terça-feira, dezembro 06, 2022

Fome afeta 56,5 milhões de pessoas na América Latina, 13,2 milhões a mais que em 2019

O número de pessoas em situação de fome aumentou em 13,2 milhões e chegou a 56,5 milhões na América Latina e Caribe entre 2019 e 2021, de acordo com um relatório da Cepal, FAO e PAM divulgado nesta terça-feira (6).


Irrigação em uma lavoura de trigo no Brasil; na América Latina, 26 países são dependentes da importação de trigo — Foto: Wenderson Araujo/Trilux/CNA


O relatório foi apresentado pelas três instituições da ONU na sede da Cepal em Santiago. O texto foi elaborado em resposta à crise alimentar mundial.


Em 2021, a insegurança alimentar afetou 40,6% da população da América Latina e do Caribe. Um total de 267,7 milhões de pessoas foram afetadas; 62,5 milhões a mais que em 2019.


Segundo o relatório, o aumento da inflação dos alimentos e da pobreza extrema é um dos fatores que aumentam a insegurança alimentar e a fome.


A inflação dos alimentos aumenta o risco de fome, e a alta do preço internacional dos produtos básicos, cujo aumento médio chegou a 11,7% em setembro passado, é repassada aos consumidores.


A alta dos preços atinge os setores mais pobres da região e aumenta o risco de problemas no acesso a uma alimentação saudável.


"Apesar de ter um superávit comercial agrícola significativo, a região da América Latina e Caribe está exposta a problemas de produção e comercialização e aumentos de preços decorrentes da guerra na Ucrânia", disse José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário-executivo da Cepal.


Importação de trigo, milho e óleo vegetal

Segundo o estudo, a maioria dos países da região importa grandes quantidades de trigo, milho e óleos vegetais, o que aumenta os riscos relacionados à guerra.


O relatório afirma que 26 países são altamente dependentes das importações de trigo, enquanto 13 são altamente dependentes das importações de milho.


Somente a Argentina é exportadora líquida de produtos agrícolas, enquanto a sub-região do Caribe é importadora líquida de praticamente todos eles.

Além disso, a Cepal estima que a incidência da pobreza extrema na região aumentará 0,2 ponto percentual em 2022 e pode atingir 81,8 milhões de pessoas.


O relatório também sustenta que as crises internacionais dos últimos 15 anos, como as tensões comerciais entre Estados Unidos e China ou a pandemia de Covid-19, comprometeram o acesso da região a alimentos e insumos essenciais, como fertilizantes para a agricultura regional.


"A fome aumentou 30% na região entre 2019 e 2021. A alta dependência da importação de fertilizantes e a variação dos preços dos alimentos têm um impacto negativo e inevitável nos meios de subsistência, principalmente da população rural, e no acesso a uma alimentação saudável", disse Mario Lubetkin, representante regional da FAO.


Alta dos fertilizantes


Assim como aconteceu com os alimentos básicos, os preços dos fertilizantes nitrogenados e fosfatados já haviam subido consideravelmente ao longo de 2021, afetando a agricultura da região.


No Brasil, por exemplo, os fertilizantes representaram 19% dos custos de produção das culturas anuais. Ao somar os agroquímicos e o combustível, chega-se a uma média de mais de 40% dos custos.


Os países latino-americanos importam cerca de 85% dos fertilizantes que usam. Nenhuma outra região do mundo depende tanto da importação de fertilizantes e, especialmente, nenhuma outra que produza e exporte tantos alimentos, diz o relatório.


Lubetkin recomendou o fortalecimento dos sistemas de proteção social nas áreas rurais, especialmente voltados para os agricultores familiares, e a eliminação das restrições ao comércio internacional de alimentos e fertilizantes, pois serão medidas fundamentais no processo de resposta à crise atual.


Fonte: France Presse

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