terça-feira, agosto 12, 2014

Documentário sobre tragédia na boate Kiss é exibido em Gramado

Janeiro 27 - documentário - boate Kiss - festival de Cinema de Gramado (Foto:  Edison Vara/PressPhoto)O Festival de Cinema de Gramado, na serra gaúcha, fez uma pausa na mostra competitiva de longas-metragens nacionais e ganhou contornos de denúncia na noite
desta segunda-feira (11). O documentário “Janeiro 27”, sobre o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, foi exibido no Palácio dos Festivais, fora de competição, com o objetivo de fazer um alerta para evitar que tragédias semelhantes como a que vitimou 242 pessoas se repitam ou caiam no esquecimento.
Dirigido pelos cineastas Paulo Nascimento e Luiz Alberto Cassol e produzido pelo ator Leonardo Machado, o longa-metragem é baseado em entrevistas com pais e familiares de vítimas, sobreviventes e pessoas que ajudaram no resgate de quem estava na casa noturna em 27 de janeiro de 2013, madrugada do incêndio.
“O nosso argumento foi contar a história a partir da perspectiva dos pais, de um jornalista que cobriu o evento, e Cromañón e The Station, que teve uma tragédia muito semelhante”, citou o cineasta Luiz Alberto Cassol, em entrevista coletiva poucas horas antes da exibição no Palácio dos Festivais. A referência é para as tragédias similares, ocorridas há alguns anos em boates de Buenos Aires e em Rhode Island, nos Estados Unidos.
A produção foi realizada depois de um pedido da Associação das Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), presidida por Adherbal Ferreira, que perdeu a filha de 22 anos no incêndio. Após negar dezenas de propostas para trabalhar em uma obra desse tipo, Cassol diz que aceitou o convite na intenção que as cenas daquela noite jamais se repitam.
“As pessoas diziam que eu tinha que fazer um filme sobre isso por eu ser natural de Santa Maria. Mas eu me sentia com um distanciamento histórico e emocional. Neguei a todos os convites”, comentou o cineasta. “Até que os pais me procuraram e disseram: ‘Façam um filme sobre o assunto porque isso pode cair no esquecimento’. E a gente aceitou porque foram os pais que pediram”, assinalou Cassol.
O realizador é incisivo quando diz que não se orgulha de ter um documentário com esse enredo em sua filmografia. “Eu não queria ter esse documentário na minha trajetória. Porque o documentário existe porque a tragédia aconteceu. E que não podia ter acontecido”, sustentou. “Não me orgulha nada estar aqui nesse momento. Mas já que a tragédia aconteceu, os pais fizeram o convite, e a gente aceitou, ok. E essa é a nossa bandeira”, concluiu.
O filme já foi exibido publicamente em outras situações, inclusive em Santa Maria, quando completou um ano do incêndio. Para chegar ao corte final, porém, o trabalho passou por algumas edições. “É um filme que realmente emociona. Mas nós já estamos calejados com a nossa dor, o nosso choro. Mas a quem assiste, realmente, é uma repercussão de sentimentos. Ficou um trabalho fantástico, em se tratando de produção. Triste, em se tratando do conteúdo”, avaliou Adherbal Ferreira, que também acompanhou a exibição em Gramado.

Antes do início da projeção, os familiares subiram ao palco junto com os realizadores do documentário. “Não imaginei que estaria em Gramado. Eu só queria minha filha de volta. Mas isso aconteceu. Nós precisamos seguir nossa vida com essa cicatriz no coração. E não podemos deixar isso cair no esquecimento”, ressaltou.
O Festival de Cinema de Gramado ocorre até sábado (16). Ao todo, 44 filmes disputam a mostra competitiva em quatro categorias: longa-metragem nacional, longa-metragem estrangeiro, curta-metragem nacional e curta-metragem gaúcho.
- Serviço
42ª Festival de Cinema de Gramado
Data: De 8 a 16 de agosto
Onde: Palácio dos Festivais (Av. Borges de Medeiros, 2697)
Quanto: De R$20 (sessão) a R$ 100 (premiação)

Fonte: G1

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