segunda-feira, janeiro 14, 2013

A moda agora é ‘delegado especial’


A moda agora é delegado especial. Basta acontecer um crime que envolva alguém com um certo prestígio que começam a ecoar os pedidos de exclusividade. A pressão é para que uma equipe especial seja designada para apurar o referido crime com maior empenho. A falta de estrutura da Polícia Civil tem sido o fomentador dessa “nova moda”, que atinge principalmente o interior do Estado, onde há maior deficiência. A ideia não significa obrigatoriamente que o caso será apurado com mais eficiência.
O caso mais recente de pressão por um delegado exclusivo ocorreu na semana passada, em Apodi, quando o advogado Marcelo Roverlando Jorge de Moura, que tinha 38 anos, foi assassinado na noite de quarta-feira (9). A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se manifestou rapidamente e acionou a Delegacia-Geral da Polícia Civil (DEGEPOL), que é responsável pela gerência da instituição no RN. Tratou logo de pedir um delegado especial. O caso, a priori, começou a ser investigado pela equipe local, chefiada pelo delegado Renato Oliveira. Ele mesmo mostrou-se favorável à ideia da OAB.
Em Pau dos Ferros, o delegado Inácio Rodrigues de Lima enfrentou dificuldades semelhantes ao se deparar com um caso complexo. Foi quando o professor universitário Carlos Magno Viana Fonseca foi assassinado de forma violenta, em 21 de novembro de 2011. Ele foi alvo de disparos e depois teve o corpo queimado no porta-malas do seu carro, em Doutor Severiano, distante 174km de Mossoró e 20km de Pau dos Ferros. Na época, a Associação dos Docentes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (ADUERN) cobrou a nomeação de delegado especial.
“Acho um equívoco essa tendência de os órgãos procurarem a nomeação de delegados especiais... Isso é baseado em premissas falsas. Não vai ter delegado desocupado para investigar e aquele que vem não é melhor do que o que está no interior”, opina o delegado, que está há vários anos na Polícia Civil do RN, já passou por diversas unidades do interior e foi responsável pelo desfecho de casos extremamente complicados, como o de Carlos Magno ou o da morte do agropecuarista Elinaldo Simão, assassinado em abril de 2006, fruto de uma briga envolvendo famílias do interior do Estado.
Essa pressão por exclusividade tem se tornado comum no Rio Grande do Norte ao longo dos últimos anos. Em alguns casos, a equipe especial foi realmente designada. Geralmente são mandados policiais de Natal para as cidades do interior. Muitas delas não contam com a presença de policiais civis, o que impossibilita a investigação. Para suprir tais deficiências, uma mesma equipe acaba sendo responsável por várias cidades. Com as nomeações recentes promovidas pela Degepol, o problema foi reduzido, mas ainda é preocupante. O déficit de policiais civis no interior continua prejudicial.

Nomeação especial não garante resultado
A história recente da crônica policial norte-rio-grandense já ensinou essa lição. Nem todo caso que teve um delegado especial nomeado chegou ao resultado esperado. O exemplo mais prático disso foi no caso da morte do ex-prefeito Antônio Veras, do município de Campo Grande, situado no Alto Oeste potiguar. Na época, ele foi morto com dois policiais que faziam a segurança. Em março deste ano, o caso completará três anos, sem solução.
O crime foi considerado na época como um atentado contra a segurança pública potiguar, cuja elucidação foi tratada inicialmente pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (SESED) do RN como “questão de honra”.
Foram mortos o ex-prefeito Antônio Veras e os policiais militares Jackson Cristino Dantas e Solano Costa de Medeiros. O caso continua sob a responsabilidade do delegado Márcio Delgado Varandas, nomeado em caráter especial para dar a “resposta” que havia sido prometida pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social.
Procurado na sexta-feira, 11, para comentar o assunto, o delegado não atendeu as ligações feitas pela redação. Em setembro de 2011, porém, concedeu entrevista ao DE FATO e falou sobre a demora no caso. Na época, já havia se passado mais de um ano.
Márcio Delgado alegou falta de estrutura para investigar o crime, que chamou a atenção pela violência e mostrou-se extremamente complicado, conforme Delgado. Além da falta de estrutura, o medo que a população local tem também foi um entrave.
Outro caso que teve delegado especial foi quando mataram o então servidor da agência do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) de Mossoró Augusto Escóssia Nogueira Neto, assassinado no dia 3 de janeiro de 2007, em Mossoró. Nesse caso, a nomeação tinha função diferente.
O crime foi investigado por duas delegacias diferentes da cidade, ao mesmo tempo. Cada uma apresentou uma versão diferente. Para acabar com a confusão, o delegado Ronaldo Gomes, que na época trabalhava em Natal, foi nomeado para colocar um fim no problema.

Fonte: Defato/Cidade News Itaú

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