quarta-feira, janeiro 23, 2013

Diretora do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel afirma: “Demanda judicial foi a gota d’água”


Em meio à crise da saúde pública do Rio Grande do Norte, nem mesmo as ações que devem ser implementadas pelo SOS Emergência durante os próximos meses no maior hospital de urgência e emergência do Estado, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, foram suficientes para garantir a permanência da diretora geral da unidade, Maria de Fátima Pereira Pinheiro, no cargo. A diretora pediu exoneração nesta terça-feira alegando problemas pessoais. “Solicitei minha exoneração porque não aguento mais tanta pressão. Estou adoecendo, preciso de qualidade de vida”. Apesar do pedido, Fátima Pinheiro deve continuar no cargo até que o Governo do Estado encontre um substituto. Quando o novo diretor for nomeado, Fátima Pinheiro deve continuar no Walfredo Gurgel, sendo que na cirurgia geral do Hospital, local que ela trabalha há mais de 25 anos. O interventor da Associação Marca na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pajuçara, o advogado Marcondes Diógenes de Souza Paiva foi sondado para assumir o cargo.

Essa é a terceira mudança na direção do Hospital Walfredo Gurgel em pouco mais de dois anos da atual administração estadual. Para pedir exoneração, Fátima Pinheiro afirmou que estava com problemas de saúde oriundos da rotina estressante à frente do hospital. “Além da superlotação, que foge à minha competência, tive problemas com ordens judiciais assinadas por juízes que não conhecem a realidade do Walfredo. Chegava uma demanda jurídica que não suportava mais. Isso acarretou problemas de estresse. Não aguentei”, explicou a diretora. A demanda judicial também foi o mesmo motivo que levou o medico ortopedista, Mozart Dias de Almeida a deixar a direção do Walfredo Gurgel no ano passado.

“A gota d’água para a minha saída da direção foi a alta demanda judicial que chega no Hospital Walfredo Gurgel em busca de leitos de UTI. Quando cheguei no hospital, com a informação de que eu poderia ser presa, me deparei com o juiz dentro do Walfredo Gurgel em busca de leito de UTI. Foi muito constrangedor me deparar com três policiais, o juiz e um oficial de justiça em frente a UGV (Unidade de Gerenciamento de Vagas) na busca por leitos de UTI, principalmente por não ser responsabilidade minha a contratação de leitos de UTI. Fiquei percorrendo o hospital com juiz, policial, tudo isso foi bastante constrangedor e não precisava passar por isso. Não estou saindo por medo, pois sou ousada e tenho determinação. Pelo hospital e pelo que estou fazendo aqui eu ficaria. Por mim, não sairia, mas as demandas judiciais fizeram eu me sentir acuada”, destacou a diretora.

No final de dezembro do ano passado, a diretora Fátima Pinheiro, chegou a ser notificada e ameaçada de pagar multa caso não disponibilizasse, em caráter de urgência, vaga em uma das cinco UTIs do hospital para um paciente. Segundo a diretora, a multa poderia chegar a R$ 10 mil. A decisão foi assinada pelo juiz da 6ª Vara da Família.

Com experiência de mais de 25 anos de atuação como plantonista do Pronto-Socorro Clóvis Sarinho, Fátima Pinheiro assumiu a direção geral do Walfredo Gurgel no dia 23 de junho do ano passado. Médica especialista em cirurgias gerais, ela conta que o problema do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel não é de gestão. “Não falta gestão ao Walfredo Gurgel. Falta apoio e dinheiro, pois apesar de dizerem que o hospital tem autonomia financeira, pela alta demanda, constantemente ficamos sem dotação orçamentária. A superlotação do hospital não se resolve sem vontade política”, afirmou a diretora Fátima Pinheiro.

O secretário estadual de Saúde Pública, Isaú Gerino Vilela, lamentou a decisão da diretora do Walfredo Gurgel, mas aceitou o pedido de exoneração. “Entendo os motivos apresentados pela diretora Fátima Pinheiro, reconheço o trabalho dela, que veio nos ajudar em um momento de dificuldade, mas não posso forçá-la a continuar com essa situação constrangedora. Estou há pouco mais de seis meses à frente da saúde estadual e não podemos dar solução de imediato aos problemas, mas quando há a demanda judicial é para conseguirmos imediatamente os leitos. Esse problema da alta demanda judicial é constrangedor mesmo, e por vezes recai sobre mim e sobre a governadora, quando a falta de leitos de UTI é geral, inclusive na iniciativa privada”, afirmou o secretário.

Para tentar minimizar esses problemas da constante demanda judicial por busca de leitos de UTI, o secretário de saúde conta que a reforma que está sendo realizada em mais de 13 hospitais do Estado deve abrir mais de 50 novos leitos de UTI.

Geraldo Ferreira, presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), considera que o pedido de exoneração da diretora é mais uma prova do “descuido do Governo do Estado com a saúde pública”. O presidente do Sindicato afirmou que a diretora teve boa vontade no cargo, mas não contou com o apoio da administração estadual. “Há uma covardia do Governo com os diretores do Walfredo e das demais unidades médicas. Eles convidam para assumir a função e promovem o sucateamento dos hospitais. Não há apoio algum. Dessa forma não há quem consiga resolver os problemas sem o respaldo de quem tem o poder de fazer as mudanças, que é o secretário de Saúde e a própria governadora”, destacou.

A diretora conta que nos sete meses que passou à frente da Direção do Hospital Walfredo Gurgel não pode fazer muita coisa, diante do caos que estava a unidade quando ela assumiu o cargo. “O caos que recebi o Walfredo Gurgel seria impossível resolver todos os problemas em apenas seis meses. Mas tenho certeza absoluta de que, a partir de agora, as coisas vão começar a acontecer e se resolver, e me sinto triste em saber que estou saindo em um momento de mudança no Walfredo Gurgel, principalmente com a presença do SOS Emergências dentro do Hospital. Saio com o sentimento de dever cumprido, pois fiz tudo que estava ao meu alcance. O que não fiz era porque não era de minha responsabilidade”, destacou.

Decisão favorável ao Cremern

O juiz da 1ª Vara da Justiça Federal no Rio Grande do Norte, Magnus Augusto Costa Delgado, condenou o Estado, através da ação ordinária (processo n. 0003566-78.2012.4.05.8400) movida pelo Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte (Cremern), pela falta de materiais médico-hospitalares no Hospital Walfredo Gurgel e Pronto Socorro Clóvis Sarinho. A sentença deverá ser publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira, dia 24.

A sentença determina ainda que no prazo de dez dias, o Governo adquira e entregue ao Hospital Walfredo Gurgel/Clovis Sarinho todos os medicamentos em falta, descritos na ação. O Juiz fixou também multa pecuniária diária no valor de R$ 3 mil na pessoa da Governadora do Estado, Rosalba Ciarlini, no caso do descumprimento das determinações estabelecidas na sentença.

Reprodução Cidade News Itaú

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