quarta-feira, agosto 09, 2023

Secretária de Saúde, médico e enfermeira são investigados por morte de estudante após superdosagem durante crise de ansiedade

Vitória Cristina Queiroz dos Santos, 21 anos, de Silvânia, morreu após dar entrada em hospital com crise de ansiedade — Foto: Divulgação/Defesa da família

A secretária de Saúde, o médico diretor clínico e a coordenadora de enfermagem do Hospital Municipal de Silvânia foram afastados após a morte de uma paciente. Segundo a família, a estudante de administração Vitória Cristina Queiroz dos Santos, de 21 anos, foi até a unidade com crise de ansiedade e o médico passou remédios contra indicados ao quadro clínico. A Polícia Civil investiga o caso.


“Eram medicamentos com a finalidade de entubação, não ansiedade. Normalmente utilizam para entubação 1 a 1.2 microgramas de um dos remédios, por peso. Ela teria que tomar 50 microgramas, mas foram aplicadas 4 ampolas de 10 miligramas, 2 mil microgramas”, explicou o advogado Jales Gregório.


Após a superdosagem, a jovem foi encaminhada à uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e ao Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (Hmap), onde foi confirmada a morte cerebral, segundo o advogado. Jales explicou também que a causa preliminar indicada para a morte foi uma parada cardiorrespiratória.


“Esses remédios rebaixam o sistema respiratório. Coincidentemente a causa da morte foi essa parada cardiorespiratória, que causou a morte encefálica”, completou.


Vitória Cristina Queiroz dos Santos, 21 anos, de Silvânia, morreu após dar entrada em hospital com crise de ansiedade — Foto: Reprodução/Redes Sociais


Os profissionais foram afastados nesta quarta-feira (9), após a Polícia Civil deflagrar a “Operação Paracelso”. De acordo com o delegado Leonardo Sanches, a investigação indicou que os profissionais falsificaram documentos para omitir a dosagem, o nome dos remédios e até os procedimentos feitos.


“Consta no inquérito que houve uma tentativa de suprimir documentos e a secretária tentou coagir servidores. O médico preencheu o prontuário falso sobre o que administrou na paciente. A coordenadora produziu documentos omitindo a quantidade, procedimentos e remédios administrados pelas enfermeiras”, explicou.


O g1 tentou contato por telefone com a Prefeitura de Silvânia, para obter um posicionamento, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem, o e-mail disponibilizado no site municipal consta como inexistente. A reportagem também não localizou a defesa da secretária Laydiane Gonçalves, do médico e da enfermeira.


Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou que não foi notificado sobre qualquer ação da Polícia Civil envolvendo investigações contra o médico. Além disso, explicou que "todas as denúncias relacionadas à conduta ética de médicos recebidas pelo Cremego ou das quais tomam conhecimento são apuradas e tramitam em total sigilo, conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional Médico".


O g1 pediu um posicionamento ao Conselho Regional de Enfermagem, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.



Detalhes do caso

Vitória deu entrada no Hospital de Silvânia no dia 3 de julho, por volta de 17h e, segundo o advogado, estava consciente e conversando. Na unidade, o médico receitou os remédios fentanila e midazolam. A mãe, que é farmacêutica, teve acesso às receitas médicas e buscou os prontuários da filha.


“Coincidentemente, os prontuários sumiram, foram suprimidos numa tentativa escancarada de esconder o erro cometido pelo médico”, disse o advogado.


Jales explicou que a estudante não tinha problemas de saúde. Segundo o advogado, o médico psiquiatra que fazia o acompanhamento de Vitória disse que nunca ouviu falar do uso dos remédios prescritos em Silvânia para o quadro clínico da jovem.



“Depois de fazerem as medicações, outro médico olhou a pupila e disse para a mãe que não tava reagente, que significa morte cerebral”, falou.

Depois disso, também no dia 3, por volta de 23h, a jovem foi encaminhada à UPA e, no caminho, mais doses de fentanila e midazolam foram aplicadas, conforme detalhou o advogado. Segundo o delegado, foi constatado um “dano cerebral muito grande” na unidade.


No dia 5 do mesmo mês, Vitória foi encaminhada ao Hmap. O óbito foi declarado no dia 9, quando foram feitos os exames para morte encefálica. Ao g1, o advogado pontuou que a família aguarda o laudo toxicológico da morte de Vitória.


Em nota, a Secretaria de Saúde de Aparecida informou que "é município polo da região Centro-Sul e que, seguindo fluxo da Regulação, pode receber pacientes de Silvania". No entanto, por causa da Lei Geral de Proteção de Dados "não é autorizada a divulgação de informações de prontuário médico de qualquer paciente sem sua anuência ou de seus familiares".


A secretaria disse também que, "no âmbito policial e do Judiciário, as informações médicas são repassadas mediante solicitação das autoridades competentes".


Fonte: g1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!