quarta-feira, outubro 02, 2013

Futebol feminino: a pátria sem chuteiras

Modalidade que distribui medalhas em jogos olímpicos, o futebol feminino é “prima miserável” da milionária CBF.

A Seleção Brasileira foi prata, em Atenas, mas, hoje, a situação é tão grave que quando alguém se interessa jogar com as gurias o convite precisa vir com passagem aérea para toda delegação, hospedagem e alimentação garantidas.

“Não temos dinheiro porque a Seleção feminina não é rentável”, resumiu Ronaldo dos Santos, supervisor da CBF, na audiência pública desta quarta-feira, na Comissão de Turismo e Desporto (CTD) da Câmara dos Deputados.

Anualmente, a CBF aplica R$ 4 milhões no futebol feminino. Já para a Série D do Campeonato Brasileiro são R$ 40 milhões.

Pra salvar a “pátria feminina de chuteiras” o secretário de Futebol do Ministério do Esporte, Toninho Nascimento, entrou em campo.

Conseguiu patrocínio da Caixa, R$ 10 milhões, para um campeonato com 20 times, transmissão de jogos pela Fox e acertou com a prefeitura de Foz de Iguaçu a construção de um Centro de Excelência. O terreno é da usina de Itaipu e o dinheiro virá da Lei de Incentivo ao Esporte.

E agora, vai?

Não se sabe. O ex-técnico da Seleção Brasileira, René Simões, que participou da audiência pública, disse que esse assunto não é para o governo se meter.
“O esporte de alto rendimento não deveria estar sendo discutido nesta mesa, mas nas confederações”, afirmou.

“O ponto central é a CBF. Sem tocarmos nesse ponto não vamos a lugar algum”, disse René. “Da forma como a CBF trata o futebol feminino temo uma vergonha nos Jogos Olímpicos do Rio!”…

A CBF não quer saber mesmo do assunto e nem aceita dinheiro do governo para a categoria feminina. Por isso, uma liga, por exemplo, prevista na Lei Pelé, poderá surgir para livrar o futebol feminino da CBF e dar novos rumos à modalidade.

Enquanto isso…

O sonho de Toninho Nascimento é repatriar jogadoras famosas para fortalecer a competição interna e até formar uma seleção permanente.

O gaúcho Marcos Planela, que trabalha há 20 anos com a modalidade, quer “amparo de leis para a modalidade não ficar dependente dos benefícios individuais – como o da Caixa – e temporários”. É a tese do Estado se envolvendo cada vez mais com a atividade particular.

A fragilidade do futebol feminino reflete a falta de políticas públicas para o esporte. Repete as falhas do basquete, do hadebol, do atletismo, natação etc. Não há projetos a partir da escola para incentivar a formação de atletas. E muito menos para que se torne uma prática de puro lazer.

É aí que o Ministério do Esporte aproveita a brecha. Sem planos integrados trata cada modalidade conforme a ocasião, num diálogo de cofre aberto. Este filme dura 10 anos… E no caso do futebol feminino, com forte apelo popular, pode até faltar resultados de longo prazo, mas as boas ações ministeriais poderão render votos ao partido já na próxima eleição.

Reprodução Cidade News Itaú

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