sábado, outubro 01, 2022

Jair Bolsonaro tenta reverter vantagem de Lula no Rio de Janeiro

Estratégico para o bolsonarismo, o Rio de Janeiro recebeu pelo menos uma visita do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, a cada semana da campanha eleitoral de 2022. O Estado tornou-se alvo prioritário do chefe do Executivo, que tenta reverter a vantagem do líder das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Estado e no País.


Presidente Jair Bolsonaro manteve uma programação, durante a campanha, constante no Rio de Janeiro


O Rio de Janeiro é ainda trincheira de alguns dos principais aliados do presidente. "A preocupação com o Rio pela campanha de Bolsonaro ocorre porque o Estado abriga os principais grupos de apoio ao presidente", explica o cientista político Marcus Ianoni, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). "É onde há prevalência de evangélicos e onde está a base do bolsonarismo. Perder no Rio de Janeiro significa perder a narrativa e sinalizar ao restante do País a fragilidade da campanha."


Um dos símbolos dessa preocupação de Bolsonaro foi a comemoração do Sete de Setembro. Em busca de votos, o presidente foi à orla de Copacabana, bairro conhecido por ser um reduto bolsonarista. Lá, em uma atitude criticada por adversários como abusiva e ilegal, fundiu a comemoração cívica com um comício eleitoral.


Outro alvo foi o público evangélico. Aliado a pastores, como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec), o presidente foi a cultos e eventos de cunho religioso. Neles, agitou fortemente a agenda de costumes, com críticas ao aborto e à descriminalização das drogas.


O esforço bolsonarista busca repetir os números alcançados por Bolsonaro no Rio na disputa presidencial passada. Em 2018, ele obteve 59,79% dos votos válidos no primeiro turno, contra apenas 14,69% do candidato do PT, Fernando Haddad. No Estado, o petista colheu um dos piores resultados do partido naquele ano: ficou em terceiro lugar.


Agora, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, Lula tem 42% das intenções de voto no Estado e Bolsonaro, 37%. Na pesquisa anterior, de 22 de setembro, Lula tinha 40%. Já Bolsonaro oscilou de 38% para 37%.


O presidente apoia os líderes na disputa ao governo e ao Senado pelo Rio: Cláudio Castro (PL), que tenta se manter no Palácio Guanabara, e Romário (PL) e busca mais um mandato no Congresso. Os dois se mantêm cerca de 10 pontos à frente dos adversários.


De acordo com a cientista política Denilde Holzhacker, autora do livro Pesquisas Eleitorais, a alta rejeição de Bolsonaro - o presidente chegou a 52% nas últimas pesquisas - impede a retomada dos patamares de votos alcançados em 2018.


"Bolsonaro tem o apoio de Castro e Romário, o que em tese ampliaria a capacidade de crescimento dele no Estado. No entanto, a alta rejeição barra essa retomada no final da campanha. Perder no seu Estado é um impacto para a história política dele e para sobrevivência pós-eleição. Rio e Minas mostram que, mesmo com a proximidade dos líderes aos governos estaduais, Bolsonaro não capitaliza", explica.


LEGISLATIVO

Além do apoio de Castro e Romário, Bolsonaro conta ainda com aliados fiéis que disputam vagas na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro denunciado por esquema de peculato, Pazuello, Waldir Ferraz, amigo antigo de Bolsonaro, e deputados da base ideológica do presidente fazem campanha pela reeleição.


O apoio, no entanto, não é revertido em intenção de voto nas pesquisas. Segundo o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, o apoio de candidatos ao Legislativo pouco influencia os eleitores para o voto presidencial. "Os candidatos a deputados contam com baixo orçamento para as campanhas. Logo, o alcance é baixo e, normalmente, em setores em que o presidente já tem o apoio. Esses candidatos falam a grupos específicos, onde Bolsonaro não tem potencial de crescimento", avalia.


Sudeste vira fator central e presidenciáveis 


Lula, Bolsonaro, Ciro e Simone Tebet investem no colégio eleitoral da região Sudeste


Os quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas priorizaram os esforços no Sudeste para conquistar votos. A região com mais de 66,7 milhões de eleitores, ou 43% do total do País, concentrou as agendas dos postulantes ao Palácio do Planalto nesta campanha. A cada dez dias de setembro, seis foram dedicados principalmente aos Estados de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Apenas no dia 16, uma sexta-feira, não houve uma aparição pública de candidatos na região.


