terça-feira, outubro 02, 2012

Negativa familiar prejudica captação de órgãos

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Na quinta-feira (27) foi comemorado em todo o país o dia mundial da doação de órgãos. Mesmo sendo uma prática que salva vidas, muitas pessoas ainda sentem-se receosas para discutir o assunto. As redes sociais e instituições ligadas de forma direta e indireta à saúde realizaram campanhas para sensibilizar a população sobre a importância do gesto. Em Mossoró, entre as causas que dificultam a captação de córneas, fígado, entre outros, está a falta de uma equipe especializada na remoção dos órgãos, a revitalização do espaço aéreo e a autorização por parte das famílias.
Segundo a coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos (Cidotti), Antônia Ivanete, grande parte das doações que ocorrem no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM) é de córneas.
"Este ano foram doadas 10 córneas aqui do município para outras regiões do país, já que a fila de transplantes no Rio Grande do Norte para este tipo de órgão está zerada. Possuímos na cidade um médico especializado na retirada de córneas, o que facilita muito a obtenção desta. Caso a cidade tivesse uma equipe própria para realizar esse tipo de procedimento, outros órgãos como fígado, rins e coração poderiam ser obtidos com maior frequência. O esperado é que até 2013, quatro médicos da nossa Unidade Hospitalar façam um treinamento em São Paulo para auxiliar uma equipe própria do município", relatou Ivanete.
A Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Rio Grande do Norte (CNCDO - RN) informou que o maior número de captações se dá em Natal, no entanto a maior quantidade de doadores é proveniente do interior. No Estado, a média de captação de órgãos e tecidos por mês é de 12 rins, seis fígados, seis corações para processamento de válvulas e 24 córneas.
Um destes beneficiados pelo transplante de fígado foi o ex-funcionário do HRTM Geraldo de Oliveira. Segundo ele, diferentemente do que algumas pessoas pensam, o transplante ocorreu de forma muito célere.
"Eu bebia muito e devido ao meu problema prolongado com o álcool descobri que precisaria da doação de um fígado para me manter vivo. Após o tratamento de sete meses, de desintoxicação e recuperação, ingressei na fila de transplantes e dois meses depois já tinha recebido o órgão. Hoje me sinto como se tivesse nascido de novo, principalmente depois que soube que o doador era um jovem de apenas 19 anos, que nunca havia bebido na vida. Foi como se eu tivesse uma nova chance de fazer certo dessa vez".
A coordenadora do Cidotti explicou que a baixa captação de órgãos no município ocorre devido a uma série de fatores. O principal deles seria a não aceitação da doação por parte da família.
"Muitas pessoas não autorizam a doação, pois dizem não saber se o paciente era ou não doador de órgãos, grande parte dos possíveis doadores que surgem também é de outros municípios, dificultando assim o contato com os familiares para conseguir a autorização para dar início a coleta dos órgãos. Além disso, vários dos possíveis doadores são menores de idade, e tem sido muito difícil localizar os pais para permitir a doação. A lei diz que a ação só pode ser consentida com a aprovação dos genitores", relatou Ivanete. 
Especialistas dizem que descarte clínico e diagnóstico inconcluso reforçam a redução de órgãos coletados
Além da negativa por parte dos familiares, outros aspectos têm influenciado na baixa coleta de órgãos, como por exemplo, um sistema aéreo comprometido e a falta de profissionais especializados na captação.
"O processo de transplante é muito rápido, para transportar uma parte do corpo para Natal, Recife ou Fortaleza, onde é feita a cirurgia, é preciso que o órgão saia daqui em um avião, para poder chegar ao seu destino final em tempo hábil, ou seja, até 6h após a retirada do órgão do corpo. Nesse entretempo devem-se fazer exames sorológicos e laboratoriais, ou seja, o tempo fica bastante reduzido. Quando temos que fazer alguma doação o Estado nos cede um avião, desde que este já não esteja sendo usado em alguma emergência ou outro tipo de atividade".
A CNCDO-RN comunicou que de janeiro a junho deste ano houve no Estado 78 notificações de pessoas que poderiam doar seus órgãos, no entanto, destas apenas 27 tornaram-se doadores efetivos, os demais não tiveram seus órgãos captados pelos seguintes motivos: negativa familiar, descarte clínico, diagnóstico inconcluso e parada cardiorrespiratória antes da conclusão do processo de doação.
"Todas as pessoas podem doar órgãos, com exceção de portadores de doença infectocontagiosa, alguns tipos de câncer e doenças de causas desconhecidas. Para evitar dúvidas na família no momento de autorizar a doação, é importante que as pessoas conversem sobre o assunto em casa, exponham o desejo de tornarem-se doadoras. As famílias precisam refletir sobre o assunto e perceber que este gesto vai mudar a vida de muita gente", concluiu Ivanete.

Fonte: O Mossoroense/Cidade News Itaú

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