quinta-feira, julho 02, 2020

Casos de dengue, chikungunya e zika têm quedas de até 99,3% no Rio; especialista e SMS dizem que isolamento social ajudou

O ano de 2020 será lembrado pela pandemia do novo coronavírus – só na cidade do Rio são mais de 6 mil mortos e 56 mil casos confirmados da doença. Outras patologias, no entanto, registraram queda: é o caso de reduções expressivas nos números de casos de zika, dengue e chikungunya.

Fêmea do Aedes aegypti é responsável pela transmissão da dengue, chikungunya e zika vírus — Foto: Divulgação
Fêmea do Aedes aegypti é responsável pela transmissão da dengue, chikungunya e zika vírus — Foto: Divulgação

A queda acentuada do acometimento das três doenças já vinha sendo constatada nos meses de janeiro e fevereiro. Mas, com a pandemia da Covid-19, entre março e junho, a redução foi ainda mais brusca. No período, a Prefeitura do Rio registrou queda de até 99,3% nos casos de chikungunya, em comparação com os mesmos meses de 2019.

Segundo avaliação da Secretaria Municipal de Saúde, o período de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus ajudou no combate a essas doenças.

Ainda que os números demonstrem a queda, especialistas alertam que os cuidados para evitar os criadouros do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika, devem continuar.

André Siqueira, infectologista da Fiocruz, diz que existem possibilidades de novas epidemias no Rio de Janeiro.

Comparação do período entre março e junho de 2019 e 2020:

redução de 99,3% no número de casos de chikungunya;
queda de 98,9% nos casos de zika;
redução de 97,9% nos casos de dengue.
Vale lembrar que esse é o período do ano onde os casos sempre aumentam por conta das condições climáticas. Também por isso, 2020 pode ser um marco na luta contra as arboviroses (dengue, chikungunya e zika).

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vem monitorando os casos e desde janeiro já registra uma tendência de queda em relação ao mesmo período do ano passado. A partir da transmissão comunitária da Covid-19 na cidade, com o isolamento social, essa redução ficou mais expressiva.

"Com o isolamento social e a população mais tempo dentro de casa, acreditamos que houve uma mudança de comportamento em relação aos cuidados com todo espaço da casa, principalmente a área externa, podendo ser um indicativo de redução dos criadouros de mosquito domiciliares”, explicou Nadja Greffe, superintendente de Vigilância em Saúde do Rio.
Dengue
Segundo os dados, o Rio registrou 14.648 pessoas infectadas com o vírus da dengue entre março e junho de 2019. Já em 2020, no mesmo período, foram contabilizados 307 casos. Uma redução de 97,9%. No gráfico abaixo é possível perceber que a diferença entre os dois anos aumenta no período da pandemia.

Zika
Em relação aos casos de pessoas contaminadas pelo vírus da zika, a queda no número de casos nesse período foi de 98,9%. Em 2019, a cidade registrou 805 casos da doença, entre março e junho. Em 2020, os infectados não passaram de 9.

Chikungunya
A maior redução nos números de casos ficou por conta do vírus transmissor da chikungunya, com 99,3% de queda em um ano. Se em 2019, o Rio teve 30.651 pessoas com a doença, em 2020 foram apenas 216 casos, entre março e junho.

Queda ligada a quarentena
Na opinião de André Siqueira, infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas, uma das explicações para esse fenômeno é o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19.

Siqueira concorda com a opinião da SMS, mas acrescenta também que os registros podem ter sido prejudicados, já que os pacientes com sintomas de dengue, chikungunya ou zika poderiam evitar procurar as unidades de saúde com medo do novo coronavírus. Ainda assim, o especialista considera uma vitória contra essas doenças.

"Mesmo considerando essas possibilidades, se houvesse uma explosão de casos isso seria detectado. Então de fato houve uma diminuição", comentou Siqueira.
Alerta ligado
Mesmo comemorando os dados atuais, o médico da Fiocruz não desliga o alerta. Segundo André Siqueira, existem possibilidades de novas epidemias no Rio de Janeiro. A maior preocupação no momento, é com a dengue tipo 2, que não circula no estado há mais de 10 anos.

"Como acontece todo ano, a gente esperava que no verão houvesse uma transmissão intensa de arboviroses, principalmente da dengue tipo 2, que há uma década não circula no Rio, mas foi encontrada em estados vizinhos. Existe essa preocupação com a dengue tipo 2, ela pode voltar e causar uma epidemia no Rio", alertou o infectologista.

Nova linhagem do vírus da zika
Outra preocupação dos especialistas é em relação a uma possível modificação genética do vírus da zika.

Na última semana, um estudo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs), da Fiocruz Bahia, mostrou que uma nova linhagem do vírus da zika está em circulação no Brasil.

Por meio de uma ferramenta que monitora as sequências genéticas do vírus, os cientistas detectaram, pela primeira vez no país, um tipo africano do vírus, com potencial de originar uma nova epidemia.

O Rio de Janeiro foi um dos estados onde ele foi encontrado.

"A possibilidade de uma ressurgência de zika é real, existe e deve manter a gente em alerta", lembrou André Siqueira.
Para o especialista da Fiocruz, o mais importante nesse momento é manter os cuidados para evitar os criadouros do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya.

"A gente não pode esquecer que mesmo com o coronavirus dominando, existem todas essas doenças que estão presentes e são ameaças constantes", alertou.
Dicas para combater o mosquito:
tampe os tonéis e caixas d’água;
mantenha as calhas sempre limpas;
deixe garrafas sempre viradas com a boca para baixo;
mantenha lixeiras bem tampadas;
deixe ralos limpos e com aplicação de tela;
limpe semanalmente ou preencha pratos de vasos de plantas com areia;
limpe com escova ou bucha os potes de água para animais;
retire água acumulada na área de serviço, atrás da máquina de lavar roupa;
cubra e faça a manutenção periódica de áreas de piscinas e de hidromassagem;
limpe ralos e canaletas externas;
atenção com bromélia, babosa e outras plantas que podem acumular água;
deixe lonas usadas para cobrir objetos bem esticadas, para evitar formação de poças d’água;
verifique instalações de salão de festas, banheiros e copa.

Fonte: G1

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