quarta-feira, agosto 26, 2015

Gari acha celular de R$ 2 mil na rua e devolve no trabalho do dono no DF

O gari Roberto Sousa Bezerra e o editor Leonardo Rodrigues  (Foto: Isabella Calzolari/G1)O gari Roberto Sousa Bezerra, de 44 anos, devolveu a um técnico de uma empresa de comunicação um celular de R$ 2,3 mil que encontrou em uma rua na área central da capital federal. O valor do aparelho
é equivalente ao dobro do salário dele. O fato ocorreu na última sexta-feira (21), quando o homem fazia uma pausa no trabalho para almoçar.

“Eu ia encostando o carrinho, que eu trabalho com ele junto com uma lixeira que tem em frente ao Venâncio 2000. Eu fui ao banheiro lavar as mãos e voltei para a gente almoçar. Quando passei, tinha um pessoal tocando forró e vi o celular no chão”, contou.

Ele afirma que, ao encontrar o telefone, tentou achar algum número no celular para ligar e avisar sobre o ocorrido, mas teve dificuldade no acesso.
“Era um bichão caro, brancão, grandão, até para abrir ele pedia a senha, então não tinha como eu ligar. Alguns minutos depois, o dono ligou, eu atendi e aí deu para devolver. Por incrível que pareça, até para atender deu trabalho.”

Os dois combinaram de se encontrar em um restaurante, mas o técnico Leonardo Rodrigues, de 32 anos, não conseguiu achar Bezerra. Foi então que o gari teve a ideia de entregar o aparelho no trabalho do dono. “Se eu ficasse com um celular desse eu não ia ficar tranquilo, sossegado, minha consciência ia ficar pesada, e graças a Deus nunca gostei de nada que não me pertence”, declarou.

“Por mais ruim que eu esteja, gosto de ter o que vem do meu suor. O que não é meu não me convém. Não me deram nada, eu achei, mas sabia que tinha um dono. Um aparelho é uma ferramenta até de trabalho, então no meu pensar tinha que entregar de toda maneira.”

Ao ter o celular devolvido, Rodrigues ficou aliviado. Como forma de agradecimento, ele insistiu em dar uma ajuda de custo ao gari de R$ 100.

“É um aparelho um pouco caro, alguém que acha às vezes quer tirar vantagem de algum jeito ou passar para frente ou ficar com ele mesmo. O Roberto é um exemplo porque por ser um gari, as pessoas não dão valor, mas ele é um belo exemplo para a profissão dele de caráter, humildade e simplicidade.”

Ele conta que acredita ter perdido o celular ao parar em um quiosque e colocar a carteira no bolso. "Nessa de colocar a carteira no bolso deve ter caído e eu não percebi. Quando cheguei no prédio onde trabalho, fui tirar o telefone para ver a hora e não estava. Voltei tranquilo para o quiosque porque achei que estava lá, mas, quando o meu amigo disse que não estava, me desesperei, porque tinha comprado o celular há dois meses."

Bezerra mora sozinho em uma casa simples em Santo Antônio do Descoberto, no Entorno do Distrito Federal. Nascido em São Paulo, ele se mudou para a região com a mãe aos 8 anos. Ele trabalha como gari há menos de um ano. Antes, ele trabalhava como servente de uma obra em Águas Claras.

Cego do olho direito após levar uma chicotada enquanto trabalhava em uma carroça aos 19 anos, ele começou engraxando sapato quando criança, depois vigiou e lavou carros, trabalhou como vendedor de picolé e, depois que ficou adulto, começou “a caçar serviço mais bruto”. Atualmente, o gari trabalha de 6h às 14h20 e acorda às 4h para pegar o ônibus. O salário líquido mensal dele é cerca de R$ 1 mil.

“É um dinheiro que a gente recebe com carinho e amor, um dinheiro digno. Nem tudo que é achado não tem dono. Não é porque que temos momentos difíceis que a pessoa deve roubar. Eu penso que tenho que me apegar com Deus, conversar com as pessoas, ir atrás.”

