segunda-feira, outubro 18, 2021

Pandemia de covid-19 afeta mercado funerário no Estado

Muitos imaginam que a pandemia de coronavírus provocou, de maneira trágica, um crescimento do mercado funerário. No Brasil, a Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif) registrou um aumento da demanda de 30% no comparativo do primeiro trimestre deste ano com  igual período de 2020. No RN, contudo, a busca por serviços funerários não aumentou para todas as empresas. Passado o auge, empresas vivem crise.


Venda de caixões na funerária Padre Cícero cresceu de 30 para 50 no auge da pandemia


A pandemia gerou impactos diferentes nas demandas que chegaram aos empreendimentos ouvidos pela TRIBUNA DO NORTE. Na funerária Padre Cícero, no bairro das Quintas, a venda de caixões aumentou de 30 para 50 ao mês, em média, no auge da pandemia. Em junho, foram vendidas 120 unidades, de acordo com Josué Aciole, gerente do empreendimento.


“Aqui nós atendemos também a Prefeitura do Natal. Grande parte dessa demanda de junho – cerca de 90% - estava relacionada a mortes por covid-19”, conta. Entretanto, a demanda não se manteve. “Voltamos ao patamar pré-pandemia, com vendas mensais de 30 urnas funerais. Também é importante lembrar das restrições sanitárias, que não permitiam velórios, o que limitava nossas vendas apenas a caixões”, emenda Paulo César Linhares, funcionário da funerária.


Para o presidente do Sindicato das Empresas Funerárias do Estado do Rio Grande do Norte (Sefern), Izaías Revoredo, os números registrados no Estado derivam da dificuldade em manter negócios relacionados ao setor.  “Não é muito fácil manter uma funerária, que é um empreendimento que funciona 24 horas. Muitas empresas não têm conhecimento do mercado quando se inserem nele. Mas a realidade é que os custos para se manter uma funerária são muito altos. E aí, as pessoas preferem partir para outro ramo”, explica.


Revoredo disse que o Sindicato não dispõe de dados sobre mercado local. Questionado sobre se houve, no Estado, aumento nas buscas por serviços do setor do ano passado para cá, conforme  registrado pela  Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário se repetiu no Estado, ele esclareceu:


“Nós percebemos um aumento de óbitos bem sazonal em relação ao período de março passado, em  função da pandemia. Isso pode ter resultado num aumento pela procura dos serviços funerários, mas não tenho dados em mãos”. 


A TRIBUNA DO NORTE conversou com pessoas que atuam no setor para saber como o cenário tem se desenvolvido no Estado nos últimos anos. José Wilker de Souza é gerente da Funerária Padre João Maria, do Grupo Prever. O empreendimento está localizado no bairro do Alecrim, na zona Leste de Natal.


Segundo Wilker, o cenário é considerado bom, especialmente para a venda de planos de assistência familiar, que, segundo ele, cresceu 30% nos últimos dois anos na funerária. “Com a pandemia, as pessoas começaram a se preocupar com uma maior segurança em relação ao tema. Elas veem que o plano funeral é importante. E o nosso [plano] cobre tudo: caixão, flores, preparação do corpo, tanatopraxia (procedimentos para a conservação do corpo)”, relata.


Segundo ele, 90% das pessoas que visitam a funerária, contratam o plano, que conta com preços variáveis entre R$ 25 e R$ 45. “Antes nós sofríamos muito com o preconceito das pessoas, que achavam um agouro aderir a um plano. Isso vem mudando. Hoje temos a equipe de venda na rua, mas também temos o cliente que vem até aqui para contratar um plano”, revela Wilker.


De acordo com ele, a funerária optou por priorizar menos as mortes por covid-19. “A logística aí era complicada para o traslado, que  envolvia uso de EPI, além do alto risco de contaminação”, diz.


“Também é preciso lembrar que o serviço funerário é um conjunto: caixão, translado, flores, centro de velório, anatopraxia e coroa de flores. Mas no caso da covid, o morto teria que ir direto do hospital para o cemitério e isso não resultou em demandas maiores para itens que não fossem o caixão”, complementa. 


