segunda-feira, outubro 23, 2023

Abin diz que colaborou com a Polícia Federal e que operação é retaliação pessoal; PF diz que Agência só atrapalhou

Vista da entrada da sede da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em Brasília, nesta sexta-feira, 20. — Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

A Agencia Brasileira de Inteligência (Abin), alvo de uma operação da Polícia Federal na semana passada, alega ter fornecido ao Supremo Tribunal Federal 1.800 números telefônicos rastreados pela agência durante o governo Bolsonaro. Diz ainda que pediu autorização ao ministro Alexandre de Moraes para identificar os nomes dos proprietários das linhas, mas não obteve autorização judicial. A identificação caracterizaria quebra de sigilo de dados e por isso ficou a cargo da Polícia Federal.


A Abin alega ainda que a PF só chegou aos nomes das vítimas da bisbilhotagem porque ela colaborou, fornecendo os números dos celulares. Esta não teria sido a única parceria. Em duas ocasiões, a Corregedoria do órgão entregou computadores e laptops requisitados pela própria Federal.



Na visão da Abin havia uma estreita colaboração entre as duas instituições. E que, portanto, o mais "leal e republicano", nas palavras da fonte, seria a PF fazer uma operação conjunta com a Corregedoria da Abin. Ao agir de forma isolada, a Federal teria passado a imagem de que a atual gestão é cúmplice de supostos crimes que teriam sido cometidos pela administração anterior, que tinha à frente o hoje deputado federal, Alexandre Ramagem.


"A Federal transferiu um crise que era do governo Bolsonaro para o governo Lula, por pura infantilidade e insegurança", acusa a fonte da Abin ouvida pelo blog. Já a Polícia Federal tem uma visão diferente. Acredita que quem transferiu a crise para o governo Lula foi o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Correa, ao insistir na nomeação de dois nomes que participaram da gestão Bolsonaro. O número 2 de Luiz Correa é o delegado federal Alessandro Moretii, que trabalhou na inteligência da Polícia Federal na gestão Bolsonaro.


O número 03 é Paulo Maurício Fortunato, alvo de um mandado de busca e apreensão. Em sua residência foram apreendidos o equivalente a R$ 870 mil, de origem ainda não explicada. O atual diretor geral da Polícia Federal, Andrei Passos, foi contra as nomeações e estaria agindo, na visão da Abin, para atingir a atual administração.



O que diz a Federal

A fonte da Polícia Federal ouvida pelo blog admite que a Abin repassou os números dos celulares, mas classificou de "risível" a alegação de que agência não tinha os nomes. "A Abin monitora pessoas e não números. Até uma criança de 3 anos sabe que você só controla num número porque está interessado no proprietário daquela linha".


A PF também admite que recebeu laptops da Corregedoria, mas os equipamentos vieram criptografados. Afirma ainda que mais de 30 mil acessos foram apagados para atrapalhar as investigações. A Federal acrescenta que a Abin lutou para tirar a investigação da Federal. Corta, agora, para a fonte do Abin. A pretensão da agência seria uma questão de segurança nacional e de manutenção de credibilidade do serviço de inteligência brasileiro. Muitas operações em que a ferramenta foi usada, explica a fonte da Abin, teve como parceiro serviços de inteligência estrangeiros, como no caso da prisão do espião russo. "Tinha promotor de primeira instância pedindo informações. Se isso vaza, nenhum setor de inteligência estrangeiro vai ter confiança em trabalhar com o Brasil", explica a fonte da Abin. E completa:


"Seria muito mais honesto se a Federal fizesse o que tinha que ser feito, mas ao final, divulgasse uma nota em conjunto com a Abin, ressaltando a colaboração da corregedoria na investigação. Mas não. Preferiram o espetáculo de uma busca agressiva dentro da agência, para retaliar nomes ", afirma uma fonte da Abin.


Agora entra a divergência mais espinhosa. A Abin alega que a ferramenta israelense First Mile deixou de ser usada em maio de 2021. A Federal diz que o monitoramento foi frenético na eleições municipais de 2022, inclusive atingindo funcionários do Tribunal Superior Eleitoral. O mote do golpe pretendido por Bolsonaro era lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas, dá o interesse no TSE.


Uma possiblidade que as duas fontes admitem - mas que ainda carece de investigação - é se agentes da Abin usaram o equipamento do Exército para fazer a tal bisbilhotagem. E aí, ganha uma missão no Haiti e uma GLO quem garantir que o governo Lula, na opinião do blog o presidente mais dócil com o militares desde o fim da ditadura, vai deixar a investigação chegar aos homens de farda


Fonte: g1

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