quarta-feira, novembro 30, 2022

Operação Fim da Linha: contraventores pagavam propinas a batalhões e policiais, diz MPRJ

Mensagens obtidas pelo Ministério Público nas investigações que resultaram na Operação Fim da Linha mostraram indícios de pagamento de propina para oficiais da Polícia Militar e policiais de batalhões para permitir atividades da contravenção nas Zonas Sul e Norte do Rio, como máquinas caça-níqueis, o jogo do bicho e bingos clandestinos.


Pelo menos três policiais militares foram denunciados pelo MP, acusados de fazerem parte da segurança de contraventores.


Um dos alvos dos mandados de busca e apreensão na operação desta terça-feira (29) é o ex-secretário de Polícia Militar Rogério Figueredo de Lacerda.


Ex-secretário de Polícia Militar do RJ, Rogério Figueiredo de Lacerda — Foto: Divulgação


Outros três oficiais também foram alvos de mandados de busca e apreensão, acusados de anuência ou omissão ao saber dos esquemas denunciados pelo Ministério Público.



Ao todo, nesta terça, a operação prendeu 10 pessoas.


Na investigação do Ministério Público, foram identificados três núcleos principais: o Olímpico, referente a um bingo em Copacabana, na Zona Sul; o Saens Pena, referente ao bingo na Tijuca, na Zona Norte; e o Cascadura, referente a um estabelecimento no bairro de mesmo nome.


Foi oferecida uma denúncia diferente para cada um dos núcleos, com um total de 35 pessoas denunciadas.


O g1 tenta contato com os envolvidos. Em nota, a PM disse que "não compactua com desvios de conduta e cometimento de crimes praticados por seus integrantes, punindo com rigor os envolvidos". A pasta disse ainda que a corregedoria da corporação acompanha o caso.


'Presentes'


Batalhão de Copacabana em foto de 2016 — Foto: Bernardo Tabak/G1


As investigações indicam que, durante a pandemia de Covid-19, com estabelecimentos fechados em Copacabana, os integrantes da contravenção estavam em dúvida se era necessário continuar com os pagamentos dos "presentes" aos agentes de segurança corrompidos.


Roberto Oliveira de Faria Junior, o "Betinho", era integrante do núcleo Olímpico da contravenção, referente ao bingo de mesmo nome em Copacabana, na Zona Sul do Rio.


Ele pergunta a outro denunciado, Paulo Matos, se a "opera dos presentes" deveria continuar, já que os bingos e estabelecimentos da contravenção estavam parados. "Vou saber daqui meia hora", responde o interlocutor.


Dois policiais militares foram alvos de mandados de busca e apreensão. Um deles foi identificado, através de um relatório do MP, como um possível arrecadador de propina de policiais militares do 19º BPM (Copacabana).


Em uma mensagem obtida durante as investigações, ele pergunta se um outro policial fez uma apreensão no Olympico Club, na rua Pompeu Loureiro.


Betinho também aparece em conversas com um sargento. Na conversa, Betinho diz que um amigo teve “uma parada apreendida", e que a apreensão “tá dando treta". Betinho ainda diz ao policial que lembrou dele: "Pensei em tu para ganhar um dinheiro".

Foi identificado também um pagamento através a esse mesmo policial, realizado por Betinho, em valor não especificado durante as investigações.



Área do 9º BPM

Carlos Roberto Nassar Júnior, um dos integrantes denunciados pela atuação do núcleo de Cascadura, aparece em mensagens com José Carlos de Jesus Ennes, o Carlinhos, outro denunciado.


Segundo mensagens obtidas pelo MP, o último possuía a função de realizar o pagamento de propina a policiais civis e militares.


Em uma conversa, Nassar dá uma bronca em Marco Aurélio Da Costa Scalercio, PM denunciado por ser um dos seguranças da organização.


Ele diz, de forma expressa, que o dinheiro da propina à delegacia local deve ser pego com Carlinhos.


“Não estou entendendo, Marquinho. Esses R$ 15 mil é do pagamento da pizza, irmão. Que que você está fazendo? Fala para mim. Esse, o dinheiro da Delegacia, o dinheiro da segurança, você tem que pegar com o Carlinhos. Que que está acontecendo? Fala comigo”


A pizza à qual Nassar se refere é, na verdade, um dos estabelecimentos ligados à exploração de jogos de azar.


