segunda-feira, outubro 09, 2017

Beneficiamento abre mercado e valoriza produção de tilápias do RN

Uma produção escassa decorrente de longos períodos de estiagem tem feito com que a tilápia, um peixe muito apreciado pelo consumidor do Nordeste brasileiro, seja comercializada nos próprios municípios produtores sem o beneficiamento que poderia agregar valor e garantir maior rentabilidade ao pequeno produtor potiguar. Uma abordagem sobre o beneficiamento e a comercialização da tilápia foi feita por dois especialistas para uma plateia de produtores rurais e piscicultores na abertura do Espaço Terroir do Sebrae, durante a Festa do Boi, que no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim.

O professor da Escola Agrícola de Jundiaí da UFRN e engenheiro de pesca Rodrigo Carvalho, explica que atualmente o beneficiamento é feito em pequenas unidades familiares e comercializadas no mercado local. Contudo, o Rio Grande do Norte recebe a tilápia de estados como Pernambuco e beneficia em indústrias fiscalizadas pelo Ministério de Agricultura e comercializadas para todo o país. Há em torno de dez indústrias de beneficiamento de pescado no estado.

Especialista em beneficiamento e nutrição de pescado, Rodrigo Carvalho, é vantajoso investir no processamento da tilápia, embora para o pequeno produtor às vezes seja mais vantajoso vender o peixe na feira, mesmo ficando limitado pelo pequeno volume. “O ideal seria a organização dos produtores em cooperativas ou associações e que eles beneficiassem uma quantidade maior em indústrias. Há uma capacidade ociosa de processamento de pescado que poderia ser suprida por vários produtores”, raciocina o professor.

A vantagem da indústria é realizar um processamento com maior qualidade e aproveitar todos os resíduos do peixe, porque a tilápia tem um aproveitamento em torno de 30% e a maior parte se torna resíduo, de onde se pode tirar mais 10% de carne, vísceras, espinhas e escamas que podem se transformar em produtos para alimentação animal, cosméticos e até a pele para tratamento de queimados. “Além do filé, há outros produtos que se pode fazer com a carne que sobra na carcaça do peixe, como bolinho e hambúrguer, por exemplo”, exemplifica.

Uma pesquisa de mercado com consumidores do Rio Grande do Norte apontou a higiene como requisito mais relevante no momento da compra. “Primeiro há uma preocupação maior com a higiene e depois com a conservação do produto. Isso faz com que as empresas que atendem aos requisitos dos órgãos fiscalizadores de qualidade sejam mais competitivas e tenham a preferência do consumidor”, relata Carvalho.

Segundo o professor-doutor em Oceanografia, Rodrigo Carvalho, o consumo per capta é de nove quilos de pescado por ano no Brasil, bem abaixo da média mundial que está em torno de 16 quilos por ano. “A recomendação é que cada pessoa consuma o pescado pelo menos duas vezes por semana. A questão está mais relacionada à cultura, muito embora atualmente haja um maior consumo de alimentos mais saudáveis. O peixe ainda é muito caro, principalmente o peixe de captura que passa por uma cadeia muito grande de intermediários até chegar ao consumidor final”, diz.

O engenheiro de Aquicultura, José Bernardino Sobrinho, que abordou a produção de tilápia, revelou que atualmente o peixe é produzido em pequenas quantidades no Rio Grande do Norte. A produção se restringe à região do Alto Oeste, as barragens de Santa Cruz e de Upanema. Na região de Mossoró e no litoral sul do Estado os carcinicultores estão fazendo policultivo de camarão com a tilápia. Há também um polo produtivo no Mato Grande em assentamentos rurais. O estado tem potencial para ampliar a produção, segundo Bernardino.

Produtor de tilápia em Upanema, José Bernardino explica que atualmente o custo de produção está em torno de R$ 8,00 o peixe inteiro, o que dá uma margem em torno de 20%. No comércio local e nas feiras chega a R$ 13,00 dependendo do tamanho do peixe. “O Estado importa a tilápia de São Paulo e é vendido mais barato do que o produzido aqui. Também chega peixe de 1,2 kg da Bahia que é vendido até R$ 6,80 ao consumidor final”, conta.

Quanto à demanda de consumo, o especialista em piscicultura garante que é alta, mas não há produção capaz de atender aos consumidores do peixe. Para compensar a pequena produção, o Rio Grande do Norte está importando de outros estados uma quantidade muito superior ao que se produz aqui. “Quem dita o preço é o mercado, com base na lei da oferta e da procura. Diante da importação de peixe de outros Estados, a produção local é distribuída através de intermediários que levam ao consumidor final”.

Para o pequeno produtor os custos dos insumos são muitos elevados, sobretudo em relação aos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Bernardino exemplifica: para se produzir um quilo de peixe em Upanema se gasta R$ 3,40 só com ração, enquanto no sul-sudeste se gasta entre R$ 1,60 e R$ 1,80 totalizando o dobro que se gasta naquelas regiões. “A saída é a união através do cooperativismo para competir com o peixe que vem de fora”, aponta.

A produção que estava suspensa por conta da estiagem, foi retomada em julho passado e a próxima despesca será em dezembro e deverá ser toda comercializada no município. São apenas 90 tanques-rede. Antes haviam 13 produtores associados a uma cooperativa, que foi extinta e restam apenas seis.

Segundo Bernardino, vale a pena cultivar porque o mercado consumidor em potencial. “A tilápia que produzimos tem um diferencial com ração de primeira qualidade, com alevinos grande de 30 a 40 gramas para não ter problemas de interferência ambiental na carne do peixe. Há um bom lucro que estimula o investimento no pescado”, finaliza o engenheiro aquícola.

Fonte: Portal no Ar

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