sexta-feira, fevereiro 01, 2013

Jovem na UTI se culpa por ter levado irmão à boate, diz o tio em Piracicaba

Em Piracicaba tio de vítimas de Santa Maria lê notícias da tragédia (Foto: Fernanda Zanetti/G1)
Tio de vítimas da tragédia de Santa Maria está em
Piracicaba na casa da filha (Foto: Fernanda Zanetti/G1)

Renan Garcez Biscaíno, de 22 anos, sobrevivente do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), se culpa por ter insistido e levado o irmão, que morreu na tragédia no último domingo (27), ao local. A informação foi dada nesta quinta-feira (31), em Piracicaba (SP), pelo tio das vítimas, Edelmar Tassinari Garcez, de 69 anos. Renan permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital do município gaúcho. O irmão, Cássio Garcez Biscaíno, de 20 anos, foi enterrado na segunda-feira (28).

O incêndio na boate deixou 235 mortos. O fogo começou durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que usou artefatos pirotécnicos durante o show. Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como "sputnik" atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou.
“Renan está inconformado com a morte do irmão. Ele fica perguntando aos pais como vai ser a vida da família sem o irmão, já que eles eram muito unidos. Onde um ia o outro estava junto”, contou o tio. "Durante a festa os dois estavam juntos, mas Renan foi dar uma volta e o irmão preferiu ficar próximo ao palco com os amigos que também morrerram. Foi quando começou o incêndio. Como Renan estava próximo à porta, foi resgatado. Mas Cássio não conseguiu sair."
“O Cássio não queria ir à festa. O estudante, o irmão e alguns amigos faziam compras em Rivera, no Uruguai, quando os amigos da universidade, que já estavam em Santa Maria, fizeram o convite. Ele não queira ir, mas o irmão insistiu e ele acabou indo”, contou o tio das vítimas.

Cassío Garcez Biscaíno, de 20, anos morreu na tragédia na boate em Santa Maria (Foto: Arquivo Pessoal)Cássio Garcez Biscaíno, de 20 anos, morreu na
tragédia em Santa Maria (Foto: Arquivo Pessoal)
Edelmar Garcez, que mora em Santa Maria, está em Piracicaba a convite da filha, que vive no município há cinco anos. “Nossa viagem para Piracicaba estava programada, mas adiamos alguns dias por causa da tragédia e porque precisávamos ajudar minha irmã e o meu cunhado. Eles estão arrasados”, completou. Garcez e a esposa vieram para Piracicaba para ficar com o neto, que está de férias da escola.
Notícia triste
Os pais de Renan e Cássio moram em Manoel Viana (RS), a 176 quilômetros de Santa Maria. Por conta da distância, o tio foi o primeiro a procurar pelos rapazes. “Eu e minha esposa ficamos sabendo da tragédia na hora da missa. Até ficamos tranquilos por não termos nenhum parente morando próximo. Depois, meu irmão me ligou e pediu para que procurássemos nossos sobrinhos, que estavam na boate. Eles vieram exclusivamente para a festa. Nem a mãe deles sabia que eles estavam lá.”
Busca pelos sobrinhos
“Fui direto para os hospitais e como já tinha a listagem das pessoas socorridas, foi fácil encontrar o Renan. No entanto, o nome do Cássio não estava na listagem. Tínhamos esperança de que ele ainda estivesse vivo, mas por volta das 16h do domingo recebemos a notícia de que ele estava entre os mortos", relatou o tio dos jovens.

Amigos e familiares buscam informações em frente ao Hospital de Caridade de Santa Maria (Foto: Jean Pimentel/Agência RBS)Tio relatou o caos na entrada dos hospitais em
Santa Maria (Foto: Jean Pimentel/Agência RBS)
Garcez falou como ficou Santa Maria após a tragédia na boate. “A cidade virou o caos, com pessoas gritando, chorando, pedindo socorro. Por onde andava tinha pessoas chorando, procurando por algum parente.”
“Por um bom tempo a cidade não vai ser a mesma. O Carnaval do município já foi cancelado. Hoje Santa Maria vive em função da solidariedade. As famílias estão se ajudando para se reerguerem", relatou.
Garcez falou do alívio de sair de Santa Maria. “Foi um alívio sair do caos. Lá era muita tristeza. Em todos os cantos só se falava na tragédia, era muito triste. Aqui em Piracicaba eu e minha esposa estamos evitando assistir TV para não ficarmos relembrando o que aconteceu. A única coisa que estamos fazendo é comunicar com os nossos familiares para obter notícias do meu sobrinho e do restante da família.” O aposentado e a esposa devem voltar a Santa Maria na semana após o Carnaval.

Reprodução Cidade News Itaú

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