quarta-feira, maio 16, 2018

Palestinos enterram mortos em confrontos na fronteira e voltam a protestar pelo 'direito de retorno'

homens carregam nesta terça-feira (15) o corpo de palestino morto em confronto com soldados israelenses na véspera na Faixa de Gaza (Foto: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
homens carregam nesta terça-feira (15) o corpo de palestino morto em confronto com soldados israelenses na véspera na Faixa de Gaza (Foto: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)

Famílias palestinas enterram nesta terça-feira (15) os corpos de parentes que foram mortos nesta segunda em confrontos na fronteira da Faixa de Gaza com Israel, dia que é considerado o mais sangrento desde a última guerra entre Israel e o Hamas, em 2014. Os palestinos também voltaram a protestar na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, onde um palestino morreu nesta terça por tiros israelenses.

A segunda terminou com 60 palestinos mortos. Dentre eles, 59 morreram por tiros de soldados israelenses. Além disso, um bebê de 8 meses morreu após a inalação de gás lacrimogêneo durante os protestos. No total, mais de 2.700 pessoas ficaram feridas, por tiros de soldados israelenses ou por inalar gás. Entre elas, 1.360 foram por tiros. Segundo o Ministério da Saúde palestino, 130 feridos estão em condição séria. Líderes palestinos qualificaram os eventos de segunda-feira como um massacre.

Familiares choram e carregam o corpo de bebê de 8 meses que morreu por inalar gás durante protesto de segunda na Faixa de Gaza (Foto: Mohammed Salem/Reuters)
Familiares choram e carregam o corpo de bebê de 8 meses que morreu por inalar gás durante protesto de segunda na Faixa de Gaza (Foto: Mohammed Salem/Reuters)

Nos confrontos, grupos de palestinos tentaram avançar contra a barreira que fica na fronteira com Israel e lançaram pedras na direção dos soldados, que responderam com tiros e bombas de gás lacrimogêneo. Israel disse estar agindo em legítima defesa para proteger suas fronteiras e comunidades. Os EUA, seu maior aliado, apoiaram tal posição, e ambos disseram que o Hamas, o grupo islâmico que comanda o enclave litorâneo, instigou a violência.

Os confrontos de segunda coincidiram com a inauguração da nova embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, a dezenas de quilômetros da fronteira entre o território palestino e Israel. A decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel e de transferir a representação diplomática de Tel Aviv para essa cidade é considerada muito polêmica, porque rompe com o consenso internacional de não reconhecer a cidade como capital da Palestina ou de Israel até que um acordo de paz seja firmado entre as duas partes.

Novos protestos
Os moradores de Gaza voltaram a protestar novamente nesta terça, dia de greve na região, diante da cerca de segurança que separa o território de Israel. Os palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia ocupada recordam nesta terça a "Nakba", a "catástrofe", como definem a criação do Estado de Israel em 1948 e o êxodo de centenas de milhares de pessoas.

Entenda o conflito no vídeo abaixo:

Na Cisjordânia, a dezenas de quilômetros da Faixa de Gaza, manifestantes queimara pneus. Os dois territórios estão separados pelo território israelense.

As autoridades israelenses mobilizaram milhares de soldados ao redor da Faixa de Gaza e na Cisjordânia pelo receio de novos distúrbios.

Barricada de pneus é incendiada nesta terça-feira (15) durante protesto em Bethlehem, na Cisjordânia (Foto: Majdi Mohammed/ AP Photo)
Barricada de pneus é incendiada nesta terça-feira (15) durante protesto em Bethlehem, na Cisjordânia (Foto: Majdi Mohammed/ AP Photo)

O Hamas, movimento islâmico que governa a Faixa de Gaza e que enfrentou Israel em três guerras desde 2008, apoia a mobilização e afirma que esta é uma iniciativa civil, um movimento pacífico. Os milhares de combatentes do grupo não utilizaram suas armas até o momento, mas um dos líderes, Khalil Al-Hayya, deu a entender que isto pode mudar.

