quinta-feira, setembro 04, 2014

China dá dinheiro para novos casamentos entre pessoas de etnias mistas

As autoridades da região de Xinjiang, na China ocidental, estão oferecendo dinheiro e outros incentivos para estimular os
casamentos entre a etnia Han dominante e as minorias, em um esforço para acalmar a crescente violência étnica na região.

Os incentivos são parte de uma nova política do município de Cherchen, no sul de Xinjiang, onde a violência entre uigures --um povo de maioria muçulmana de língua turca-- e hans piorou nos últimos anos.

Na semana passada, as autoridades do município, conhecido como Qiemo, em mandarim, começaram a oferecer, por cinco anos, parcelas de 10 mil renminbi ao ano, ou US$ 1.600 (em torno de R$ 3.500), para casais recém-casados quando um dos membros é da etnia han e o outro é de uma das 55 minorias étnicas da China. As agências de notícias oficiais chinesas disseram nesta semana que os pagamentos eram destinados a ajudar os casais a investirem em pequenas empresas e a iniciarem suas famílias.

Os casais também receberão atenção prioritária para moradias e empregos no governo, bem como outros benefícios. As famílias receberão até US$ 3.200  (R$ 7 mil) por ano em benefícios de saúde. Os filhos desses casamentos mistos terão educação gratuita do jardim de infância até o ensino médio. Jovens que frequentam escolas técnicas receberão quase US$ 500 (R$ 1.110) por ano em subsídios, e os que frequentam a universidade receberão um subsídio anual de US$ 800 (cerca de R$ 1.800).

A política anunciada no site oficial do município é semelhante a de iniciativas adotadas no Tibete. No anúncio, o prefeito do município, Yasen Nasi'er, disse que os casamentos entre as etnias eram "um passo importante para a integração harmoniosa e o desenvolvimento de todas as etnias".

Ele disse que tais casamentos tinham "energia positiva" e eram um meio pelo qual Xinjiang poderia realizar o "sonho chinês", um termo amorfo popularizado pelo presidente Xi Jinping.

James A. Millward, um estudioso de Xinjiang na Universidade de Georgetown, disse que os uigures talvez tenham uma visão diferente da política de pagamentos. "Há um perigo", disse ele, "que os esforços patrocinados pelo Estado para 'misturar' e 'fundir' sejam vistos pelos uigures na China ou pelos críticos da China em qualquer lugar como, na realidade, uma forma de assimilar os uigures na cultura han. Em outras palavras, como uma tentativa de sinizar os uigures."

"Isso está acontecendo em um momento em que muitos uigures veem políticas recentes, como a destruição da velha Kashgar em nome do desenvolvimento, a eliminação da educação em idioma uigur e a migração contínua de hans para terras tradicionais uigures em Xinjiang, como ameaças à preservação da uma cultura uigur distinta", acrescentou.

O município de Cherchen tem 10 mil habitantes, dos quais 73% são uigures e 27% são hans, de acordo com estatísticas do site do governo.

Em Xinjiang, uma região de desertos e montanhas que compõe um sexto do território da China, mais de 43% das pessoas são uigures e mais de 40% são hans, de acordo com o censo mais recente disponível, de 2000. A população han na região cresceu desde a tomada comunista da China em 1949, alimentando a ansiedade entre os uigures. Os cazaques compõem 8% da população, e o restante são huis, quirguizes e mongóis, entre outros.

Em uma reunião de alto escalão em Pequim, em maio, líderes do Partido Comunista discutiram a melhor forma de assimilar os uigures na sociedade chinesa e conter a violência em Xinjiang.

Xi, o presidente chinês e líder do partido, disse na reunião que mais uigures deveriam ser transferidos para regiões dominadas pelos hans para receberem formação e emprego. Ele disse que o partido e o Estado devem estabelecer uma "visão correta sobre a pátria e a nação" entre todos os grupos étnicos da China, para que as pessoas de todas as origens reconheçam a "grande pátria" e "o caminho socialista com características chinesas".

A promoção de casamentos entre hans e uigures é uma das políticas que emergiram a partir desse encontro, disse James Leibold, um estudioso das políticas étnicas da China da Universidade La Trobe, em Melbourne, na Austrália. Ele observou que os dados disponíveis mais recentes mostraram que apenas 1% dos uigures estavam em uma família mista, em comparação com cerca de 8% dos tibetanos. A média entre todas as etnias era mais do que 3%, mas os hans também têm uma taxa baixa, de 1,5%.

As autoridades comunistas há muito disseminam contos populares sobre casamentos mistos para arrefecer os conflitos étnicos, incluindo a história da Concubina Perfumada, uma mulher uigur que foi trazida no século 18 para a corte imperial em Pequim para ser a consorte do imperador Qianlong, de etnia manchu.

Muitos hans contam como os manchus, das florestas do nordeste, que conquistaram a China para estabelecer a dinastia Qing, acabaram por adotar costumes hans e se casaram com outras etnias, citando este como um exemplo de como a civilização chinesa han inevitavelmente absorve e assimila as outras etnias.

Em junho, o "Tibet Daily" publicou uma reportagem dizendo que Chen Qianguo, diretor do partido na Região Autônoma do Tibete, reuniu-se com 19 casais mistos e ouviu suas histórias de casamentos felizes. Chen disse que as "políticas favoráveis" a casamentos entre etnias resultou em um aumento de 666 casos em 2008 para 4.795 em 2013.

Fonte: Uol

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