quinta-feira, janeiro 31, 2013

Jovem que estava em boate se salvou porque colocou cabeça no freezer


Eliete e Flávio, pais de Ingrid Preigschadt Goldani, 21, mostram foto da filha internada em um hospital de Porto Alegre (RS). Ela foi uma das sobreviventes do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), e na falta da fala ainda tímida, por conta do tubo instalado em sua traqueia durante dois dias para permitir a respiração, a estudante de enfermagem recorre à mímica para tranquilizar os pais

Em meio à correria no último domingo (27) na boate Kiss, em Santa Maria, logo que o fogo começou, a jovem Ingrid Goldani, 21, teve uma ideia inusitada que acabou por garantir sua saída com vida do local. Barwoman, ela colocou o rosto dentro do freezer, na tentativa de não respirar a fumaça tóxica que se espalhou rapidamente pelo ambiente. Quando o frio apertou, foi em direção à saída.

Horas depois, já em casa, Ingrid começou a passar mal. Foi levada pela mãe, Eliete, ao hospital e em seguida internada e transferida para Porto Alegre, distante 300 quilômetros. Era o primeiro caso de pneumonite tóxica, que segundo médicos, pode levar até uma semana para se manifestar.

Outros casos como o de Ingrid se seguiram e fizeram as equipes de saúde emitirem um alerta para que todas as pessoas que estiveram no local da tragédia procurassem serviços médicos. O número de pessoas internadas chegou a crescer de terça (29) para quarta-feira (30), por causa da pneumonite.

"É preciso estar atento por uma semana", disse à Reuters o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que esteve em Santa Maria e Porto Alegre, visitando vítimas hospitalizadas, até quarta.

A tragédia já deixou 235 mortos, número que ainda pode aumentar. Das 127 pessoas hospitalizadas --dado atualizado nesta quinta pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha--, 71 estão em estado grave e respirando com a ajuda de aparelhos.

O médico Jaime Felipe Federbusch, presidente da Regional Sul da Sociedade Brasileira de Queimados, foi chamado no domingo para ajudar no socorro no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Segundo ele, o mais grave não eram as queimaduras da pele, mas a intoxicação dos pacientes com cianeto, liberado em segundos assim que o material de isolamento acústico da boate entrou em combustão.

"Aquilo (a boate) virou uma câmara de gás", diz Federbusch.

Um dos exames realizados nos pacientes, segundo ele, mostrava as paredes das vias respiratórias cobertas e entupidas de uma espessa camada preta. "Parecia que estava entrando numa chaminé", conta ele.

As pessoas, segundo ele, não se deram conta da letalidade da fumaça. Por isso alguns jovens, vistos nas imagens do lado de fora da boate tentando derrubar uma parede para ajudar nos resgates, acabaram passando mal mais tarde e morreram.



De acordo com testemunhas e sobreviventes, o fogo que começou na área do palco --segundo a polícia, por causa do uso de um artefato pirotécnico por parte da banda que tocava no local--, queimou a camada de isolamento acústico, formando uma fumaça que se espalhou em menos de três minutos pelo ambiente.

As pessoas correram para a porta de saída, ainda segundo testemunhos colhidos pela polícia, que era dividida com grades entre entrada e saída. Muitos tropeçaram ou tiveram que pular as grades antes de conseguir escapar.

O delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, responsável pelas investigações, acredita que a luz dos banheiros foi confundida com a da saída, levando centenas de pessoas para lá. Cerca de 100 corpos foram encontrados empilhados nos banheiros.

"É uma fumaça que quando inalada, a pessoa desmaia em dois minutos", disse Arigony. "Acreditamos que não haviam saídas suficientes para retirar tanta gente --estima-se que até 1.600 pessoas poderiam estar no local-- em tão pouco tempo, o que representa superlotação", acrescentou.

Reprodução Cidade News Itaú

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