quarta-feira, agosto 18, 2021

Casos da variante delta do coronavírus devem explodir em setembro em SP, aponta projeção de ferramenta da USP e Unesp

A cidade de São Paulo deve sofrer uma nova explosão de casos de Covid-19 a partir de setembro por conta do avanço da variante delta do coronavírus, segundo análise feita por especialistas da USP e Unesp.


Movimentação no Viaduto do Chá, na região central de São Paulo (SP), nesta quarta-feira (18). — Foto: ROMEO CAMPOS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO


Os pesquisadores da plataforma Info Tracker compararam dados de regiões de outros países onde a variante delta é dominante - mesmo com a vacinação já avançada - para projetar o que deve acontecer no Rio de Janeiro e na capital paulista nas próximas semanas.


"O epicentro da delta no Brasil hoje é o Rio. São Paulo, embora ainda não tenha tido aumento exacerbado, está neste caminho. A projeção estima que deve haver essa explosão a partir da segunda semana de setembro", afirma o professor da Unesp Wallace Casaca, um dos responsáveis pela Info Tracker.

O levantamento levou em consideração os casos de Covid por cem mil habitantes em Londres, Nova York e Israel. Segundo a pesquisa, o tempo médio transcorrido entre os primeiros registros da variante delta até um aumento expressivo das novas contaminações foi de 80 dias.


"Decidimos olhar essas regiões do mundo para tentar encontrar um padrão nas curvas, e chegamos aos 80 dias. O Rio já passou esse período, então já entrou nessa escalada. Em São Paulo, temos 57 dias desde que os primeiros casos apareceram, então estamos nessa eminência", diz Casaca.



Sequenciamento genético realizado pela secretaria estadual do Rio de Janeiro já aponta que a variante delta já é predominante, com 60% das amostras. A análise realizada em São Paulo afirma que o percentual da delta é de cerca de 25% na Grande São Paulo, mas laboratório parceiro do Instituto Buantan no sequenciamento do vírus já aponta que o valor vem crescendo. (leia mais abaixo)


Diante deste cenário, especialistas em saúde temem as consequências do fim das restrições da quarentena decretado pelo governador João Doria a partir desta terça-feira (17), quando todos os setores da economia foram autorizados a funcionar sem limite de horário ou restrição de público.


Casaca também vê com preocupação a abertura neste momento, uma vez que o estado ainda tem porcentagem baixa de vacinação com a segunda dose. São Paulo vacinou 93% da população adulta com a primeira dose até esta quarta, mas o valor de segunda dose ou dose única é de 30%.


"A delta é uma cepa muito agressiva. Vemos as aberturas com muita preocupação. Temos que acelerar agora ao máximo a vacinação com a segunda dose, mas a vacina sozinha não é solução para tudo."


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Fim da quarentena em São Paulo


Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (18), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), declarou que as flexibilizações da quarentena estão ocorrendo "no tempo certo".



A defesa da reabertura do estado de São Paulo ocorre após a Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) publicar uma nota criticando as medidas de flexibilização no estado. Além da associação, especialistas independentes também se posicionaram contra o fim das restrições, entre eles antigos assessores do próprio governo estadual.


Questionado sobre as críticas, Doria disse que respeita opiniões divergentes, mas defendeu que as medidas adotadas no estado não devem estar, necessariamente, em acordo com a dos especialistas da SPI.


"Não necessariamente uma opinião tem que ser absolutamente igual à que o estado de SP adota para avançar com suas boas práticas do programa de flexibilização, de forma segura e de forma gradual. Estamos fazendo exatamente isso, e estamos no tempo certo", declarou Doria.

Desde a última terça-feira (17), todas as restrições de horário e capacidade máxima para estabelecimentos comerciais foram encerradas no estado. Mas, de acordo com dados da própria Secretaria de Saúde apresentados em coletiva de imprensa nesta quarta (18), houve aumento de 10% nas mortes na última semana epidemiológica em relação à semana anterior. Foram registradas 1.851 novas mortes no estado de 8 a 14 de agosto, contra 1.681 no período de 1 a 7 de agosto.


