segunda-feira, abril 18, 2022

Centrão avalia que militares usam escândalo no MEC para retomar prestígio junto a Bolsonaro - e reage

Desde que Braga Netto voltou a despachar no Palácio do Planalto, aguardando ser confirmado para vice de Jair Bolsonaro, o coração do governo voltou a ser composto por militares da confiança do presidente. Além de Braga Netto, despacham no mesmo prédio onde trabalha o presidente o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Eduardo Ramos, amigo de longa data de Bolsonaro, e Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).


O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ao lado do presidente Jair Bolsonaro em evento no Planalto. — Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo


Após Bolsonaro entregar a política do governo ao Centrão, Ramos e Heleno passaram, praticamente, a serem figuras decorativas – mas a chamada ala militar do Palácio do Planalto viu no suposto esquema de pastores do Ministério da Educação (MEC) uma janela de oportunidade para retomar influência no Planalto e também espaço na campanha de Bolsonaro, também dominada pelo grupo.



É essa avaliação feita pelos principais líderes do Centrão – e colhidas pelo blog – desde que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), comandado por Augusto Heleno, divulgou no último dia 14 que há no banco de dados da pasta 35 registros de acesso a gabinetes do Palácio do Planalto emitidos, desde o início do governo, em nome do pastor Arilton Moura, envolvido em suposto esquema de corrupção no MEC.


A lista foi divulgada um dia depois de o próprio Palácio do Planalto dizer, em resposta ao jornal "O Globo", que não poderia fornecer as informações por motivos de segurança. Na última quinta, o governo afirmou que a divulgação "é fruto de recente manifestação da Controladoria-Geral da União quanto à necessidade de atender o interesse público."


Só que a divulgação da lista, segundo o blog apurou, pegou o Centrão de surpresa – nenhum ministro político foi avisado, tampouco todos os militares que acompanham o caso e estão no governo.


Por esse motivo também, fontes do Centrão veem o que chamam de guerra de militares, patrocinada por Heleno e Braga Netto, em busca do protagonismo perdido junto ao presidente.


Em 2018, os militares eram vistos como os assessores que aconselhariam o presidente e, também o enquadrariam em caso de arroubos autoritários – o que não só nunca aconteceu como, na maioria das vezes, os militares que trabalham no governo, como Heleno e Braga Netto, avalizaram os ataques de Bolsonaro aos outros Poderes.



Para militares, com a perda de espaço, o Centrão de Valdemar Costa Neto – presidente do Partido Liberal (PL) – e Ciro Nogueira (Progressistas), ministro da Casa Civil, “ficou grande demais, com poder demais” no governo e na campanha.


Na visão do QG de Bolsonaro, no entanto, o presidente só sobreviveu politicamente quando entregou o governo ao Centrão – e, com isso, se manteve competitivo para a reeleição. Ou seja, parou de cair nas pesquisas após atender a medidas políticas e delegar a articulação política ao Progressistas e ao PL, principalmente a Ciro Nogueira.


Agora, avaliam caciques do Centrão, militares veem na crise do MEC uma janela para tentar desgastar o grupo, por meio de Nogueira, já que desde o início da crise ele tem sido alvo de reportagens do jornal "O Estado de São Paulo" apontando suspeita de ingerência no setor.


Essas reportagens do jornal, que revelou o escândalo dos pastores, motivaram também um pedido da oposição para que o ministro explique no Congresso seu envolvimento com a distribuição de verbas da Educação com fins políticos.


A resposta de Ciro Nogueira

Nem Ciro Nogueira nem Valdemar da Costa Neto falam dos militares em suas conversas sobre a polêmica.



O blog apurou, entretanto, que diante dos últimos acontecimentos, Ciro Nogueira decidiu preparar o que chama nos bastidores de um “roteiro de conversas” que usa com empresários, políticos e aliados quando fala dessa crise. Por exemplo, a aliados, ele argumenta que está sendo atacado pois:


- Repetindo o termo de sua posse, diz a aliados que é um “amortecedor” e que “amortecedor é para isso mesmo: para absorver impactos”. E que “bastou o presidente começar a pontuar melhor que alguns setores caíram em histeria”. “Primeiro, quiseram derrubar o governo com uma CPI fake [em referência ao pedido para criação da comissão para investigar o Ministério da Educação]. Não conseguiram. Daí, querem derrubar a articulação política do governo”.


- Diz que derrubou a CPI que “queria derrubar a candidatura do presidente no ano eleitoral”. Por isso, alega Nogueira, “a reação foi tentar derrubar quem agiu politicamente, como coordenador político do governo, para mostrar que não era a CPI do Bolsonaro. Era a CPI do Lula, a CPI do PT, um programa eleitoral paralelo no ano da eleição acuar o governo num mar de lama inventado para desviar a atenção do eleitor do que realmente importa: o risco da volta do PT”.



- Nogueira, nas conversas com aliados, diz que essas denúncias não visam a o “atingir pessoalmente, mas politicamente a campanha do presidente. Para enfraquecer a candidatura do presidente. Eu nunca vou ser problema. Serei sempre solução. E eu acho que a solução é reeleger o presidente Bolsonaro”.


- E fala também do adversário, ex-aliado, Lula, fazendo críticas à chapa com Alckmin. “Se eu pudesse, eu convidava o Lula e o Alckmin para irem para o nosso palanque e discursarem à vontade. Nunca tinha visto uma eleição em que o adversário fazia campanha para o outro”.


Fonte: Blog da Andreia Sadi

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