segunda-feira, janeiro 16, 2023

'Não é manifestação simples, é organização criminosa', diz interventor Ricardo Cappelli sobre atos golpistas no DF

"O que estamos enfrentando não é manifestação simples, é uma organização criminosa", foi a afirmação do interventor da segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. A entrevista foi concedida ao repórter da TV Globo Marcelo Canellas.


Interventor da segurança pública do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. — Foto: Reprodução/TV Globo


Cappelli assumiu a área por decreto de intervenção federal feito pelo presidente Lula após bolsonaristas golpistas invadirem os prédios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF).


De acordo com o interventor, policiais militares feridos durante os ataques afirmaram que, entre os envolvidos, existiam profissionais preparados para o combate e que conheciam as táticas utilizadas pela polícia.


"Um sargento chegou a me dizer que ele tem muitos anos na polícia, mas que foi a primeira vez que teve medo de morrer, porque a intenção deles [golpistas] era matar", diz Cappelli.

Falhas

O efetivo que fazia a segurança da Praça dos Três Poderes era menor do que o necessário para conter os cerca de 4 mil bolsonaristas, que avançaram com facilidade.


De acordo com Cappelli, houve um grave problema de ausência de comando, já que os mesmos policiais fizeram operações exitosas no dia da posse do presidente Lula (PT) e, depois, no dia 11 de janeiro, quando também se mobilizaram contra uma suspeita de novos ataques.



"O que mudou do dia 1 para o dia 8 é que Anderson Torres assume a secretaria, troca boa parte do núcleo de segurança e viaja, deixando praticamente sem comando", afirma.

Citado pelo interventor, o ex-ministro da justiça e ex-secretário de segurança pública do DF Anderson Torres estava viajando de férias nos Estados Unidos durante o ocorrido. A ida aos EUA ocorreu poucos dias após Torres assumir a SSP.


Ele foi preso pela Polícia Federal na sexta-feira (13) após voltar ao Brasil, passou por audiência de custódia e está detido no 4º batalhão da Polícia Militar do DF. A prisão de Torres foi decretara pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.


Confira abaixo o comparativo entre o efetivo disponível no dia 11, após a intervenção federal, e no dia 8, dia dos ataques:


Polícia Civil do DF


Domingo (8): 685

Quarta (11): 653

Detran


Domingo (8): 102 agentes de trânsito

Quarta (11): 170 agentes de trânsito

Corpo de Bombeiros


Domingo (8): 544 militares

Quarta (11): 830 militares

Polícia Militar


Domingo (8): 365 e 2.913 com o acionamento do sobreaviso

Quarta (11): 1096 e 205 em tropa quartelada, pronta para atuar

Ainda segundo Ricardo, a segurança de Brasília está acostumada a ver manifestações e, portanto, o ocorrido do dia 8 foi resultado de "no mínimo omissão" e que é pouco provável que tenha sido um acaso. As investigações em andamento vão apurar a participação direta ou indireta de agentes que estavam no comando da segurança da capital do país.



Os bolsonaristas golpistas chegaram ao Distrito Federal de ônibus, vindos de diversos estados do Brasil. A organização feita por eles começou muito antes dos ataques, logo após o segundo turno das eleições, em outubro, quando começaram a pedir intervenção militar em exércitos do país inteiro.


Em Brasília, houve até mesmo um acampamento no QG do Exército, que durou cerca de dois meses e só foi desmontado após os ataques à democracia. "Tudo leva a crer que não foi coincidência, que houve planejamento para que isso acontecesse", ressaltou Cappelli sobre os atos terroristas.


Investigações

As investigações ainda estão no início. A corregedoria da PM abriu, até agora, 4 inquéritos e apura a conduta dos policiais e de comandantes. "Vamos apurar e responsabilizar homens que tinham o dever de garantir a segurança", afirma o interventor.



Ricardo Cappelli comenta que já afastou grande parte do comando da PM, e que há um inquérito aberto exclusivo para apurar a conduta de todos os comandantes. O objetivo, ainda segundo ele, é fazer uma investigação "rigorosa e equilibrada".


Entender quem eram os profissionais que conheciam o funcionamento da polícia também é peça importante para descobrir quem são os financiadores dos atos golpistas e a guerra criada na comunicação, como as fake news, por exemplo.


"Esses profissionais tinham dois objetivos centrais: desmoralizar as instituições brasileiras e tentar matar um policial", afirma Cappelli.

Durante o confronto, 44 policiais ficaram feridos. O entrevistado afirma que confia na corporação atuante no DF e que não "existe hipótese de se repetir o que houve no dia 8".


"As forças de segurança complementares da união têm absoluta condição de garantir a segurança. O que aconteceu foi planejado, não foi coincidência e as investigações vão provar isso", finaliza Capelli.


Fonte: g1

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