A gari Francilene Alves, de 28 anos, afirmou que os colegas do trabalho ficaram orgulhosos de Bezerra, mas que ela não se surpreendeu com a atitude dele. “Quando soube da história não me surpreendi porque sei que ele é desse jeito mesmo, fiquei bem feliz e alegre por ele. A gente sente orgulho. Ele é uma pessoa calada, todo na dele, é sorridente, fala com todo mundo, mas é bem reservado e uma pessoa nota 10, amigo mesmo.”

O estudante Lucas Yuri Bezerra, que devolveu carteira com R$ 1,6 mil achada no lixo no DF (Foto: Rivânia de Araújo/Arquivo Pessoal)O estudante Lucas Yuri Bezerra
(Foto: Rivânia de Araújo/Arquivo Pessoal)
Casos de honestidade
Na semana passada, o G1 divulgou a história do estudante Lucas Yuri Bezerra, de 16 anos, que não descansou até descobrir o dono da carteira que ele achou no lixo no Distrito Federal. Dentro havia R$ 1,6 mil, o orçamento de uma oficina mecânica e um telefone anotado, mas nenhum documento. O incidente aconteceu na manhã de 11 de agosto, em Samambaia.

Lucas Yuri achou a carteira no caminho para o Centro de Ensino Fundamental 312. Inquieto durante a aula, chamou a atenção da professora, que recomendou que ele procurasse a coordenação da escola. O dinheiro pertencia a um pedreiro aposentado, que por engano deixou o item no lixo quando saía para levar a mulher ao médico.

Demitida um dia antes de o filho devolver uma carteira com R$ 1,6 mil achada no lixo, a ex-profissional de marketing Cíntia Marques da Silva conta que chorou de felicidade ao ver o primogênito dar exemplo de honestidade.

Cíntia contou que o menino nasceu de um relacionamento que ela teve na adolescência. Ela chegou a morar com o pai dele, com quem teve outra menina, mas decidiu encerrar a união depois de descobrir que foi traída. A família passou necessidade, e a mulher decidiu voltar para a casa dos pais com as crianças.

Lucas Yuri, que devolveu carteira com R$ 1,6 mil achada no lixo no DF, e a mãe (Foto: Cíntia Marques da Silva/Arquivo Pessoal)Lucas Yuri, que devolveu carteira com R$ 1,6 mil achada no lixo no DF, e a mãe (Foto: Cíntia Marques da Silva/Arquivo Pessoal)

“Deixei de comer algumas vezes para dar para ele”, lembra a desempregada. “A gente passou muita coisa nessa vida, mas o Lucas sempre foi um menino muito bom. Trabalha desde o ano passado. Entrava às 5h30 e nunca reclamou. E não quer que a irmã trabalhe, quer que ela só estude. Ele me dá muito orgulho, é uma bênção.”
O garoto estuda pela manhã e trabalha no período da tarde, de segunda à sexta, como auxiliar administrativo de um hospital. Ele recebe meio salário mínimo pelo trabalho, além de pouco mais de R$ 200 de pensão dos avós paternos.

Feirante devolve maleta com aparelhos eletrônicos esquecida em banca (Foto: Reprodução/G1)Feirante devolve maleta com aparelhos eletrônicos
esquecida em banca (Foto: Reprodução/G1)
Em julho deste ano, o feirante Brunno Oliveira, de 23 anos, devolveu a um empresário de Brasília uma pasta com R$ 9 mil em aparelhos eletrônicos e dinheiro que encontrou na Feira dos Importados. Dentro dela havia R$ 1,6 mil em dinheiro, um laptop, um tablet, cartões de crédito, fones de ouvido, pen drives, um par de óculos de sol, um relógio e uma caneta de luxo.

O garoto estuda pela manhã e trabalha no período da tarde, de segunda à sexta, como auxiliar administrativo de um hospital. Ele recebe meio salário mínimo pelo trabalho, além de pouco mais de R$ 200 de pensão dos avós paternos.

Na maleta estavam equipamentos eletrônicos essenciais para a realização do trabalho como analista de sistemas. "Tinha dinheiro que tinha sacado para a pensão da minha filha, tinha carteira, cartão de crédito, uma caneta Mont Blanc que meu pai [falecido] deixou para a gente, HDs externos, pen drives, óculos escuros."

Fonte: G1

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