sexta-feira, março 23, 2018

Fórum Mundial da Água: Palestina acusa Israel de bombardear obras para recursos hídricos

Crianças palestinas coletam água em um campo de refugiados da ONU em Jebaliya, no norte da Faixa de Gaza (Foto: Lefteris Pitarakis/AP)Os representantes da Autoridade Nacional Palestina no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, acusaram Israel de deixar os palestinos sem abastecimento. Pôsteres afixados no stand da nação árabe no evento dizem que os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, em 2014, miraram em construções de "projetos e infraestrutura para água".

Os cartazes irritaram os israelenses, que evitavam comentar o assunto. Mas o embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, disse ao G1 que as acusações são absurdas.

"Nós não viemos aqui discutir política. Viemos falar sobre tecnologia para a [gestão da] água. O Fórum Mundial da Água não é lugar disso."
Já o diretor de hidrologia da Autoridade Palestina de Águas, Omar Zayed, afirmou que os bombardeios israelenses às estruturas de recursos hídricos foram maldade. Ele disse temer que a população da Faixa de Gaza fique sem água até 2020.

"Algumas comunidades têm abastecimento para apenas algumas semanas. É um problema muito grande."

Cartaz no stand da Palestina no Fórum Mundial da Água acusa Israel de atacar instalações de recursos hídricos na Faixa de Gaza (Foto: Lucas Vidigal/G1)
Cartaz no stand da Palestina no Fórum Mundial da Água acusa Israel de atacar instalações de recursos hídricos na Faixa de Gaza (Foto: Lucas Vidigal/G1)

Números exibidos no stand palestino no Fórum Mundial da Água dizem que as perdas no setor hídrico, por causa dos bombardeios, chegam a US$ 34 milhões, equivalente a R$ 112,73 milhões segundo câmbio desta sexta-feira (23).

O conflito entre israelenses e palestinos se intensificou no final do século 19, época de migração em massa dos judeus da Europa para o território no Oriente Médio ocupado, na maioria, por árabes muçulmanos. O povoamento judaico na região acelerou a formação do estado de Israel, em 1948.

A situação piorou com a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou territórios egípcios e sírios. A questão hídrica no desértico Oriente Médio, que se arrasta desde antes da criação de Israel (veja mais abaixo), foi uma das causas do conflito, que deixou mais de 10 mil mortos.

Bombardeios
Sobre os bombardeios de 2014, os representantes israelenses disseram que as forças armadas locais apenas "se defendem de ataques palestinos".

"Se eles [os delegados palestinos] dizem que precisam da água de Israel para sobreviver, por que nós iríamos bombardear nossos próprios recursos?", indagou Alex Bekker, assessor econômico da embaixada israelense no Brasil.

De quem é a água?

Uma menina brinca em uma fonte de água do lado de fora da Cidade Velha de Jerusalém. A onda de calor em Israel atinge temperaturas de 45ºC (Foto:  Ronen Zvulun/Reuters)
Uma menina brinca em uma fonte de água do lado de fora da Cidade Velha de Jerusalém. A onda de calor em Israel atinge temperaturas de 45ºC (Foto: Ronen Zvulun/Reuters)

Os palestinos dizem não ter condições de captar água em grande quantidade para abastecer a população. Por isso, a Autoridade Palestina de Águas reconhece que compra recursos dos israelenses.

Ainda assim, o diretor palestino Omar Zayed acusou Israel de desviar água captada do Rio Jordão e do subsolo da Cisjordânia – ambos em territórios reivindicados pela Palestina. Esse desvio seria usado pelos israelenses para "tornar o deserto deles verde", enquanto é repassado “apenas 15% do volume aos palestinos”.

Segundo Zayed, a água salgada do mar se mistura ao volume "limpo" que cruza o território israelense em canos de dois metros de diâmetro, o que piora a situação hídrica local. "A população da Faixa de Gaza precisa desse abastecimento", defendeu o diretor da Autoridade Palestina de Águas.


" Lá, 97% da água é imprópria para o consumo humano."
Os representantes de Israel rechaçaram as afirmações dos vizinhos. "O subsolo da Cisjordânia não tem tanta água como eles dizem", disse ao G1 o assessor da embaixada de Israel Alex Bekker.

"Nossas captações são feitas principalmente no Lago Kineret e no Rio Jordão."
Segundo o representante israelense, o país judeu pode levar o encanamento até a fronteira com o território da Palestina. "Eles [os palestinos] não preparam a infraestrutura necessária para receber água", afirmou Bekker.

Guerra por recursos hídricos

Soldados israelenses fazem treinamento nas Colinas do Golã (Foto: AFP)
Soldados israelenses fazem treinamento nas Colinas do Golã (Foto: AFP)

A questão hídrica no Oriente Médio se acirrou em 1947, um ano antes da criação de Israel. Árabes e judeus lutavam pela ocupação da área às margens do Rio Jordão, principal fonte de abastecimento de água doce na região.

A crise se acirrou em 1967, quando Israel e Síria entraram em conflito na Guerra dos Seis Dias. Uma das consequências do conflito foi a ocupação israelense nas colinas de Golã, na fronteira entre os dois países. A neve no topo das montanhas e as nascentes existentes ali nutrem o Rio Jordão.

Até hoje, Israel ocupa as colinas de Golã. No entanto, a maior parte da comunidade internacional considera o território pertencente à Síria. Em 2016, o exército israelense bombaredeou parte da região após ataque atribuído ao Estado Islâmico (EI).

Fonte: G1

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