Pagamento de R$ 4 mil a batalhão


Protesto no 6º Batalhão da PM, na Tijuca, Zona Norte do Rio, em 2017 — Foto: Henrique Coelho/G1


Em mensagens trocadas entre Flavio Teixeira Oliveira e Alexandre Cavalcante Ferreira, integrantes do núcleo da contravenção da Saens Peña, na Tijuca, na Zona Norte, há uma menção de pagamento de R$ 4 mil ao 6º BPM (Tijuca).


Em outra mensagem trocada entre Alexandre e Flávio, o primeiro diz que, entre os valores pagos para quando o bingo reabrisse na Tijuca, estava o pagamento de R$ 8 mil destinado a "pp". A sigla, segundo o MP, significa o pagamento de propina paga às polícias civil e militar.


Um outro diálogo revela que foi pago um valor de propina a um major e ao subcomandante do 6º BPM. Ruy de Oliveira Filho, outro integrante da organização criminosa denunciado, recebeu uma mensagem de um major dizendo que "estava com problemas".


"O que conversamos não está sendo colocado em prática", afirma o major. Ruy diz que o major deveria procurar um outro integrante do grupo, chamado Leo. O pagamento de propina ao major, segundo o Ministério Público, foi confirmado.


Foto tirada do celular de Carlos Roberto Nassar, denunciado pelo MP, dentro do 9ºBPM (Rocha Miranda) — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal


Em outra mensagem, em fevereiro de 2020, Ruy encaminhou para Alexandre uma mensagem do subcomandante do 6º BPM, dizendo que "as coisas mudaram um pouco" e pedindo a Ruy para "acelerar a turma".



Ruy, posteriormente, também confirma o pagamento do valor da propina ao subcomandante, feito através do denunciado Leonardo Lopes Daiha, o "Leo". Ele dá instruções para que os integrantes da contravenção paguem o valor correto a cada funcionário público:


"O subcomandante tem outro valor. Os funcionários todos têm valores"

Intermediária com oficiais

Denildes de Abreu Palhano, segundo o Ministério Público, estabelecia contatos dos contraventores do núcleo de Cascadura com os oficiais do alto escalão da Polícia Militar.


Mensagens de áudios e prints de conversas confirmam que o bicheiro Carlos Nassar acionou Denildes para interceder junto a oficiais da PM, especialmente o major Alexandre Gualberto da Silva, alvo de mandado de busca e apreensão nesta terça. O objetivo era permitir o funcionamento do Bingo Nova Cascadura.


Na conversa, ela se apresentou a Gualberto dizendo que era amiga de Figueredo, que já era comandante da Polícia Militar na época das mensagens, trocadas em fevereiro de 2019. Gualberto pergunta qual era a demanda, e Denildes afirmou que o assunto deveria ser tratado pessoalmente, mas que era de um assunto na área de atuação do major.


Posteriormente, um encontro foi marcado por Denildes, entre Nassar e Gualberto para o dia 4 de fevereiro às 8h da manhã no quartel do 9º BPM.


Em outra conversa, Nassar fica preocupado de receber voz de prisão ao se encontrar com o major Gualberto. Denildes, por sua vez, o tranquiliza, citando novamente que era amiga do Secretário de Polícia Militar e do major Rômulo.


“Parceiro, olha só, ele não vai te dar voz de prisão. Pode ficar tranquilo que ele não vai te dar voz de prisão. Você está indo lá como meu amigo. P***, ele sabe que eu sou amiga do (Rogério) Figueiredo, sou amiga do Rômulo, entendeu? Não vai te dar voz de prisão”

O encontro aconteceu no dia 4 de fevereiro dentro do 9º BPM (Rocha Miranda), como comprovam fotos tiradas por Nassar.



“Logo após o encontro entre este e Gualberto, intermediado por Denildes, houve o retorno da atividade dos citados estabelecimentos, ficando claro, portanto, que houve pagamento de propina da organização criminosa ao referido oficial da polícia militar”, diz a denúncia do Ministério Público sobre a atuação da contravenção do núcleo de Cascadura.


Fonte: g1

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