sexta-feira, maio 10, 2013

Por ameaça a testemunha, MP denuncia 4 homens ligados a pastor preso


O Ministério Público do Rio de Janeiro denunciou à Justiça, na terça-feira (7), quatro homens ligados a Marcos Pereira da Silva, pastor da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, preso preventivamente sob suspeita de estupro, por ameaçarem uma testemunha do caso.

Segundo a denúncia do MP, o pastor teria mandado Daniel Candeias da Silva e os motoristas Ubirajara Moraes Pereira, o "Bira",  Cezar Luiz Moraes Pereira, o "Amaral", e Lúcio Oliveira Câmara Filho ameaçarem uma mulher, após ela ter afirmado em depoimento que foi abusada sexualmente pelo pastor quando era criança.

"No dia 28 de março de 2012, entre 10h e 17h, [...] os denunciados Ubirajara, Cezar Luiz, Lúcio, Daniel e dois outros indivíduos não identificados, com o fim de favorecer o 1.º denunciado Marcos Pereira, ficaram rondando e ameaçando através de gestos D. que estava trabalhando na loja J.. [...]", diz a denúncia do promotor Rogério Lima, da 8ª Promotoria de Investigação Penal do Ministério Público do Rio de Janeiro. "Os denunciados Ubirajara, Cezar Luiz e Lúcio ficaram apontando dois dedos para os próprios olhos e, em seguida, apontaram para D., fazendo entender que a estavam vigiando, enquanto que o denunciado Daniel apontou com os dedos em formato de um revólver como se estivesse disparando contra D."

Segundo o texto do promotor, os denunciados fizeram sinais com os dedos para que ela ficasse calada. A mulher disse ainda que os homens voltaram a ameaçá-la, após ela denunciá-los à polícia.

"Um dia após D. prestar depoimento [...] sobre as ameaças sofridas no dia 28 de março, os denunciados Ubirajara e Cezar Luiz, a mando de Marcos e para favorecê-lo, ficaram em frente ao local de trabalho de D. de braços cruzados e olhando-a fixamente, numa atitude ameaçadora. Os denunciados Ubirajara e Cezar Luiza somente foram embora quando D. chamou o seu chefe, ocasião em que cada um subiu numa motocicleta e foi embora", diz a denúncia.

Pereira foi preso preventivamente na noite da terça-feira (7), acusado de ter estuprado fieis de sua igreja. Na quinta-feira (10), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negou dois habeas corpus a ele. Um dos desembargadores que negou o pedido alegou proteção à ordem pública, e o outro disse que a decisão de prisão não é ilegal. 

Segundo as denúncias do MP, o réu é pessoa de alta periculosidade, e ameaça direta e indiretamente as pessoas que o contrariam. Ainda de acordo com o MP, o pastor utiliza-se de sua autoridade religiosa para amedrontar e, até mesmo, aterrorizar suas vítimas.

Para o advogado do pastor, Marcelo Patrício, apenas os depoimentos das mulheres não podem ser considerados como provas para embasar a denúncia. "Não há provas contra ele, só depoimentos. Imagina se você vai na delegacia e diz que o Luciano Huck te estuprou. A polícia não pode ir lá prendê-lo baseado somente nisso", disse.

"A denúncia diz que ele poderia ameaçar as vítimas. A mulher diz que o crime aconteceu em 2006. Se fosse para ele ameaçar, ele já teria ameaçado", acrescentou o advogado do pastor. "A denúncia também fala do risco de ele fugir. O pastor esteve nos EUA há 15 dias. Se ele estivesse com medo, teria ficado lá."

Entenda o caso
O pastor Marcos Pereira foi preso na noite da terça-feira (7), suspeito de estuprar seis mulheres no Rio de Janeiro. Ele é suspeito de abusar sexualmente de seis fiéis da igreja que comanda, a Assembleia de Deus dos Últimos Dias. Uma das vítimas já foi casada com o pastor e teria sido abusada enquanto ainda era mulher do suspeito.

Segundo o delegado Márcio Mendonça, da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), as investigações começaram há pouco mais de um ano, a partir de acusações que o coordenador da ONG AfroReggae, José Júnior, fez sobre o suposto envolvimento de Marcos Pereira com tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Ao longo das investigações, a polícia descobriu que o pastor teria estuprado seis fiéis, entre elas três menores de idade.

Ele é investigado ainda pela suposta participação em quatro homicídios, esquemas de lavagem de dinheiro e organização de orgias com menores de idade em um apartamento em Copacabana avaliado em R$ 8 milhões e registrado em nome da Assembleia de Deus dos Últimos Dias. As pessoas eram chamadas para cultos, mas Pereira as forçava a participar da orgia para "serem purificadas", segundo o delegado. O policial disse ainda que o pastor costumava agir com violência, e que obrigava mulheres a fazer sexo com mulheres e homens a transar com homens.

Um dos assassinatos no qual Marcos Pereira estaria envolvido seria o de uma jovem que descobriu as orgias e teria tentado denunciá-lo. Um sobrinho de Marcos Pereira também estaria envolvido neste assassinato. O pastor não possui formação em Teologia. Por isso, será encaminhado nesta quarta-feira a uma prisão comum no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste.

Marcos Pereira ganhou notoriedade por ajudar na reabilitação de dependentes quimícos e resgatar criminosos ameaçados de morte por traficantes. Em 2004, ele negociou com detentos o fim de uma rebelião em um presídio no Rio de Janeiro.

Ele chegou a trabalhar junto com a ONG AfroReggae, que se dedica a recuperar moradores de favelas que tiveram envolvimento com o tráfico de drogas. A parceria terminou em fevereiro de 2012, quando José Júnior, em entrevista ao jornal "Extra", acusou o pastor de ter ordenado os ataques realizados por traficantes contra policiais do Rio, em 2006 e 2010. Pereira negou as acusações e processou Júnior por calúnia e difamação, mas o processo foi extinto pela Justiça.

Reprodução Cidade News Itaú

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