quarta-feira, janeiro 29, 2020

Presidente do BNDES corrige valor de auditoria e diz que banco 'não tem mais nada a esclarecer'

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, afirmou nesta quarta-feira (29) que o valor total da auditoria contratada pela instituição foi de R$ 42,7 milhões e não de R$ 48 milhões como divulgado no último dia 21.

O valor foi corrigido com base nos pagamentos feitos em dólar, pelo câmbio de cada data de aprovação, disse Montezano.

A auditoria foi contratada para investigar possíveis irregularidades em negócios do BNDES com empresas do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Porém, a apuração não encontrou irregularidades.

Na semana passada, o subprocurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, pediu ao tribunal que avalie se houve irregularidade no gasto autorizado pelo BNDES no processo de auditoria.

O BNDES contratou a auditoria entre 2017 e 2018, durante o governo do ex-presidente Michel Temer. O alvo principal eram operações realizadas em governos petistas.

Dois escritórios de advocacia foram contratados para fazer a investigação – um estrangeiro, com sede em Nova York, e outro do Rio de Janeiro.

No total, foram analisadas oito operações entre o banco e as empresas JBS, Bertin e Eldorado Celulose, entre 2005 e 2018.

Segundo o BNDES, os empréstimos somaram R$ 11,3 bilhões, o que, em valor atual (corrigido pelo IPCA), correspondem a R$ 20,1 bilhões.

Presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e diretores da instituição. — Foto: Alexandro Martello (Portal G1)
Presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e diretores da instituição. — Foto: Alexandro Martello (Portal G1)

Montezano defendeu a necessidade de investigações nesses contratos, decisão tomada pelo BNDES no passado.

"É razoável que a gente tenha uma dúvida, ou o cidadão brasileiro, quando foi dito que R$ 20 bilhões foram emprestados pelo banco a uma empresa envolvida em um dos maiores escândalos de corrupção nacional [grupo JBS] (...). É legítimo a sociedade ter essa dúvida, e a gente está aqui para esclarecer", disse.

O presidente do banco acrescentou que esse tipo de auditoria "não pode ter como objetivo acusar alguém ou provar que ninguém foi culpado".

Segundo ele, a obrigação "é com a verdade, com os fatos, e até hoje não foi encontrada nenhuma irregularidade. E para encontrar fatos, não pode torcer para nenhum dos lados".

"É importante que a verdade seja esclarecida, seja ela qual for, e o fato é que até hoje nada foi encontrado", afirmou.

Auditoria
Questionado sobre como foram fechados os contratos de auditoria, o diretor Jurídico e de Conformidade do BNDES, Saulo Puttini, afirmou que foi feita uma concorrência externa, vencida por Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP.

A companhia vencedora, por sua vez, subcontratou, sem concorrência, as empresas brasileiras Levy & Salomão e Protiviti (processamento de dados).

"Não houve contratação [concorrência] específica para esses dois braços, mas tinham de atender às exigências de habilitação", declarou Puttini.

Segundo Montezano, não há qualquer outra investigação da mesma natureza em curso no BNDES.

Sobre a possibilidade de encomendar uma investigação sobre os contratos da Odebrecht, o diretor de Compliance do BNDES, Claudenir Brito Pereira, afirmou que essa decisão dependerá da avaliação do custo benefício desse procedimento.

"Se chegarmos à conclusão de que precisamos de outra opinião, e se o custo compensar, vamos ver", afirmou Pereira.

'Caixa-preta'
O presidente Jair Bolsonaro tem defendido a investigação de irregularidades no BNDES desde a campanha eleitoral, em 2018.[

Ele prometeu "abrir a caixa-preta" da instituição financeira. Essa foi uma das missões dadas por Bolsonaro a Gustavo Montezano, que tomou posse na presidência do banco em julho.

Questionado por jornalistas sobre a conclusão a respeito da chamada "caixa-preta" do BNDES, o presidente Montezano, afirmou que, atualmente, "o banco não tem mais nada a esclarecer".

"Nossa função, como executivo, é recuperar reputação da instituição. Se você assume uma instituição do tamanho e porte do BNDES, é nossa missão endereçar esse ponto, para todo cliente, acionista, sociedade, que o banco não tenha nada a esconder. A gente fez um trabalho extenso no banco. Nada de ilegal foi encontrado no BNDES, e o banco já foi visto e revisto por diversas fontes de investigações internas e externas", disse.

Segundo ele, diante das denúncias de corrupção em governos anteriores, era "legítimo" que a população ou políticos fizessem questionamentos.

"Se no futuro surgir outra operação ou questionamento como esse, a gente virá a público", declaroou.

Montezano afirmou que, "como o tema é delicado", podem surgir novas dúvidas no futuro, que, de acordo com ele, serão respondidas.

"Entendemos que hoje não tem mais nada que seja necessário esclarecimento à população em relação aos temas do BNDES do passado. O BNDES está pronto para virar a página. Este banco tem muito a contribuir para o Brasil", concluiu.

Desembolsos e devolução de recursos
Gustavo Montezano afirmou que o resultado financeiro do BNDES e o volume de desembolsos da instituição financeira em 2019 serão divulgados somente em abril. Porém, ele antecipou que os empréstimos devem ter ficado "pouco abaixo de R$ 60 bilhões" no ano passado.

O presidente do banco informou que, em 2020, o valor dos desembolsos deve ficar próximo do patamar registrado no último ano.

"A partir de 2020, não tem meta fixa de desembolso e lucro. A meta do BNDES para esses três anos [até 2022] é estruturar projetos que levem saneamento a 20 milhões de pessoas, iluminação pública a 14 milhões de pessoas, e botar equipamento adequado para 1 milhão de alunos [nas escolas]. Não temos mais metas financeiras. O quanto o banco está desembolsando é secundário", declarou.

Questionado sobre a devolução de recursos ao Tesouro Nacional prevista para 2020, o presidente do BNDES afirmou que ainda não há um valor fixado. Ele disse que ainda está conversando com o Ministério da Economia sobre o assunto.

No passado, foram emprestados cerca de R$ 500 bilhões pelo governo ao banco público, durante os governos petistas, dos quais cerca de R$ 430 bilhões já foram devolvidos (sendo R$ 123 bilhões em 2019). Com a incidência de juros, restam R$ 165 bilhões a serem reembolsados, o que o Ministério da Economia espera que aconteça até 2022.

Fonte; G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua opinião é muito importante para nós, comente essa matéria!