terça-feira, junho 02, 2015

Em clima de 'estádio', audiência na Câmara de Campinas é interrompida

Audiência na Câmara Municipal de Campinas (SP), 1º de junho de 2015 (Foto: Carlos Alciati/ G1)A Câmara Municipal de Campinas viveu clima de clássico de futebol durante a audiência pública que discutiu, nesta segunda-feira (1º), a inclusão na Lei Orgânica do projeto de resolução que veta
discussões sobre ideologia de gênero em escolas municipais da cidade. Cartazes, vaias, faixas e gritos de protestos foram usados por dois lados do público presente na casa, cerca de 200 pessoas entre quem é contra ou a favor o veto de autoria do vereador Campos Filho (DEM).

Com os ânimos dos presentes ao plenário exaltados, a audiência não terminou e haverá uma nova reunião para dar continuidade ao debate, ainda sem data definida. O último a discursar foi o juiz Fábio de Toledo, cujo espaço foi cedido pelo vereador Joziel Silva (PP). Na rápida fala, interrompida por vaias e gritos de "assassino", o jurista viu o público presente trocar ofensas como em um jogo de futebol e, com a audiência encerrada, decidiu conversar com representantes dos grupos contrários ao veto.

Purpurina

"Não quero acreditar que o projeto vai proibir se mencionar em uma escola o que é uma ideologia do gênero. Se proibisse de fazê-lo, penso que seria inconstitucional este projeto. O que se queria era fazer apologia à ideologia do gênero como uma visão completa de ser humano na sua vivência da sexualidade, a isso que nós nos opomos", explicou Toledo, que ficou com o terno coberto por purpurina jogada pelos manifestantes. "Vou para casa feliz por estar banhado de purpurina, pois queria debater de igual para igual", disse.

A audiência desta segunda-feira abriu espaço de manifestação para todas as vozes. A tribuna contou com vereadores que se opõem ao projeto, representantes de coletivos feministas e LGBT, além dos vereadores que apoiam o projeto e os seus convidados. Cartazes defendendo a discussão sobre ideologia de gênero dividiam espaço com faixas que traziam a palavra "família". Logo nos primeiros minutos o clima de "torcida" causou a interrupção da audiência, com empurra-empurra e gritos dos dois lados.
De acordo com um dos representantes do grupo Domínio Público, gritos racistas foram entoados contra manifestantes negros. "Eles gritaram 'negro fede' para nossos colegas. Isso nos causou muita revolta", explicou Guilherme Azevedo, que usava saias para protestar a favor da ideologia de gêneros.

Do lado favorável ao veto, o público reclamou por conta de um dos manifestantes ter atirado purpurina sobre eles. "Eles são muito radicais, não aceitam qualquer opinião contrária", disse Vera Bellini, que levou um cartaz "em defesa da família". Cerca de cinco pessoas promoveram um 'beijaço' como forma de protesto. Duas representantes à mesa também se beijaram durante o discurso do vereador Campos Filho.

Vaias na "arquibancada"

O público contrário à proposta vaiou de maneira mais intensa o discurso de Campos, Jorge Schneider (PTB) e do representante do Observatório Interamericano de Biopolítica, Enrico Misasi. "Homossexuais são categorias abstratas", disse Misasi momentos antes de ser interrompido por vaias. "O que se quer é colocar a ideologia de gênero no lixo, que é o lugar onde ela deve estar", discursou Campos pouco antes de ter a fala engolida por gritos e vaias.
"Isso [vaias do público] faz parte da democracia, o assunto é tão caliente que a adrenalina vem. [A acusação de que] é uma emenda que se proíbe a discussão não é verdade, a discussão aconteceu aqui", disse o vereador Campos Filho. Os representantes dos grupos à mesa também viraram a cadeira durante a fala do vereador.
"A medida é antidemocrática, pois a diversidade existe, sim. Queremos dar visibilidade para que uma barbaridade desta não seja aprovada em Campinas. Eles trouxeram teólogos para falar na última sessão [dia 29], mas o estado é laico. A diversidade religiosa não deve se opor às políticas públicas", protestou a professora Carolina Figueiredo, representante do grupo Rosa Lilás.

Após todo o processo de discussão e legalidade, a aprovação do veto depende de votação única (17 dos 32 votos), e a decisão em plenário deve ocorrer somente no segundo semestre, informou a Câmara Municipal.


Fonte: G1 

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