O Sudeste impõe desafios para os líderes nas pesquisas. O petista Luiz Inácio Lula da Silva tentou ampliar a distância de Jair Bolsonaro (PL) para conquistar um eventual novo mandato já amanhã. Candidato à reeleição e vitorioso na região em 2018, o atual presidente depende do Sudeste para chegar ao segundo turno, quando precisará de tração, sobretudo em São Paulo. Uma segunda etapa entre Fernando Haddad (PT) e Rodrigo Garcia (PSDB), por exemplo, na disputa pelo Bandeirantes, deixaria o presidente sem palanque.


Já em Minas Gerais, a tentativa de levar Alexandre Kalil (PSD) para o segundo turno contra Romeu Zema (Novo) busca manter palanque para Lula caso a eleição presidencial não acabe na primeira etapa. O governador mineiro chegou a arregimentar o antipetismo, mas se afastou e agora tenta manter distância segura de Bolsonaro.


Atos de Lula e Bolsonaro na véspera do pleito, tomados como cartada final das campanhas, serão realizados neste sábado, 1º, na capital paulista, ao lado de seus candidatos ao governo de São Paulo. Lula participará de uma caminhada com Haddad na Avenida Paulista, e Bolsonaro confirmou presença em uma motociata com Tarcísio de Freitas (Republicanos), com saída da Praça Campo de Bagatelle, na zona norte.


De acordo com a Média Estadão Dados, Lula tem 40% das intenções de voto do eleitorado do Sudeste, ante 36% de Bolsonaro - uma diferença menor do que o cenário nacional, no qual a liderança do petista é de 14 pontos porcentuais.


A ideia da campanha de Bolsonaro de focar os últimos dias no Sudeste, além de dobrar a aposta em Tarcísio, é tirar a diferença necessária e empurrar a disputa para o segundo turno. A avaliação é de que o candidato do PL no Rio, Cláudio Castro, está mais descolado de Bolsonaro, e o nome que disputa o governo de Minas, Carlos Viana (PL), não decolou.


A campanha petista também marcou presença na região na reta final. Segundo o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), Lula esteve nos maiores colégios eleitorais para consolidar os votos no Sudeste e "reforçar a possibilidade de ganhar as eleições no primeiro turno". "A nossa grande campanha é para reduzir a abstenção, incentivar as pessoas a votar e despertar a vontade e disposição de votar", disse Padilha.


Ontem, Bolsonaro foi a Poços de Caldas (MG), onde participou de uma motociata. Lula, por sua vez, passou por três Estados - Rio, Bahia e Ceará, ao lado de seus candidatos aos governos locais.


Considerada um termômetro da eleição nacional, a região concentra a maior parcela do eleitorado que elegeu Lula em 2002 e Bolsonaro no último pleito. Há 20 anos, dos mais de 39,5 milhões de votos que o petista recebeu no primeiro turno, 45,9% vieram dos quatro Estados. No caso de Bolsonaro, esse porcentual foi de 48,5% de um total de 49,3 milhões de votos. Apenas em 2006 foi diferente, quando Geraldo Alckmin (PSB) recebeu quase dez pontos porcentuais (39,3% ante 48%) a mais do que Lula no Sudeste mesmo perdendo o pleito nacionalmente.


"Tudo no Sudeste tem tamanho expressivo, os indecisos dessa região, por exemplo, representam mais de 2 milhões de eleitores. Se a maioria apoiar um ou outro candidato, não há como não fazer diferença no cômputo final", afirmou o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho do instituto Ipespe.


A relevância da região se dá pela importância econômica e contingente do eleitorado. "O presidente não precisa ter o apoio do PIB para governar, mas, se tiver, pode, ao menos, dialogar com pessoas do setor", disse o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Eduardo Grin. Lula, que é de Pernambuco, radicou-se na região.


Essa força se traduz, sobretudo, na agenda dos quatro presidenciáveis que lideram as intenções de voto. O petista, que montou a própria base da campanha em São Paulo, fez aparições públicas ao menos 21 vezes ao longo de setembro na região, descontados os dias em que esteve na capital paulista para reuniões de alinhamento.


NÚMEROS


66,7 milhões de eleitores estão na região Sudeste.

43% dos eleitores do país estão na região Sudeste.


Fonte: Tribuna do Norte

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