quarta-feira, junho 22, 2022

Entidade indígena da região onde Bruno e Dom foram mortos diz ser 'marcada' e temer nova 'catástrofe'

O procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliésio Marubo, afirmou nesta quarta-feira (22) que a diretoria da entidade está "marcada" e que teme uma nova "catástrofe" na região.


Eliésio Marubo, representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, em audiência no Senado — Foto: Pedro França/Agência Senado


Marubo deu as declarações ao participar de audiência na Comissão Externa do Senado que investiga os assassinatos na região do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.


Bruno, colaborador da Univaja, e Dom desapareceram no dia 5 deste mês no Vale do Javari. Dez dias depois, o governo federal anunciou ter encontrado "remanescentes humanos" no local onde as buscas eram feitas. Três suspeitos de envolvimento no caso já foram presos.


"Que país é esse que nós estamos vivendo, excelências? Quantos mais Brunos e quantos mais Doms têm que morrer? É público e notório que a diretoria da Univaja toda está marcada com a mesma marca que Bruno e o Dom. Temos que andar com segurança, temos que andar com carro blindado. Isso não é vida, nós não estamos em um país em guerra", afirmou Marubo aos senadores.


Bruno Pereira (esq.) e Dom Phillips (dir.) — Foto: Foto: TV Globo/Reprodução


Ameaças

Quando Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram, a Univaja informou que o indigenista estava recebendo constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores.


O Vale do Javari é palco de conflitos violentos. Segunda maior terra indígena do país, a região é ocupada por grupos ilegais de madeireiros, caçadores, pescadores, garimpeiros e pelo narcotráfico.


Durante a audiência, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), presidente da comissão externa, apresentou um ofício elaborado pela Univaja em abril deste ano que trazia informações sobre a presença de seis pescadores ilegais que estavam armados com espingardas calibre 16.


No documento, o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, era apontado como o responsável por comandar a equipe.


Segundo o procurador jurídico da Univaja, o ofício, elaborado dois meses antes da morte de Bruno e Dom, foi encaminhado à Funai, mas não houve nenhuma providência. Pelado foi preso em 7 de junho e confessou que participou do assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.



“Por incrível que pareça, ao que tudo indica — a depender das informações colhidas no inquérito —, a arma é a mesma que matou Bruno. A canoa é a mesma que foi utilizada para abordar. Todo o material é o mesmo”, disse Eliésio Marubo.


'Alvo' do crime organizado

Aos senadores, Marubo também disse nesta quarta-feira (22) que a entidade é "alvo" do crime organizado e que desde 2019 há um aumento da violência na região.


Segundo ele, relatórios com informações sobre as ameaças foram encaminhados para autoridades como o Ministério Público e a Polícia Federal.


"Trouxemos nossas preocupações que não foram ouvidas e o resultado foi esse: essa catástrofe que nós tivemos no Javari e certamente teremos mais. Eu estou afirmando que nós teremos mais. É importante que essa Casa atue, é importante que o Parlamento acompanhe essa situação para que a gente não continue tendo esse tipo de resultado na região do Vale do Javari", afirmou o representante da Univaja.


Funai

O presidente do grupo Indigenistas Associados (INA), Fernando Vieira, também compareceu à audiência da Comissão Externa do Senado e entregou aos senadores um documento de 200 páginas com supostas irregularidades envolvendo a Funai.



O INA é uma entidade que representa a associação de servidores da Funai e tem a participação de colaboradores indigenistas.


De acordo com Vianna, a fundação do índio é um ambiente de “perseguição, assédio, descaso e falta de diálogo” com servidores e lideranças indígenas.


“A atual gestão da Funai vem se mostrando comprometida não com os direitos indígenas e com aquilo que está na Constituição e que deveria ser o seu trabalho, mas com os interesses econômicos e dos setores que disputam a posse da terra com o indígena e que querem ingressar nas terras e se apoderam dos recursos naturais”, afirmou.


O coordenador-geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Funai, Geovanio Katukina, disse que a Funai somente soube do desaparecimento de Bruno e Phillips na manhã de 6 de junho (o dia seguinte ao desaparecimento) e que, neste momento, colocou as equipes de proteção para ajudar nas buscas. Segundo ele, na terça-feira (7), o contingente de apoio foi elevado.


“A Funai esteve presente em todo processo de busca e acompanhamento dessas equipes, juntamente com a Polícia Federal e com outras instituições que estavam presentes”, afirmou.


Ele ressaltou, ainda, que sempre houve uma necessidade de restruturação dos trabalhos de proteção na região.



“Por um período de sete anos não se teve coordenador na frente de proteção do Vale do Javari (...). Hoje temos cinco bases de proteção atuando. Pelo tamanho da região, temos que avançar em várias pautas, tanto a questão do monitoramento de isolado, como a questão do entorno. Como é uma área de fronteira acredito que é um trabalho conjunto, de Estado, tanto com a Polícia Federal, quanto o Ibama e a Funai”, disse.


Fonte: g1

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