A média móvel diária de mortes por Covid-19 é de 258 nesta quarta-feira, valor 6% maior do que o verificado há 14 dias, o que para especialistas indica tendência de estabilidade na pandemia. Há nove dias seguidos o estado mantém tendência de estabilidade de mortes, interrompendo a sequência de queda das semanas anteriores.


Reabertura apesar da delta


Em nota publicada na noite de terça, os infectologistas da SPI declararam "extrema preocupação com as recentes medidas de flexibilização de atividades comerciais não essenciais e de entretenimento" em São Paulo.


A principal questão levantada pelos médicos é o avanço das flexibilizações mesmo em meio a chegada da variante delta.


"Entendemos que a abertura deveria ser mais gradual e lenta, face aos riscos representados pela variante delta do coronavírus", disseram os especialistas, em nota.

Questionado em coletiva de imprensa nesta quarta (18) sobre o avanço da delta, o médico João Gabbardo, que assessora o governador João Doria, disse que a variante não altera o panorama no estado de São Paulo.


Ele defendeu que o aumento de casos provocados pela variante delta verificado em outros países ocorreu pela falta de máscaras.


"Como nos outros países aconteceu isso, eles estão imaginando que, em setembro, teremos o incremento de casos e de casos graves aqui em São Paulo. Mas nós entendemos que não necessariamente, porque São Paulo não cometeu os mesmos erros que alguns países cometeram anteriormente, de terem dispensado o uso das máscaras e de terem permitido aglomerações em determinadas circunstâncias", declarou Gabbardo.


"O aparecimento de uma nova variante não muda as medidas de prevenção. As medidas que podemos tomar para evitar a transmissibilidade da doença continuam exatamente as mesmas: a redução nas aglomerações, o uso das máscaras", completou.


Crítica de infectologistas


No documento publicado na terça-feira, os médicos da Sociedade Paulista de Infectologia disseram ainda que a imunização da população adulta com a primeira dose "se mostra insuficiente para proteção contra a variante delta" e que "países com altas taxas vacinais, como Israel e os Estados Unidos, têm passado por aumento de casos e de mortes" por conta do avanço desta variante.


A delta já corresponde a pelo menos 4% dos casos confirmados de Covid-19 no estado, percentual que sobe para 25% na Grande São Paulo, segundo boletim do governo de São Paulo do dia 1º de agosto.


A proporção de casos é calculada por meio da análise genética de cerca de 600 amostras por semana, que são enviadas para uma rede de laboratórios parceiros do governo estadual. Esses laboratórios identificam qual foi a variante responsável pelo caso confirmado na amostra.


Laboratórios veem aumento da delta

Em entrevista ao G1, o presidente de um dos laboratórios parceiros do Instituto Butantan no sequenciamento do coronavírus no estado declarou que tem ocorrido um aumento na proporção de casos causados pela delta no estado nas últimas semanas.


"Está muito claro que já estamos em uma onda da delta. Com certeza essa variante será maioria das amostras aqui em São Paulo também. É inevitável, é uma questão de tempo", disse o médico geneticista David Schlesinger, CEO do meuDNA.

Para Schlesinger, os dados preliminares de casos positivos provocados pela variante delta mostram que as vacinas "reduzem drasticamente a mortalidade, mesmo da delta", mas que a variante "infecta um número mais expressivo de pessoas".


Fim de comitê de especialistas


A crítica da Sociedade Paulista de Infectologia ocorreu um dia após o anúncio da dissolução de um comitê de especialistas, o chamado Centro de Contingência para o Coronavírus, criado em março de 2020 para auxiliar as decisões políticas e sanitárias durante a pandemia de Covid-19.


O centro tinha 21 membros, entre cientistas e médicos. Na última sexta-feira (13), uma reunião consolidou a redução do grupo para apenas 9 membros, que ficarão apoiando o governador, João Doria (PSDB).


Fonte: G1

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