Palestino ferido é transportado nesta terça-feira (15) durante protesto na Faixa de Gaza (Foto: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
Palestino ferido é transportado nesta terça-feira (15) durante protesto na Faixa de Gaza (Foto: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)

O exército israelense acusa o Hamas de utilizar este movimento para misturar combatentes armados entre a multidão ou para colocar artefatos explosivos na fronteira. "Qualquer atividade terrorista terá uma resposta", advertiu o governo.

Israel teme que os palestinos derrubem a cerca de segurança e entrem em seu território. O governo alertou que utilizará "todos os meios" para proteger a barreira, seus soldados e os civis. Ao mesmo tempo, o governo afirma que seus soldados só utilizam balas letais como último recurso.

ONU denuncia violência 'indiscriminada'
Israel recebeu críticas da comunidade internacional pelo uso excessivo de força na segunda-feira. O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir durante a tarde, a pedido do Kuwait.

Palestinos correm para se proteger de bombas de gás atiradas nesta segunda por tropas israelenses na fronteira entre Gaza e Israel após protestos contra a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém (Foto: Mahmud Hams/AFP)
Palestinos correm para se proteger de bombas de gás atiradas nesta segunda por tropas israelenses na fronteira entre Gaza e Israel após protestos contra a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém (Foto: Mahmud Hams/AFP)

Nesta terça, o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos denunciou que Israel mata de maneira que "parece indiscriminada" e lembrou que querer pular ou danificar uma cerca de fronteira (a Faixa de Gaza) não justifica o uso de munição letal.

"Parece que qualquer pode ser assassinado ou ferido; mulheres, crianças, repórteres, trabalhadores da área da saúde, se eles se aproximarem mais de 700 metros da cerca. Eles atiraram em um amputado duplo. Qual é a ameaça de um amputado?", afirmou o porta-voz em Genebra do Escritório, Rupert Colville.

Uma mulher palestina caminha por uma nuvem de fumaça negra de pneus em chamas durante um protesto na fronteira entre Gaza e Israel contra a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém nesta segunda-feira (14) (Foto: Khalil Hamra/AP)
Uma mulher palestina caminha por uma nuvem de fumaça negra de pneus em chamas durante um protesto na fronteira entre Gaza e Israel contra a inauguração da embaixada dos EUA em Jerusalém nesta segunda-feira (14) (Foto: Khalil Hamra/AP)

"Parece bastante claro que está se matando de forma indiscriminada", afirmou Colville. "O uso de força letal deve ser o último recurso, não o primeiro, e deve responder a uma ameaça à vida. A tentativa de pular ou danificar uma cerca, ou lançar coquetéis molotov não é claramente uma ameaça de morte", ressaltou o porta-voz.

Questão polêmica
No conflito entre Israel e palestinos, o status diplomático de Jerusalém, cidade que abriga locais sagrados para judeus, cristãos e muçulmanos, é uma das questões mais polêmicas e ponto crucial nas negociações de paz.

EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel (Foto: Karina Almeida/ Arte G1)
EUA reconhecem Jerusalém como capital de Israel (Foto: Karina Almeida/ Arte G1)

Israel considera Jerusalém sua capital eterna e indivisível. Mas os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capital de seu futuro Estado.

Apesar de apelos por parte de líderes árabes e europeus, e de advertências que a decisão poderia desencadear uma onda de protestos e violência, Trump resolveu adotar uma nova abordagem sobre o tema, considerando que mesmo com a postura anterior dos EUA, a paz na região até hoje não foi atingida.

Atualmente, a maioria dos países mantém suas embaixadas em Tel Aviv, justamente pela falta de consenso na comunidade internacional sobre o status de Jerusalém. A posição da maior parte da comunidade internacional é a de que o status de Jerusalém deve ser decidido em negociações de paz.

Soldados israelenses tentam apagar um incêndio em um campo do lado israelense da fronteira com Gaza nesta segunda (Foto: Amir Cohen/Reuters)
Soldados israelenses tentam apagar um incêndio em um campo do lado israelense da fronteira com Gaza nesta segunda (Foto: Amir Cohen/Reuters)

Fonte: G1

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