Allan Clay, proprietário do Grupo Aliança, abriu uma funerária na Ribeira há dois meses. O empreendimento, na verdade, foi transferido da Hermes da Fonseca para o novo local a fim de atender à população de bairros como Rocas e Brasília Teimosa. Para ele, a situação pouco mudou nos últimos tempos, embora considere que o momento é bom. “Estamos indo bem. Queremos abrir uma floricultura e um salão de beleza aqui no bairro”, afirma.


Clay pontua que, no caso do empreendimento dele, não houve aumento na venda de planos de assistência familiar com a chegada da pandemia. “Nossos planos variam de R$ 30 até R$ 120. O mais simples oferece caixão, flores e traslado a até 200 km. O mais caro oferece coroa, melhor preparação do corpo e o caixão tem um material melhor”, descreve.


Setor funerário também acumula problemas

O  Rio Grande do Norte possui atualmente 149 empreendimentos funerários ativos na Junta Comercial do Estado (Jucern), um número que 

apresenta sucessivas quedas desde 2018. De acordo com os dados, há quatros anos eram 195 negócio ativos,  quantitativo que se mantinha desde 2017. Neste ano, são 149, segundo a Jucern. 


Em 2019, a Jucern registrou 183  negócios ativos relacionados ao setor no Rio Grande do Norte. No ano passado, foram 167. Natal acompanhou a tendência de queda: eram 42  empreendimentos ativos em 2017; em 2018, a Jucern registrou 41  negócios em atuação; em 2019, o número caiu para 39; no ano passado, foram 36. Em 2021, são 31.


O surgimento de novos empreendimentos com registro na Jucern também reduziu nos últimos cinco anos no Rio Grande do Norte. Eram 14  em 2017. No ano seguinte, o número foi para 13; em 2018, chegou a 16. No ano passado, com a pandemia em curso, a Jucern contabilizou a abertura de 8 empreendimentos do setor funerário. Neste ano, até o momento, são cinco.


Questionado sobre como observa o momento atual para o setor, Paulo Cesar Linhares é taxativo: “Não é favorável.  Funerária não tem isenção de nada. Eu acho que nós deveríamos ter mais apoio nesse aspecto, porque a gente paga imposto como qualquer outro negócio”, reclama. Outro ponto de descontentamento entre quem atua no setor, é o aumento dos preços dos caixões e de insumos.


“Nos últimos seis meses, o preço dos caixões subiu cerca de 20%. No caso das flores, o aumento foi de quase 30%”, enumera José Wilker de Souza, gerente da funerária Padre João Maria. “Durante o pico da pandemia, teve produto que aumentou absurdamente. A caixa de luva subiu de R$ 25 para  aproximadamente R$ 100. Agora, reduziu e está na faixa dos R$ 70”, detalha Paulo César Linhares, da funerária Padre Cícero.


José Wilker de Souza credita os aumentos à escassez de material durante o auge da pandemia e à inflação, puxada pelos reajustes da gasolina. “A gente compra as flores em Pernambuco. Isso é uma prova de que, com o aumento da gasolina, tudo é afetado. A gente se esforça para manter os preços e prefere fazer pacotes para repassar aos clientes. Porque se for colocar cada item na ponta do lápis, a gente não vende”, desabafa.


Para alguns empreendimentos, a pandemia permitiu a inserção de novos produtos para o mercado. A diretora de Negócios e Clientes do Grupo Morada, Vivianne Guimarães, destaca que, durante a crise, o cemitério, crematório e funerária Morada da Paz, lançou diversos serviços, como o atendimento remoto para clientes e homenagens póstumas (realizadas após 30 dias do falecimento do ente querido para as famílias que não puderam se despedir adequadamente e prestar homenagens pelas restrições de realização de velório). 


“Temos a funerária digital (comercialização online de todos os produtos e serviços funerários oferecidos pelo Morada da Paz, sem que o cliente precise sair de casa, desde a contratação dos serviços de funerária até a aquisição de jazigos, cremação e módulo individual) e o Morada Memória (plataforma online com a proposta de preservação da memória, reunindo fotos, vídeos e homenagens feitas por quem amava aquela pessoa em um mesmo local”, descreve Guimarães.


As inovações, segundo ela, chegaram para suprir a necessidade de as pessoas prestarem homenagens aos entes queridos de alguma forma. “Nosso papel é esse, principalmente nesse momento das perdas em contexto da pandemia”, sublinha Vivianne Guimarães.


Fonte: Tribuna do Norte

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