos próximos dias.

Segundo o presidente da Associação dos Amigos e Familiares de Doentes Mentais do Rio Grande do Norte (AFCM-RN), Ailton Torres, a intenção é sensibilizar Carlos Eduardo para que ele entenda a realidade deficitária dos leitos psiquiátricos no Estado e dê continuidade ao convênio SUS com o hospital filantrópico, que vive uma situação crítica por causa dos baixos valores pagos por consultas e internações de pacientes da rede pública.

“Estamos lutando para que seja garantido o direito dos pacientes mentais a um tratamento de saúde digno e de qualidade, como preconiza a Lei federal nº 10.216/2001. Mas, que o município de Natal não atende, já que não repassa os valores necessários para que o hospital possa oferecer um atendimento como se deve. E, sinceramente, se esse contrato com o SUS não tiver continuidade, não sei o que será das centenas de pacientes de transtornos e dependência química que precisam de atenção no Estado”, afirmou.

Ailton disse ainda que não sabe o que acontecerá à sua irmã, que sofre de esquizofrenia crônica e vive em constantes internações na unidade hospitalar, com a suspensão dos atendimentos e tratamentos via SUS no Severino Lopes. “Queríamos que o prefeito entendesse e se sensibilizasse para esse problema grave e que só tende a piorar com a suspensão desse convênio. Vamos perguntar a Carlos Eduardo o que vamos fazer a partir de agora, porque não temos condições de pagar um tratamento psiquiátrico particular”, afirmou.

Mães de pacientes em desespero

O fim do convênio com o município trouxe preocupações e desespero em familiares de pacientes com transtornos mentais e dependentes químicos atendidos pelo Hospital Severino Lopes e que necessitam de tratamento contínuo para não sofrerem crises e surtos psicóticos. Com um filho internado há quase três anos na unidade, a dona de casa Josileide Tertulino lamentou a situação e revelou medo do futuro.

“Só Jesus para nos ajudar. Estou desesperada, sem saber o que fazer, porque, infelizmente, meu filho não tem condições psicológicas para viver em sociedade e necessita de tratamento contínuo. Ele tem surtos psicóticos constantes e, nessas crises, pode colocar sua vida e a de outras pessoas em risco de morte iminente, porque só volta ao normal com a medicação administrada no hospital. Por isso, ele está a tanto tempo internado”, explicou.

A aposentada Joana Santos também não esconde as lágrimas ao falar sobre a situação e diz temer pela própria vida, caso o filho de 40 anos fique sem tratamento psiquiátrico. Ela disse que não tem condições financeiras de arcar com as despesas de uma internação em hospital privado e que espera que o prefeito Carlos Eduardo se sensibilize e se coloque no lugar das famílias prejudicadas.

“Não sei como será daqui para frente, mas sei que se meu filho ficar sem tratamento, vai acabar me matando e ferindo outras pessoas, ou ele mesmo, já que vive fora da realidade. Ele tem esquizofrenia e vive em constantes e longas internações desde os 14 anos de idade, já tentou me matar várias vezes quando em surto e não conseguiu por pouco. Mas já quebrou meu braço, dedos e quase arrancou a minha pele com mordidas. É uma doença de alto risco, que precisa de atenção integral, como a que ele recebe hoje no hospital Severino Lopes, mas deve perder por causa do fim desse convênio”, lamentou.

Funcionários e familiares fazem abaixo-assinado

Mobilizados em frente ao prédio da Prefeitura Municipal, os familiares e amigos de pacientes e profissionais que atuam na área passaram parte da manhã recolhendo assinaturas para o documento que será entregue a Carlos Eduardo nos próximos dias. Segundo a assistente social do Hospital Severino Lopes, Augivanda Barreto, o abaixo-assinado é em defesa da continuidade do convênio SUS com a unidade e visa garantir o dieito constitucional à assistência à saúde e ao direito pela vida dos pacientes internados e atendidos no local.

“Vivemos uma situação crítica e deficitária de leitos psiquiátricos no Rio Grande do Norte e especialmente em Natal. E, com o fim desse contrato, vai restar somente o Hospital João Machado para atender a essa parcela da população, que certamente não dará conta de atender a procura. Vai ser, com certeza, uma grande calamidade pública, porque nem o Estado, nem a rede básica, que são os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), não comportam a demanda”, afirmou.

Ela explicou que o que se pede é que o município de Natal cumpra a sua obrigação de fornecer os serviços de acordo com as necessidades da população, uma vez que não entra com nenhuma contrapartida própria para complementar os R$ 43,73 pagos pelo Ministério da Saúde. “Isso é feito por várias cidades de São Paulo, Paraná e Goiás, mas Natal não, mesmo sendo responsabilidade da prefeitura”, falou.

Em nota oficial, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) disse que esclareceu à direção do hospital sua impossibilidade de atender às reivindicações e que ficou acertado que ela e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) fariam uma auditoria compartilhada – já que os usuários também são de outros municípios, para buscar a viabilidade do hospital assinar contrato com o SUS.

Já sobre a ação que o hospital deve ingressar na justiça nos próximos dias, a SMS solicitou ajuizamento de ação desde o dia 30 de dezembro, através da Procuradoria Geral do Município (PGM), pedindo tempo para assumir gradativamente os atendimentos, visto que atualmente a rede não comporta todos os pacientes. E que os serviços prestados pelo Severino Lopes são remunerados conforme o preconizado pela legislação do SUS vigente.

Fonte: Portal JH

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