'Inadmissível que falem mal de gestor como eu', diz diretor afastado do Butantan

O agora ex-diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil, disse na manhã desta quarta-feira (22) ser “inadmissível” que alguém critique um gestor público como ele. O médico desembarcou sob aplausos

no Aeroporto Internacional de Guarulhos após viagem à França e voltou a negar as denúncias contra sua gestão. Kalil ainda sugeriu que elas podem ter sido “encomendadas”.

Uma auditoria interna apontou uma série de irregularidades financeiras e administrativas no Butatan entre os anos de 2011 e 2014. O instituto é vinculado ao governo do estado de São Paulo e um dos principais centros de pesquisa do país. O afastamento de Kalil do cargo de diretor foi adiantado pelo secretário da Saúde, David Uip, nesta terça (21).

Ainda no saguão do aeroporto, Kalil disse que interrompeu sua participação em um congresso em Paris para retornar ao Brasil e se explicar. “Porque é inadmissível que falem mal de um gestor público como eu, que se dedicou e levantou o Instituto Butantan, que estava derrubado e hoje em dia tem orgulho e representação internacional importante”, justificou.

O ex-diretor lamentou a perda do cargo. Segundo o médico, a fundação Butantan estava quebrada antes de ele assumir e este ano já deve faturar R$ 1,6 bilhão. “Com esse dinheiro eu tinha muitos planos. A minha missão não tinha acabado. Mas o Doutor Uip achou que deveria acabar por aqui”, criticou.

Kalil confessou que a relação com Uip não era das melhores: “O governador Alckmin sempre me deu muito apoio. Tenho certeza que ele gostaria que eu ficasse. Há três anos Doutor Uip e eu nos toleramos e talvez seja realmente o momento de nos afastarmos. Nós temos visões muito diferentes”.

Fachada do Instituto Butantan, em São Paulo (Foto: Reprodução/ TV Globo)

Entre outros irregularidades, a auditoria interna realizada no Instituto Butantan apontou que Kalil usou o cartão corporativo em período de férias e gerou despesas de mais de R$ 30 mil em passagens aéreas para Itália e Porto Rico. O ex-diretor alega que a viagem à Itália foi para participar de um congresso e que a ida a Porto Rico sequer aconteceu de fato: foi cancelada e o valor, estornado.

O médico colocou em xeque a competência da empresa de auditoria e até a idoneidade do trabalho prestado por ela. “Sem nenhuma experiência, desconhecida completamente no mercado de auditores. Eu conheço muitas pessoas que fazem auditoria. E foi feita sem licitação. Talvez ela já veio encomendada para ver algumas coisas”, sugeriu.

Kalil afirma, no entanto, que sai “tranquilo”. “Fiz muito por essa instituição que aprendi a gostar, estimar e respeitar”, completou.

Ele contou ainda que recebeu um convite de Alckmin para continuar atuando no Butantan, mas como pesquisador. “Isso mostra muito o carinho, apreço e reconhecimento do governador ao meu trabalho. Já que ele não podia interferir sem entrar em choque com o seu secretário”. Apesar de se mostrar lisonjeado, o ex-diretor confessou que não deve aceitar.

Funcionários e pesquisadores do Butantan levaram cartazes de apoio a Kalil ao aeroporto (Foto: Gabriela Gonçalves/G1)

Auditoria

O relatório, de 186 páginas, foi concluído no instituto em 2015 e também identificou que, entre 2011 e 2014, houve falhas em processos de licitação, aumento de 1.350% no número de empregados na presidência do órgão e a construção de uma fábrica de derivados de sangue que nunca operou.

A auditoria também apontou uma mudança no estatuto da Fundação Butantan, instituição privada que administra o instituto. A alteração transferiria toda a gestão bilionária do orgão para o Instituto Butantan. Até 2015, Fundação e Instituto foram comandadas simultaneamente por Kalil.

Protestos

Funcionários e pesquisadores do Instituto Butantan receberam Kalil nesta quarta no aeroporto de Cumbica com faixas de apoio, abraços e aplausos. Um grupo já tinha realizado um protesto na manhã desta terça em defesa da gestão do agora ex-diretor. Eles bloquearam uma faixa da Avenida Vital Brasil, no sentido Francisco Morato, na Zona Oeste da capital paulista.

Fonte: G1