quinta-feira, julho 01, 2021

Menino de SC adquire anticorpos contra o coronavírus pela amamentação, aponta exame

Um exame mostrou que uma criança de 2 anos e 2 meses adquiriu anticorpos contra o coronavírus através da amamentação. A fisioterapeuta Maryucha Miranda de Oliveira, de 38 anos, recebeu as duas doses da vacina da AstraZeneca e continuou amamentando o filho. Mãe e filho são de Tubarão (SC).


"Foi comprovado a importância da amamentação e da vacina. Uma vacina com duas pessoas imunizadas", afirmou a mãe.

O caso é isolado e o teste foi feito com pedido e acompanhamento médico. Na sexta-feira (25), um exame de anticorpos neutralizantes foi feito com o sangue da criança, que possui uma doença autoimune caracterizada por baixos níveis de plaquetas no sangue, e o resultado confirmou a produção anticorpos neutralizantes contra o coronavírus, inclusive para variantes do vírus.


Maryucha tomou as duas doses da vacina contra a Covid-19 — Foto: Maryucha Miranda/Arquivo Pessoal


Segundo o secretário de Saúde de Tubarão, Daisson José Trevisol, a Secretaria de Saúde do município segue acompanhando o caso e deve notificar a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) sobre a descoberta.


"Foi confirmado. Houve a transferência de anticorpos da mãe para o filho pela amamentação, não tem outra possibilidade", disse o secretário de Saúde de Tubarão.

O resultado mostrou que Joaquim possui cerca de 20% dos anticorpos neutralizantes das variantes de Brasil, África do Sul e Japão, e há 14,7% de atividade de anticorpos neutralizantes das variantes de Wuhan e do Reino Unido.


"As vacinas induzem formação de anticorpos para a proteína Spike, que está presente em todas as variantes. Mas é importante que se saiba que um teste de anticorpos neutralizantes não é indicado para saber se a pessoa respondeu a vacina ou não, se está imune ou não. O nosso sistema imune é muito mais que isso", disse a médica infectologista, Carolina Ponzi.

A fala de Ponzi é reforçada pelo que disse a médica Luana Araújo em um série de vídeos produzidos pelo G1. Segundo ela, por diversas razões não se deve fazer teste de anticorpos para saber se a "vacina pegou". Assista:


Amamentação após vacina

Maryucha afirma que parou de amamentar Joaquim dez dias antes de realizar o exame. Segundo ela, o programado era amamentá-lo até os dois anos de idade. A decisão de estender a amamentação por cerca de 20 dias depois da segunda aplicação da vacina foi feita para garantir uma proteção maior para o filho.


"Ficamos sabendo da possibilidade de passar os anticorpos pelo leite materno, decidimos estender o mama até mais dias após a minha segunda dose que aconteceu no dia 24 de maio e fizemos o teste", disse Maryucha Miranda de Oliveira.


Maryucha afirma que parou de amamentar Joaquim 10 dias antes de realizar o teste — Foto: Maryucha Miranda/Arquivo Pessoal


1º caso da região

A médica pediatra que acompanha Joaquim e um infectologista tiveram acesso aos resultados do teste e confirmaram também a presença dos anticorpos contra a doença, conta a mãe.


Segundo o Secretário de Saúde da cidade, o médico Daisson José Trevisol, esse é o primeiro caso documentado da região.


Mais estudos

A Dive-SC informou ao G1 que ainda não foi notificada sobre "a presença de anticorpos pós-vacinação em pacientes adultos, bem como em bebês nascidos com anticorpos ou crianças que possam ter adquirido com a amamentação".


O órgão afirma ainda que a possibilidade de transferência de anticorpos de mãe vacinada e lactante para o filho ainda é objeto de estudo "e a detecção desses anticorpos na criança não necessariamente quer dizer que a criança esteja protegida da doença".


Teste de Joaquim aponta 20% de atividade de anticorpos neutralizantes contra variantes da Covid-19 — Foto: Maryucha Miranda/Arquivo Pessoal


Questionado pelo G1 SC, o Ministério da Saúde informou que ainda não há um levantamento sobre casos como o de Joaquim. O órgão disse que ainda não foi notificado sobre o caso em questão, mas que resultados como este são esperados. O Ministério da Saúde afirma que acompanha estudos sobre a vacinação contra a Covid-19 e os impactos.


Cuidados e o teste

Segundo Maryucha, que é profissional da saúde na rede municipal, o cuidado com Joaquim durante a pandemia foi grande já que ele possui Púrpura Trombocitopenica Idiopática PTI. A doença autoimune é caracterizada por níveis baixos de plaquetas, as chamadas células sanguíneas que previnem o sangramento.


"A imunidade dele é baixa. Sempre tivemos muito cuidado quanto a pandemia, apesar de semanalmente estarmos no hospital por causa da doença autoimune que ele tem e de saber que não existe ainda vacina contra a Covid-19 para a idade dele [...] sabíamos da possibilidade [de transferir os anticorpos pelo leite materno]", afirma.

Segundo a prefeitura, Maryucha tomou a primeira dose da vacina contra a doença no dia 1° de março, quando Joaquim tinha 1 ano e 11 meses. A segunda dose foi no dia 25 de maio, quando ele já havia completado 2 anos e 1 mês.


Maryucha e Joaquim — Foto: Maryucha Miranda/Arquivo Pessoal


"Fizemos [o exame] em um Laboratório em Florianópolis, porque ele faz acompanhamento semanal no hospital infantil Joana de Gusmão e não queríamos furar ele duas vezes na mesma semana. Mandamos o exame para um infectologista e para médica dele", explica a mãe.


Proteção ainda não está clara

A pediatra Joana Sacheti Freitas Donatel, que atende Joaquim, confirmou o resultado dos exames e afirma que mais estudos devem ser feitos para entender como será a atuação dos anticorpos na proteção da criança a partir de agora.


"Até o momento, não sabemos o quanto isso garante imunidade ao Joaquim. Estes anticorpos apresentam efeitos neutralizantes contra o Covid-19, sendo um potencial efeito protetor contra a infecção no Joaquim."


"Entretanto, é necessário mais estudos para podermos entender bem como funciona, por quanto tempo dura esta proteção, este anticorpo. Encontrar anticorpos no Joaquim é uma notícia promissora, porém até o momento ainda não sabemos o que isso significa na prática", concluiu a médica.

Segundo a pediatra Joana Sacheti Freitas Donatel, é possível que futuramente a família realize novos exames para saber a efetividade da presença dos anticorpos em Joaquim.


Anticorpos e amamentação

Segundo a médica infectologista, Carolina Ponzi, há estudos que mostram a presença de anticorpos do tipo IgA em mulheres lactantes que receberam vacinas contra a Covid-19. Esse tipo de anticorpo tem a capacidade de conferir a imunidade passiva da mãe para o filho, através da amamentação.


A fisioterapeuta tomou a segunda dose da vacina da Astrazeneca e seguiu com a amamentação de Joaquim por mais 20 dias — Foto: Maryucha Miranda/Arquivo Pessoal


"As vacinas induzem a formação de anticorpos, que acabam sendo excretados pelo leite materno. Isso acontece com várias vacinas, como com a vacina contra Influenza e contra a coqueluche. Portanto, é esperado que se identifiquem anticorpos contra o SARS-CoV2 em lactentes que tenham sido completamente imunizadas contra este vírus", explica a médica infectologista Carolina Ponzi.


Ainda de acordo com a médica, alguns estudos mostram que os anticorpos ficam detectáveis no leite materno por até 6 semanas.


Fonte: G1

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