quarta-feira, novembro 12, 2014

Pais dizem que garoto foi espancado por torcedores do Goiás após o Enem

Imagem mostra garoto logo após agressões, em Goiás (Foto: Arquivo pessoal)A família de um adolescente de 15 anos denuncia que ele foi assaltado e espancado por torcedores do Goiás Esporte Clube, no último domingo (9), logo após fazer a
prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em Goiânia. Segundo os pais do garoto, testemunhas relataram que cerca de 30 pessoas, que usavam camisas do time e seguiam para a partida do clube contra o Bahia, no Estádio Serra Dourada , atacaram o menor, o empurraram para fora do coletivo e, quando ele estava caído na rua, ainda o agrediram com socos e pauladas.

“Meu filho nunca teve problemas com ninguém e está atordoado, sem saber os motivos. Não sei se queriam apenas assaltar ele ou se o machucaram por pura maldade”, relatou ao G1 a mãe da vítima, a funcionária pública Geyzebel de Melo, 33 anos. O celular do estudante, que sofreu traumatismo craniano e apresenta diversos ferimentos pelo corpo, foi roubado.
Após as agressões, o adolescente foi socorrido e encaminhado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Após o primeiro atendimento, ele foi transferido para o Hospital Ortopédico, onde permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Segundo a mãe, ele já passou por uma cirurgia para a retirada de um coágulo no cérebro e o estado de saúde é grave.“Apesar da situação complicada, ele está consciente e consegue falar um pouquinho. Mas os médicos disseram que ele ainda inspira muitos cuidados”, relatou Geyzebel.

O G1 entrou em contato com o Hospital Ortopédico, mas a unidade não divulgou as informações sobre o estado de saúde do adolescente.

A funcionária pública afirma que, antes das agressões, o filho havia feito a prova do Enem, em uma faculdade na Avenida T-2, no Setor Bueno. Ele ainda cursa o 1º ano do ensino médio, mas fez o exame como treineiro. Em seguida, pegou um ônibus até a Vila Brasília, onde embarcou em outro coletivo, da linha 020, com destino ao Terminal Isidória.

“Eu e meu marido íamos encontrar com ele lá, pois íamos para a igreja, mas no meio do caminho ficamos sabendo que ele tinha sofrido um acidente e estava na Avenida Quarta Radial. Corremos para lá e o encontramos sendo socorrido por populares, todo ensanguentado”, relatou.
Na ocasião, segundo a mãe, o garoto usava camiseta preta e calça jeans. “Ele não tinha nenhuma identificação de time. Nós torcemos para o Goiás também, mas meu filho nunca foi muito ligado a usar uniformes. Ele gosta mesmo é de estudar e nunca teve problemas com ninguém. É muito querido na escola, tem boas notas”, disse.

Pais pedem que polícia apure a agressão sofrida pelo filho (Foto: Fernanda Borges/G1)Pais pedem que polícia apure a agressão
sofrida pelo filho (Foto: Fernanda Borges/G1)
Testemunha
Uma senhora de 60 anos, que mora nas proximidades do local onde o estudante foi espancado e não quis se identificar, diz que presenciou tudo da janela de casa. “Um dos rapazes que estavam agredindo assumiu e disse ‘eu bati nele, vamos embora que esse já é presunto’. Eu só me dei conta da gravidade quando desci e vi o rosto dele desfigurado. Tinha muito sangue”, disse.
Segundo ela, em dia de jogos, as confusões envolvendo torcedores são comuns. “Toda vez tem bagunça, é assim. Só que desta vez foi pior. Pelo barulho, vi que estava acontecendo algo diferente. Eles [torcedores] fazem o que querem, agridem ameaçam”.
Investigação
Os pais dizem que registraram uma ocorrência sobre o caso no posto da Polícia Civil que fica dentro do Hugo. Em seguida, o caso foi encaminhado para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). “Estivemos lá na última segunda-feira [10], mas um escrivão nos atendeu e disse que precisamos esperar que eles façam contato. Mas até agora nada. Queremos que o caso seja devidamente apurado, pois foi muita crueldade o que fizeram”, afirmou Geyzebel.
A delegada Renata Vieira, titular da DPCA, disse que o caso será devidamente investigado. “Recebemos o boletim de ocorrência, já que ele foi registrado no Hugo, e fomos até o hospital ouvir a vítima. Ele não se lembra das agressões, apenas que entrou no ônibus e que, cerca de 15 segundos depois, foi empurrado para fora”, disse.
Segundo ela, serão feitas diligências no local onde ocorreu o espancamento para que sejam ouvidas testemunhas. “Também vamos ver se existem câmeras de segurança na região que registraram o que aconteceu”, ressaltou.
Omissão de socorro
O pai do menino, o microempresário Alexander Martins dos Reis, 35,afirma que o motorista do ônibus foi embora sem prestar socorro e que foi o próprio filho quem deu o número do telefone para a pessoa que o ajudou. “Essa testemunha nos disse que ele desmaiou após ser espancado, mas depois acordou e passou meu contato. O motorista chegou a parar o ônibus depois que meu filho foi empurrado para fora e ficou parado enquanto o grupo desceu para cometer as agressões. Em seguida, todos entraram de novo no coletivo e foram embora, deixando meu filho lá como morto”, contou.
Segundo o pai, nem mesmo depois de chegar no terminal de ônibus o condutor do coletivo acionou a polícia e, por isso, o acusa por omissão de socorro. “Entendo que ele pode ter ficado com medo, pois eram muitos os agressores, mas o papel dele era ter avisado as autoridades sobre o que aconteceu. Por sorte, as testemunhas acionaram o Corpo de Bombeiros e, quando chegamos lá, eles também apareceram em seguida e meu filho foi socorrido com vida. Se demorasse um pouco mais, ele poderia ter morrido mesmo”.

A assessoria de imprensa da Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) informou que irá apurar o motivo do motorista não ter denunciado o caso. O órgão disse que vai pedir à polícia que investigue se o condutor e os passageiros do ônibus também foram ameaçados pelos torcedores.
Ainda segundo a RMTC, o motorista já foi identificado e é muito conhecido, pois trabalha na linha diariamente. "Isso reforça ainda mais a tese de que ele também ficou com medo", ressaltou o assessor Marcos Villas Boas.

Fonte: G1

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