segunda-feira, dezembro 05, 2011

Baobás: as árvores imortais do Piató

Quando tinha 11 anos de idade, o pescador Chico Lucas, hoje aos 69, morador da zona rural de Assú, conheceu uma ex-escrava chamada Possidônia Moisés, já aos 104 anos, que gostava de repetir uma história antiga e longa sobre seus antepassados e a origem das árvores imortais do Piató. Ela contava que, por volta de 1600, um português de nome Zumbinha chegou às várzeas do Assú trazendo 100 escravas parideiras para produzir escravos saldáveis para o comércio. Esse homem trabalhava para um parente, de cujo nome não identificado, dono de um engenho em Pernambuco e carecia de mão de obra negra.
Possidônia disse que foram essas escravas quem plantaram os baobás da fazenda Curralinho, na localidade de Piató. Essas árvores milenares guardam em suas cicatrizes pelo menos 400 anos de história. Atravessaram secas, cheias e até uma guerra, protagonizada pela invasão dos holandeses no Rio Grande do Norte, por volta de 1630. Zumbinha utilizou os escravos e índios tapuias para combater os outros invasores, tendo como fornecedor de armas esse parente de Pernambuco.
Zumbinha morreu nos anos de 1700 e deixou a fazenda Curralinho com três filhas que nunca casaram. Quando foram morrendo, a terra foi ficando com outros parentes, que, segundo Chico Lucas, é a mesma família Freire que ainda existe em Assú. Os negros, depois de libertados com a Lei Áurea, juntaram-se a outros refugiados numa localidade chamada hoje de Bela Vista - Piató. A casa de taipa construída há mais de 400 anos continua intacta e hoje é apenas um velho baú de histórias.
Os baobás continuam crescendo e mudando a paisagem do local. Embora tenham atravessado quatro séculos, essas árvores pré-históricas são apenas bebês. Essa planta que se adapta fácil em regiões áridas, cultuada pelos sacerdotes dos povos ancestrais, pode viver até seis mil anos.
Os 11 baobás da fazenda Curralinho são uma referência na América Latina. De acordo com Haroldo Mota, responsável pela Organização Baobá, essa é a maior concentração dessas plantas adultas do Brasil. Ele conta que existem outras concentrações em Pojuca e Porto de Galinhos, em Pernambuco, mas a maioria são pequenos e, em outras regiões, são bastante espalhados. "Conheço muitos baobás no Brasil, mas nunca vi tantos em um só lugar", revelou.
Segundo o assuense Samuel Fonseca, o livro Mapas dos Baobás, do florista Gilberto Vasconcelos, lançado no dia 27 de outubro, aponta Assú como a capital nacional dos baobás, por possuir o maior número de baobás centenários juntos. O trabalho é uma pesquisa aprofundada dessa árvore no país.

Fonte: Defato

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