terça-feira, abril 04, 2023

Com baixo estoque de insulina de ação rápida no SUS, governo cogita volta do remédio em frasco e mira aquisição internacional


O Ministério da Saúde informou aos estados que avalia medidas para reverter a possibilidade da falta de estoque de insulina de ação rápida, em canetas, no Sistema Único de Saúde (SUS). Entre elas, uma compra internacional, que ainda está em fase de "avaliação dos documentos enviados pelas empresas" e compra de insulina em frasco.


"Diante das dificuldades apresentadas na aquisição das insulinas análogas de ação rápida, uma das alternativas propostas para evitar o desabastecimento do produto farmacêutico na Rede é a aquisição de frascos de insulina análoga de ação rápida, de forma excepcional", afirmou o Ministério em nota informativa à que a TV Globo teve acesso, enviada para gestores do SUS nesta segunda-feira (3).


"Essa alternativa de distribuição [por frascos] apenas será considerada caso as tratativas de aquisição de caneta de 3 ml não tenham resultados positivos para atendimento da Rede-SUS", ressalvou a pasta.


A insulina em frasco não é bem avaliada por entidades que representam os pacientes (veja mais abaixo).


E, caso a compra de insulina em frascos também não prospere, o Ministério estuda a substituição das canetas de insulina por insulina regular.


A insulina de ação rápida foi incorporada no SUS em fevereiro de 2017. Mas os últimos dois pregões, realizados em agosto de 2022 e fevereiro deste ano, não tiveram sucesso e as compras não foram realizadas.


Segundo o Ministério da Saúde, o estoque nas unidades dura até o final deste mês. "O estoque remanescente foi distribuído de forma equitativa a todos os estados, permitindo o abastecimento da rede até o final do mês de abril/2023, considerando os dados de estoques das Secretarias Estaduais de Saúde informados em fevereiro", segundo a nota.


As empresas participantes do pregão alegam, sobretudo, que o preço de referência para o produto está defasado e que não conseguem fazer a venda no valor máximo previsto pelo pregão. Entre outros problemas apontados pelas empresas, segundo o Ministério, está restrição na capacidade de fabricação do produto e redução mundial do fornecedor da caneta aplicadora.



A insulina é fundamental no controle da diabetes mellitus tipo 1. A doença acarreta a falha na produção de insulina, que precisa ser viabilizada de maneira artificial. A falta de insulina causa a elevação dos níveis de glicose no sangue, a hiperglicemia. Este cenário, a longo prazo, pode levar a uma série de problemas, entre eles, alterações renais, oftalmológicas e circulatórias.


O Ministério da Saúde disse avaliar ainda a possibilidade de que estados possam adquirir o medicamento e que depois sejam ressarcidos pelo governo federal.


A pasta afirma que trabalha para garantir o abastecimento regular da insulina no Brasil e que o risco de desabastecimento "originou-se por motivos que fogem da administração deste Ministério, devido à dificuldade produtiva e de fornecimento das empresas farmacêuticas que possuem registro de comercialização no Brasil."


Opção pelo frasco

A possibilidade de compra de insulina em frasco não foi bem recebida por entidades ligadas ao tema.


Vanessa Pirolo, coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e Obesidade, que integra 24 organizações sobre a diabetes, afirma que o retorno da insulina em frasco seria um retrocesso. "É um grande retrocesso para o tratamento, porque a insulina em frasco utiliza seringa. A seringa representa uma forma de transporte mais complicada, porque a temperatura interfere diretamente no funcionamento [da insulina]", disse.



"Em vez de durar 30 dias fora da geladeira, como a caneta, ela não vai poder durar nem um dia".


"A caneta tem o estojo, e a caneta protege muito mais a insulina", afirmou. "Na minha necessidade, a caneta de insulina dura uma semana fora da geladeira, um frasco nunca duraria isso."


As entidades ainda apontam que a aplicação pela seringa traz uma dificuldade extra para o usuário colocar a dose certa de insulina, principalmente para pacientes com deficiência visual, uma das consequências mais comuns da diabetes.


A última opção prevista pelo Ministério, de substituir a insulina em caneta por insulina regular, causaria ainda mais transtornos aos pacientes. As ações da insulina regular e a de ação rápida tem efeitos diferentes no corpo. A primeira, tem uma resposta mais demorada, enquanto a de ação rápida age poucos minutos depois da aplicação, o que torna a substituição um processo complexo.


"Se a insulina regular não for tomada no momento certo, ela pode acarretar um aumento brusco de glicemia e depois de hipoglicemia. Isso leva ao maior risco de complicações do diabetes", afirmou.


Fonte: g1

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