quarta-feira, março 14, 2018

Atacante paga própria inscrição para jogar estadual, mas narra sumiço de dinheiro

Bruno França saiu do Flamengo-PI depois de 40 dias de treino e sem atuar em nenhuma partida do Rubro-Negro no Campeonato Piauiense. Na despedida do clube, o atacante revelou o motivo de não ter vestido a camisa do time: o jogador não foi regularizado no BID, o Boletim Informativo Diário da CBF. O problema é que Bruno alega ter pago do próprio bolso a inscrição, uma quantia de R$ 2 mil, referente à taxa de transferência, além de custear a própria viagem até Teresina. Mesmo dando o dinheiro ao clube, o atleta não teve efetivado seu contrato e disse ter recebido um calote do Leão. Frustrado com a oportunidade de não jogar, Bruno lamentou o primeiro semestre perdido, prepara uma ação na Justiça do Trabalho contra o clube e acredita que tenham usado o dinheiro para pagar custos de refeição e hotel. Assista à entrevista no vídeo acima.

Atual presidente do Flamengo-PI, Everaldo Cunha, informou que a regularização não aconteceu devido a burocracias na documentação.

- Custeie R$ 1.300 de transporte até aqui e mais R$ 2.000 de taxas e transferências, que era para a inscrição e seria ressarcido. Ainda tem os dias trabalhados que não recebi. A única coisa que me passaram foi R$ 500 que fica em torno de 50% do meu transporte que é para voltar para casa. Essa nova diretoria prometeu conversar futuramente, mas não me deram nenhuma data específica, pode ser amanhã, no fim do mês, no fim do ano, eles não me prometeram nada. Só falaram que vão tentar fazer alguma coisa para me ajudar - disse Bruno.

Bruno França  (Foto: Stephanie Pacheco/GloboEsporte.com)
Bruno França (Foto: Stephanie Pacheco/GloboEsporte.com)

O atacante contabilizou os prejuízos enquanto esteve no Flamengo-PI. Além de pagar a inscrição e não jogar, Bruno França não recebeu salários. Durante o estadual, o time chegou a parar de treinar devido aos atrasos no pagamento.

- Vim contratado para o Flamengo-PI e sabia da situação parcial do clube e que eles não teriam logo no início o dinheiro da minha transferência. Concordei de arrumar esse dinheiro e depois ser ressarcido. Chegando aqui, como normalmente a gente faz, treinei, trabalhei e fiz parte do time titular nos treinos, mas na hora do jogo meu nome não aparecia no BID. Minha inscrição não tinha sido feita. E por aí foi no decorrer desses 40 dias que passei no clube. Fiquei sempre na expectativa de jogar e com a promessa que na sequência seria inscrito, que seria feito o registro e que meu nome apareceria no BID. Trabalhava para no fim de semana ir para o jogo e eles sempre tinham uma desculpa. Uma hora era o contrato que não tinha dado certo, ou que tinha divergido com a data do registro na carteira e por aí foi - relatou Bruno.

Bruno França (ao centro) treina ao lado de Levi e Fred (Foto: Stephanie Pacheco/GloboEsporte.com)
Bruno França (ao centro) treina ao lado de Levi e Fred (Foto: Stephanie Pacheco/GloboEsporte.com)

A saída de Bruno mostra a situação conturbada do Flamengo-PI na temporada, a equipe é lanterna do Piauiense e está com o terceiro técnico em oito jogos. Além do atacante, outros atletas acabaram deixando o clube pelo mesmo problema, falta de regularização no BID - casos do meia Thiago Marabá e do zagueiro Índio. A situação de Bruno foi diferente porque ele deu dinheiro ao clube para ter a situação contratual resolvida.


Com problemas financeiros, o Flamengo-PI ainda passou por uma mudança na gestão. O então presidente Tiago Vasconcelos renunciou, alegando isolamento político, assim como Dilson Resende - diretor de marketing que respondia pelo Rubro-Negro. Everaldo Cunha, vice na época, é quem comanda agora o clube.

- O que acho que realmente aconteceu foi que eles receberam esse dinheiro para fazer a inscrição e, no momento, os responsáveis não tinham dinheiro para outras questões mais apuradas do time como refeição e hotel. Creio que estavam atrasadas também - narrou Bruno.

- Nunca ficamos sem comida, mas demos de cara na porta porque os caras falavam: “aqui está atrasado enquanto não pagarem não comem”. Creio que esse dinheiro foi usado para isso aí. Fui deixado para trás - narrou Bruno, completando ter sido vítima de um "despreparo".

Bruno França  (Foto: Stephanie Pacheco/GloboEsporte.com)
Bruno França (Foto: Stephanie Pacheco/GloboEsporte.com)

- É um despreparo total de quem estava no comando. Eles não sabem e não entendem de futebol. Uma coisa é você ser torcedor e outra é você dirigir um time de futebol. A estrutura é péssima, local de trabalho é ruim e para um clube profissional precisa melhorar tudo. Só assim ter e cobrar resultados.

Além do prejuízo financeiro, o atacante deixa o Fla alegando ano perdido e dificuldade de arranjar emprego no meio da temporada.


- Sabemos que é bem difícil continuar porque dependemos do primeiro semestre para fazer um bom trabalho e dar continuidade no resto do ano. Agora ficou bem complicado de conseguir emprego em outro clube. Como vou me explicar? Passou pelo flamengo, ficou 40 dias, não foi aproveitado nenhum jogo e de repente recebeu uma despensa. Quem vai acreditar na minha história? Vão pensar que foi por questões técnicas. Fui dispensado, agradeceram e foi embora. Ficou bem difícil mesmo - disse, entristecido.

Bruno treinou por quase dois meses no Fla. Mas não jogou  (Foto: Arthur Ribeiro/GloboEsporte.com)
Bruno treinou por quase dois meses no Fla. Mas não jogou (Foto: Arthur Ribeiro/GloboEsporte.com)

O que diz o Flamengo-PI sobre Bruno França?
Responsável pelo clube, Everaldo Cunha explicou porque o atacante foi dispensado.

- A regularização dele não aconteceu por conta de que ele era de outra federação, tinha que subir do amador para o profissional aqui no Flamengo-PI. Nós da nova diretoria não tivemos tempo hábil para conseguirmos fazer isso. Nós o ajudamos com o custo da passagem de volta, pois a partir do momento em que ele não está registrado não vai nos servir. Ele não tinha contrato com o clube, então, para evitar algo pior tivemos que dispensá-lo - relatou o dirigente.

- Ele é um rapaz bom, gente boa. Queríamos ele aqui, porém, com essa situação não tivemos escolha. Não deu para ficar com ele aqui. Nós o ajudamos com a passagem para ir, mas em um futuro quem sabe possamos contar com ele - concluiu Everaldo.

Bruno espera ser ressarcido. Porém, a sensação de voltar para casa sem trabalhar, segundo ele, não tem como ser reparada.

- Eles falaram que vão estudar uma possibilidade e caso consigam recurso entram em contato comigo para chegar num valor. Nem perguntaram quanto recebei, não sei se eles tem essa informação, mas ficou somente na promessa mesmo. Fico bastante chateado. A gente sai para trabalhar, quer fazer alguma coisa e mostrar o trabalho e voltar para casa sem mesmo ter entrado em campo é bem difícil. Uma sensação ruim.

Fonte: Globo Esporte

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